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Funaro assina delação, e Janot deve usar acordo em nova denúncia contra Temer

13.jul.2017 -  O doleiro Lucio Funaro chega em uma viatura da PF ao prédio da Justiça Federal em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress
13.jul.2017 - O doleiro Lucio Funaro chega em uma viatura da PF ao prédio da Justiça Federal em Brasília Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Fabio Serapião, Beatriz Bulla e Fábio Fabrini

Brasília

22/08/2017 15h55Atualizada em 22/08/2017 16h44

O corretor Lúcio Bolonha Funaro assinou um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) no qual vai detalhar sua atuação como operador financeiro do PMDB da Câmara dos Deputados. O grupo político é liderado pelo presidente Michel Temer e tem como principais integrantes os atuais e ex-ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves. Além deles, outro importante representante dos peemedebistas da Câmara é o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba por ordem do juiz Sérgio Moro. O acordo foi assinado na tarde desta terça-feira (22), na sede da PGR.

Para ter validade, o acordo de colaboração premiada ainda precisa ser homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

As revelações de Funaro serão utilizadas nas denúncias contra Temer que Rodrigo Janot deve oferecer antes de deixar a Procuradoria. Denunciado por corrupção passiva, o presidente é investigado ainda em inquéritos que apuram os crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa. Nos dois casos, o corretor deve contribuir com informações.

Os temas dos anexos entregues por Funaro foram aceitos por Janot e a partir desta semana ele inicia uma rodada de depoimentos aos procuradores da Lava Jato. Para facilitar a logística, o corretor novamente deixou o Complexo Penitenciário da Papuda e está na Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

Funaro chegou na PF na segunda-feira (21). Passou a tarde conversando com a equipe do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela negociação. Por volta das 18h, recebeu a visita do delegado Marlon Cajado, responsável pela investigação da operação Patmos, desdobramento da delação da JBS. Após uma conversa, os dois saíram em uma viatura da PF com destino à Procuradoria-Geral da República onde foi realizada uma última conversa na qual o conteúdo do acordo foi fechado.

Entretanto, Funaro e PGR modificaram algumas cláusulas da minuta do acordo o que arrastou a assinatura para esta terça-feira. Na tarde de hoje, Funaro chegou a ir para a Justiça Federal de Brasília onde teria uma audiência da ação penal da Operação Sepsis, na qual foi preso em 1º de julho de 2016.

No local, Funaro e seu advogado, Bruno Espiñeira, informaram ao juiz Vallisney de Souza Oliveira o compromisso agendado para assinatura do acordo na PGR. Por volta das 13h25 o corretor deixou o prédio da Justiça e seguiu para PGR em uma viatura da Polícia Federal onde assinou a colaboração premiada.

Temas

Funaro promete explicar aos investigadores como o PMDB da Câmara atuava em órgãos públicos sob o controle de seus integrantes. O corretor foi alvo de duas operações, a Sépsis e a Cui Bono?. A primeira apura sua atuação no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o Fi-FGTS, e a segunda mira sua influência na vice-presidência de pessoas jurídica das Caixa durante a gestão de Geddel Vieira Lima.

Estão na mira dessas duas investigações grandes grupos econômicos como a holding J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e as empresas da família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas.

Só do Grupo J&F, segundo planilha entregue por Joesley Batista em sua delação, Funaro recebeu cerca de R$ 170 milhões nos últimos 12 anos. À Lava Jato, o corretor irá explicar quais políticos participaram dos esquemas que resultaram nesses pagamentos e qual a participação do presidente Michel Temer.

Outro tema a ser abordado será a veracidade das afirmações de Joesley a Temer em conversa gravada pelo empresário no Palácio do Jaburu. Batista disse que continuou efetuando pagamentos ao operador mesmo após sua prisão para evitar que ele partisse para uma delação - um deles para sua irmã Roberta foi interceptado em ação controlada da PF.

"O Lúcio Funaro é o operador financeiro do Eduardo do esquema PMDB da Câmara. O esquema PMDB da Câmara é composto pelo presidente Michel Temer, Eduardo, enfim, e alguns outros membros", afirmou Joesley em seu acordo.

O empresário contou aos procuradores que conheceu Funaro em 2011, atendendo a um pedido do empresário Paulo Sergio Formigoni de Oliveira. O operador financeiro, disse Joesley, teria informado que atuava em conjunto com o ex-deputado Eduardo Cunha com o "respaldo político" do então vice-presidente, Michel Temer.

"Ele Funaro sempre dizia 'eu falo em nome do Eduardo e Eduardo é da turma do Michel'", afirmou Joesley.

O presidente da República nega que tenha pagado pelo silêncio de Funaro e de Cunha.

Agricultura

Joesley também narrou em sua delação pagamentos por negócios relacionados ao Ministério de Agricultura. O primeiro pagamento na Agricultura ocorreu quando houve a liberação para a exportação de despojos animais. De acordo com Joesley, a JBS nem havia pleiteado a medida, mas foi cobrada em R$ 2 milhões por Funaro.

"E teve um que eu pedi que era sobre vermífugos. Isso era muito importante para o Brasil, tanto que depois até mudou a norma nos Estados Unidos. Esse eu paguei R$ 5 milhões. Eu tinha um helicóptero lá e entrou como meio de pagamento", acrescentou.