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Maia cobra 'mais respeito' do Planalto e diz que 2ª denúncia fica para outubro

"A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB", diz Maia - Felipe Rau/Estadão Conteúdo
"A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB", diz Maia Imagem: Felipe Rau/Estadão Conteúdo

Isadora Peron, Tânia Monteiro, Igor Gadelha e Adriana Fernandes*

Em Brasília

21/09/2017 07h33

Às vésperas de a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) chegar à Câmara, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez na noite desta quarta-feira (20) duras críticas ao peemedebista, disse que ele faltou com a palavra e ameaçou com a retaliação do DEM em votações de interesse do governo. Mais cedo, em entrevista ao Estadão/Broadcast, Maia pediu que o Palácio do Planalto pare com o "fogo amigo" e seja mais respeitoso durante a tramitação da ação penal contra Temer, por organização criminosa e obstrução da Justiça.

Segundo Maia, que ainda ocupava interinamente a Presidência da República, o mal-estar com o Planalto se deve ao fato de o PMDB ter filiado, no início deste mês, o senador Fernando Bezerra (PE), ex-PSB. O DEM vinha negociando havia meses a migração do parlamentar e de outros deputados para sua legenda.

"Quando a gente faz um acordo, tem de cumprir a palavra. A coisa mais importante da política é a palavra. Eu já avisei o presidente, isso causou muito desconforto dentro da bancada", disse.

Maia se referia ao episódio, durante a tramitação da primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva, na Câmara, quando o peemedebista teve um encontro com integrantes da cúpula do PSB. Na época, segundo Maia, Temer foi a um jantar em sua casa negar que o PMDB estivesse fazendo ofensiva no PSB.

Na Câmara, na quarta à noite, o deputado destacou que o fato de os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) terem participado do ato de filiação de Bezerra mostrou que há uma "digital" do governo na iniciativa. "Mandei mensagem para o presidente Temer falando da ação do presidente do PMDB (senador Romero Jucá) e de alguns ministros do palácio", afirmou.

"A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB, principalmente de ministros do palácio e do presidente do PMDB", afirmou Maia. As críticas vieram a público depois de o deputado fluminense saber de abordagens do PMDB para tentar atrair o deputado Marinaldo Rosendo (PSB-PE), que está acertado de ir para o DEM. Procurados pela reportagem na noite desta quarta, Moreira, Padilha e Jucá não foram encontrados.

Para Maia, o governo e o PMDB têm tratado o seu partido como "adversário" e isso poderá se refletir na relação da bancada com o Planalto. "Se é assim que eles querem tratar um aliado, eu não sei o que é um adversário. Quero que isso fique registrado, para que, quando a bancada do Democratas tiver uma posição divergente, o governo entenda. Há uma revolta muito grande na bancada, não virou rebelião ainda, mas há revolta."

Condução

Apesar das críticas, Maia afirmou que essa indisposição não deve interferir na segunda denúncia. "Não vamos misturar uma coisa com a outra. Cada deputado vai votar com a sua consciência", disse.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast no gabinete de Temer antes de dar as declarações contra o PMDB, Maia disse que vai conduzir o processo da segunda denúncia da mesma forma que tratou a ação por corrupção passiva já barrada na Câmara. "Espero que, nesta segunda, o palácio seja mais respeitoso comigo. E o que fiz na primeira farei novamente: manter minha imparcialidade", disse Maia.

Após participar de comemoração da data nacional do Chile, na noite de quarta-feira, Maia disse ainda que a votação da segunda denúncia estará concluída em outubro. “Tem o feriado de 12 de outubro. Tem de esperar para ver quando o texto sai da comissão. Dependendo do dia, pode votar antes ou depois do feriado. Mas durante o mês de outubro certamente esta matéria estará resolvida”, afirmou.

Maia disse que quer votar o texto, “o mais rápido, mas respeitando o regimento”. Para ele, é importante que “a gente possa avançar nesta pauta”, que reconheceu que atrasou votação das reformas no Congresso. Maia avisou, no entanto, que as reformas atrasaram porque não seria possível um presidente estar denunciado e ficar esse processo parado na Cãmara. Para ele, era preciso que ele tivesse início, meio e fim na Câmara dos deputados.

O presidente em exercício disse ainda que neste novo processo não falará nada sobre o tema. “Eu vou ficar bem distante desse assunto. Não vou conversar com deputado, ou emitir opinião poque, na primeira denúncia, minha opinião foi mal interpretada pelo Palácio do Planalto”, desabafou. “As vozes do Palácio, agora, terão o meu silêncio absoluto. Nenhuma opinião. Nem contra, nem a favor”, ironizou.

Previdência

Desde segunda-feira, Maia ocupou interinamente a Presidência no lugar de Temer, que viajou aos Estados Unidos e chega hoje. Maia também disse que o DEM não pretende convidar o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), para se filiar à sigla e sair candidato.

Segundo o deputado, se a denúncia for rejeitada com o mesmo quórum da primeira, será ainda mais difícil aprovar a reforma da Previdência. "Infelizmente, o dado de hoje é que um resultado da segunda denúncia parecido com o primeiro gera mais dificuldades e o nosso trabalho será redobrado", disse. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

*Com colaboração de Silvia Araújo e Márcia Furlan

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