Topo

Passageiros se queixam de pedintes e ambulantes em Cumbica

Com mochila nas costas, pedinte (à esq.) aborda família em lanchonete em Cumbica - Gabriela Bilo/Estadão Conteúdo
Com mochila nas costas, pedinte (à esq.) aborda família em lanchonete em Cumbica Imagem: Gabriela Bilo/Estadão Conteúdo

Felipe Resk

São Paulo

27/12/2017 08h02

Um homem de camisa azul e boné entra no restaurante e aborda uma família que está acabando um lanche no Terminal 3 do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Sentado à mesa, um senhor esconde o celular que estava exposto. O pedinte continua. Conta que coleta material reciclável e faltou dinheiro para consertar a carroça. Segundos depois, dá as costas e, sem conseguir o trocado, sai à procura de outras pessoas.

Um dos presentes na cena, o advogado Valdir Lamera, de 60 anos, reprova a situação. "Em 40 minutos, já é o segundo que passa aqui", reclama. Na percepção dele e de outros frequentadores de Cumbica, o número de pedintes tem subido nas dependências do aeroporto. Como consequência, relatam aumento da sensação de insegurança.

Para circular por Cumbica, os pedintes tomam cuidado para manter a aparência nos trinques e quase sempre carregam mochilas ou malas. Abordam passageiros principalmente em áreas de lanchonetes. Lá, também estão concentradas crianças que, em duplas, se oferecem para engraxar sapatos. Conseguem, às vezes, doações graúdas, de R$ 50 ou em dólar ou euro.

Ambulantes também oferecem seus produtos - de livro a carregador de celular - pelos saguões dos Terminais 1, 2 e 3. O comércio ilegal, entretanto, é mais frequente na parte externa do aeroporto, onde os vendedores usam carrinhos de bagagem para transportar isopor com água, café, refrigerante, cerveja e sanduíche natural.

A professora Ana Lúcia Ubeda, de 50 anos, que também está sentada à mesa, concorda quando Lamera diz que o assédio incomoda. "Tem cada vez mais gente pedindo. O problema é que você não tem como saber se a pessoa realmente precisa ou se é só uma desculpa." O advogado acrescenta: "E é só olhar em volta: não tem fiscalização".

A falta de funcionários de segurança também é uma das principais reclamações do gerente de logística Emilio Martinez, de 43 anos. No início do mês, ele foi buscar a mulher, que retornava em um voo noturno da Argentina, e chegou com três horas de antecedência em Cumbica. "Fui abordado por nove pedintes. São senhoras, crianças, adultos. Fiquei pasmo, nunca vi isso na minha vida", afirma o gerente, que frequenta o aeroporto desde os anos 1980 e fez uma reclamação formal à Ouvidoria.

Na queixa, Martinez descreve que uma senhora, ao ser abordada na fila de um café, pagou um lanche para um engraxate. "Tio, você pode dar o refrigerante?", perguntou o menino. O gerente desembolsou R$ 2 e foi se sentar. Ao ligar o computador, outro rapaz, aparentando ter menos de 18 anos, pediu um trocado para cortar o cabelo. "Se eu der dinheiro para todo mundo, fico sem", respondeu. Foi quando o adolescente subiu o tom. "Vocês que viajam para fora têm dinheiro", retrucou. "Fica esperto que meus amigos estão de olho."

"Me senti ameaçado", diz Martinez, que buscou ajuda no aeroporto, mas não encontrou. Na queixa à Ouvidoria, escreveu: "Quero deixar claro, aqui, minha indignação, pois já viajei para diversos países no mundo, e pela primeira vez em minha vida, em Guarulhos, vi a decadência dos serviços prestados".

Recebeu resposta da GRU Airport, que administra o aeroporto, em que a concessionária lamenta e diz que o espaço é "adequado e seguro para a permanência". Cita, ainda, o sistema de monitoramento de Cumbica, com câmeras que permitem "identificar e fazer, quando aplicável, a repressão adequada". "É desagradável ser abordado a todo o momento e, para mitigar essas situações, a Equipe GRU Airport de Segurança se empenha dentro da sua capacidade."

Segurança

"Pode colocar 50 mil câmeras que só vai filmar. Sem funcionário para ir lá e coibir, não adianta", diz José Carlos Domingos, diretor do Sindicato Nacional dos Aeroviários. Em fevereiro, a entidade denunciou a demissão de cerca de 180 funcionários do aeroporto - entre eles, profissionais de segurança. "Uma coisa está diretamente ligada à outra: com menos gente rodando, acaba não vendo tudo que acontece."

No Terminal 1, um segurança vigia o espaço, sentado em um posto de observação, sem notar um casal com mochila nas costas que pede esmola discretamente. "Ah, tem pedinte profissional, com carteirinha", diz, ao ser abordado pela reportagem. E a segurança não faz nada? "A gente já levou na delegacia do aeroporto, mas aí a polícia diz: 'Vê na Constituição se pedir é crime'. O que a gente pode fazer é colocar da porta pra fora." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.