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Palocci diz que entregou dinheiro vivo a Lula em caixas de celular e de uísque

15.jun.2005 - Foto de arquivo do ex-presidente Lula em cerimônia com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci - Eraldo Peres/AP Photo
15.jun.2005 - Foto de arquivo do ex-presidente Lula em cerimônia com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Imagem: Eraldo Peres/AP Photo

São Paulo

18/01/2019 20h08Atualizada em 18/01/2019 20h54

O ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil dos governos do PT) afirmou em delação premiada na Polícia Federal que entregou propinas em espécie para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele relatou pelo menos dois episódios aos investigadores, um no Terminal da Aeronáutica, em Brasília, e outro no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em que teria entregado dinheiro vivo da empreiteira Odebrecht em uma caixa de celular e em uma caixa de uísque.

As informações sobre a delação de Palocci foram reveladas pelo site O Antagonista e confirmadas pela reportagem do Estadão.

Palocci depôs no dia 13 de abril do ano passado, uma semana depois de o ex-presidente ser preso para cumprir pena de 12 anos e um mês de reclusão no processo do triplex do Guarujá (SP).

Este relato do ex-ministro foi anexado nesta quinta-feira (17) ao inquérito da PF que investiga supostas fraudes na licitação e construção da usina de Belo Monte.

Segundo Palocci, os repasses a Lula teriam ocorrido em 2010. O ex-ministro relatou uma conversa que teria tido com Marcelo Odebrecht na qual o empresário acertou o repasse de R$ 15 milhões para o ex-presidente depois que a empreiteira entrou no negócio de Belo Monte.

O delator, que foi alvo da Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato em 2016, livrou-se da prisão depois que fechou acordo de delação com a Polícia Federal.

No depoimento de abril do ano passado, Palocci afirmou ter repassado "em oportunidades diversas" cerca de R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 50 mil e R$ 80 mil em espécie para o próprio Lula.

Segundo Palocci, "os valores eram demandados pelo próprio Lula com a orientação para que não comentasse sobre os pedidos com Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula) e nem com ninguém".

Ele afirma que "sempre atendia aos pedidos de Lula".

Indagado pela PF se tinha testemunhas de suas revelações, Palocci apontou dois motoristas que trabalhavam para ele, na ocasião.

Palocci detalhou duas entregas de dinheiro a Lula, uma no Terminal da Aeronáutica, em Brasília, no valor de R$ 50 mil "escondidos dentro de uma caixa de celular". A outra entrega teria ocorrido em Congonhas. Ele contou que se recorda que a caminho do aeroporto "recebeu constantes chamadas telefônicas de Lula cobrando a entrega".

O ex-ministro falou, ainda, de uma reunião com outra empreiteira, Andrade Gutierrez, na qual teria sido acertado pagamento de 1% em propinas sobre o valor recebido pelo grupo nas obras de Belo Monte. Em troca, Palocci atuaria contra um consórcio que estava tentando "atravessar" a licitação.

Defesas

Em nota, a assessoria de imprensa de Lula afirmou que nenhum delator "apresentou prova nenhuma" contra o ex-presidente. O texto questiona ainda o fato de a delação de Palocci vir à tona "justo hoje quando outro motorista ocupa o noticiário". A referência é a Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro, que estava sendo investigado pelo MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio) por movimentações atípicas em uma conta bancária. A investigação foi suspensa na quinta-feira (17) a mando do ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), que atendeu a reclamação apresentada por Flávio.

Também em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou que Palocci "produziu uma narrativa mentirosa e mirabolante contra Lula em troca de benefícios negociados clandestinamente com agentes do Estado objetivando produzir resultados políticos contra o ex-presidente". O defensor critica ainda o vazamento do depoimento de Palocci e pede investigação por parte do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

A Odebrecht informou que colabora com a Justiça nos termos do acordo que firmou com a Lava Jato. A reportagem está tentando contato com a Andrade Gutierrez.

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