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Defesa Civil estuda demolir prédios em bairro de Maceió com rachaduras

Paula Felix

São Paulo

31/10/2019 12h08

Após constatar evolução em rachaduras em cinco blocos de um conjunto residencial no Pinheiro, um dos quatro bairros de Maceió que apresenta fissuras e afundamento desde o ano passado, a Defesa Civil da capital alagoana analisa a possibilidade de demolição dos imóveis. O problema afeta mais de 40 mil pessoas.

"O engenheiro que avaliou as condições dos prédios não descartou a possibilidade de demolição. Mas foi informado que as medidas a serem adotadas serão discutidas pelo órgão municipal e demais órgãos necessários para, então, serem implantadas", informou a gestão municipal, em nota.

Segundo a prefeitura, uma vistoria realizada pela Defesa Civil na manhã de terça-feira, 29, constatou evolução nas rachaduras em cinco blocos do Conjunto Jardim Acácia, que estão isolados desde junho.

"A Defesa Civil de Maceió informa que há avanço nas feições (rachaduras) em alguns pontos dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, uma vez que o solo continua em movimento", complementa a nota.

Presidente do SOS Pinheiro, associação que reúne moradores afetados pelo problema, o administrador de empresas Geraldo Vasconcelos, de 55 anos, diz que o conjunto foi um dos primeiros a apresentar as rachaduras e que os cinco blocos já foram evacuados.

"A ideia de demolição é muito incipiente, é a primeira vez que falam sobre isso. Tem um engenheiro ligado ao movimento que não identifica a necessidade de demolição", disse. "Poderia ser feito um processo de escoramento."

O conjunto, segundo ele, é formado por 24 prédios e tanto quem já deixou o bairro quanto quem continua morando no local está abalado com a situação.

"O fator emocional é sempre muito forte. As pessoas têm suas raízes sociais no bairro e há muita expectativa sobre o que vai acontecer, mas está tudo parado", afirmou Vasconcelos. "Não sabemos como serão as ações."

Rachaduras

Em fevereiro de 2018, após fortes chuvas, rachaduras começaram a aparecer em dezenas de imóveis do bairro do Pinheiro. Em 3 de março, foi registrado abalo sísmico no local. Em maio deste ano, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou relatório informando que a extração de sal-gema - matéria-prima usada na fabricação de soda cáustica e PVC - feita pela Braskem foi a principal causa para o surgimento de rachaduras não só no Pinheiro, mas em outros dois bairros: Bebedouro e Mutange.

Em nota, de julho de 2019, a Braskem informou que o documento elaborado pelo CPRM apresenta "inconsistências técnicas relevantes e a falta de uma solução definitiva que garanta a segurança aos moradores dos bairros afetados".

Em setembro, também em nota, a empresa disse que "instituições de estudo geológico e especialistas do Brasil e do exterior" apontam "inconsistências de metodologias usadas na elaboração do Relatório Síntese da CPRM".

Já nesta quarta-feira, 30, a Braskem informou seguir "empenhada em contribuir com as autoridades na identificação das causas e das soluções e tem cooperado com a adoção das medidas emergenciais necessárias definidas em Termo de Cooperação com os Ministérios Públicos Estadual e Federal, Município de Maceió e CREA-AL (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura)".

A empresa ainda disse reafirmar "seu comprometimento e sua atuação responsável com as pessoas de Alagoas, onde atua há mais de 40 anos".

Auxílio-moradia

Atualmente, segundo a gestão municipal, 2.108 famílias afetadas pelo problema recebem auxílio-moradia. Moradores do Mutange, bairro que apresenta a situação mais grave, devem ser realocados para unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida assim que a transferência for autorizada pelo governo federal.

Em setembro, a prefeitura de Maceió incluiu o bairro do Bom Parto no decreto de calamidade pública declarado após registros de rachaduras e afundamentoS. Segundo moradores, ao menos 300 imóveis apresentavam o problema.