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Avanço por Amazonas, Roraima e Acre indica interiorização do desmatamento

Área queimada e desmatada no município de Boca do Acre (AM) - Divulgação
Área queimada e desmatada no município de Boca do Acre (AM) Imagem: Divulgação

Giovana Girardi. Colaborou Mateus Vargas

Brasília

20/11/2019 07h36

A devastação está se expandindo para além do tradicional arco do desmatamento em direção ao interior da Região Amazônica. É o que especialistas interpretam com base nos dados estaduais do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que foram oficialmente divulgados na segunda-feira.

Estados que em geral apresentavam taxas menores de desmate tiveram altas expressivas neste ano. É o caso de Roraima - que tem uma parcela grande de terras indígenas onde se estima haver grandes reservas de minério. Entre agosto do ano passado e julho deste ano houve uma alta de 216,4% de desmatamento ante o ano anterior.

A devastação passou de 195 km² para 617 km². É a segunda maior taxa para o Estado na série histórica. A primeira foi em 1989, primeiro ano do Prodes - 630 km². Foi o maior aumento porcentual de todos os Estados da Amazônia, em parte por pressão do garimpo.

Também chamam a atenção o Acre, que apresentou uma alta de 55% no período, saltando de 444 km² para 688 km² - a maior taxa desde 2004; e o Amazonas, que saltou de 1.045 km² para 1.421 km² - maior taxa desde 2003. Com esse aumento de 36%, o Estado passou a ocupar o terceiro lugar entre os maiores desmatadores, passando Rondônia.

A troca de posições também se deu porque Rondônia teve uma redução de 5,4% no desmatamento. Houve queda da devastação também no Tocantins (16%), no Maranhão (15%) e no Amapá, a maior delas (66,7%) - o Estado registrou somente 8 km² de desmatamento.

Apesar de Pará e Mato Grosso ainda representarem as maiores porções de desmatamento - os dois Estados respondem por quase 57% da devastação -, os aumentos em outros locais mostram que os atos ilegais estão penetrando na região. "O Prodes deste ano mostra que o desmatamento não está mais tão concentrado, o que parece ter a ver com a redução do controle", comenta Gilberto Câmara, ex-diretor do Inpe e hoje diretor do secretariado do Grupo de Observações da Terra.

Ele lembra que no Acre o governador Gladson Cameli (PP) recomendou, em evento em julho, que produtores rurais não pagassem multas ambientais que tivessem recebido. "Onde o Estado não está atuando é onde o desmatamento está fugindo de controle", disse.

Para Raoni Rajão, da Universidade Federal de Minas, os Estados de Amazonas, Acre e Roraima "são novas fronteiras de especulação, não de expansão e produção agropecuária". Segundo ele, grande parte da perda no Amazonas pode estar ligada à especulação entorno do asfaltamento da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM).

Essa explicação também foi aventada pelo pesquisador Tasso Azevedo, que coordena o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa. "O Amazonas tem unidades de conservação na fronteira com Mato Grosso e a leste, com o Pará, que tinham criado uma espécie de barreira, mas o desmatamento começou a subir por Rondônia, chegou a Apuí (uma das localidades que mais queimaram em agosto) e está se espalhando. A grilagem está se deslocando, diante da expectativa de repavimentação da Transamazônica e da BR-319. A grilagem é como a bolsa de valores, cresce com a especulação", diz.

Estados

O governo do Amazonas disse que reconhece o aumento no desmatamento, mas que representa apenas 0,09% da área do Estado. O governo disse que "91% do desmatamento no Amazonas está concentrado em municípios do sul do Estado, que vêm sofrendo grande pressão da expansão da fronteira agrícola de outros Estados da região" e a região "tem sido foco das ações de combate ao desmatamento ilegal desde o início de 2019".

Ionilson Sampaio de Souza, secretário da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima, disse ao Estado que os números do Prodes o surpreenderam e o Estado não vinha percebendo o aumento. Israel Milani, secretário de Meio Ambiente do Acre afirmou que o governo "tem atuado de forma rigorosa nas fiscalizações ambientais" e está empenhado em "aproximar o produtor rural do Estado, abrindo um diálogo entre o setor produtivo e o Meio Ambiente".

Amazonas e Pará fizeram questão de frisar que grande parte do desmatamento nos Estados ocorre em área de domínio da União - 40% e 78%, respectivamente. Eles se anteciparam a uma expectativa de que hoje, em reunião com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o governo federal tente responsabilizar os Estados pelo controle do desmatamento.

O presidente Jair Bolsonaro evitou ontem comentar o aumento de 29,5% do desmatamento na Amazônia, a maior taxa desde 2008. Bolsonaro disse que perguntas sobre esses dados não devem ser feitas a ele, mas a Salles.

O presidente disse que tratou sobre o desmatamento com o ministro, mas não poderia apresentar ações planejadas pelo governo, pois o assunto seria reservado. Afirmou depois não querer "publicidade de nada que fazemos, queremos solução".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.