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Brasil vai à Cúpula do Clima da ONU, em Madri, sob pressão

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista exclusiva ao UOL/Folha, em Brasília - Kleyton Amorim/UOL
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista exclusiva ao UOL/Folha, em Brasília Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Giovana Girardi

São Paulo

02/12/2019 07h54

O governo Jair Bolsonaro estreia hoje em uma Conferência do Clima da ONU (COP), com o desafio de convencer os demais países de que continua a bordo dos esforços mundiais para conter as mudanças climáticas. Vai precisar fazer isso para contornar dados difíceis - como a taxa recorde de desmate da Amazônia na década -, e superar as críticas internacionais que recebeu ao longo do ano.

Em um comportamento pouco usual, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chefe da delegação brasileira, estará em Madri, onde será realizada a COP-25, durante os 14 dias da reunião. Em geral, ministros só chegam para a segunda semana do evento, deixando a primeira parte das negociações para os diplomatas. Salles, que tem dito que vai cobrar contrapartida financeira de países ricos por - segundo seu entendimento -, estar fazendo sua parte, já estará lá a partir desta segunda-feira.

O Brasil não indicou que deve se comprometer com nada além da meta de reduzir as emissões em 37% até 2025, na comparação com 2005, apresentada no Acordo de Paris. Pelo contrário: insiste num discurso de gestões anteriores, de que é a nação que mais reduziu emissões e que, por isso, merece ser paga.

De fato, o País reduziu suas emissões, mas o ganho do passado vem se diluindo com a retomada do aumento do desmatamento da Amazônia - historicamente a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa do Brasil. Mesmo com a queda de emissões no setor de energia, por causa do aumento da fatia de fontes alternativas, a alta do desmatamento no ano passado fez as emissões totais do País pararem de cair. E neste ano devem disparar em razão do aumento de 29,5% no desmatamento da Amazônia.

"O Brasil tem muita coisa feita e levará para a COP todo acervo de temas ambientais. Por outro lado, também quer receber a sinalização, finalmente, de que a promessa de recursos vultosos de países ricos para os países em desenvolvimento, já a partir do ano que vem, se concretize", disse Salles nesta semana. O ministro cita como exemplo o fato de que este outubro teve o menor número de queimadas na Amazônia para o mês na série histórica, mas não menciona que isso ocorreu depois de um agosto com as maiores queimadas desde 2010 - e que o desmatamento continuou subindo no período.

Ele também justifica que o desmatamento está em alta desde 2012, mas não menciona que a taxa de crescimento deste ano em relação ao anterior, de 29,5%, foi mais que o dobro da média nesses sete anos, de 11,5%. E que o Brasil tem uma meta interna de chegar a 2020 com o desmatamento da Amazônia em 3.925 km². Entre agosto do ano passado e julho deste ano, a taxa foi de quase 10 mil km², e dados preliminares indicam para mais de 4 mil km² desde agosto.

O plano de Salles é tentar apresentar na COP um novo fundo, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Pesa contra os apelos do Brasil, no entanto, o fato de que o País desmantelou neste ano o Fundo Amazônia. "Se chegar na COP pedindo dinheiro, o Brasil vai bater na porta errada. Além do aumento do desmatamento, vai ter de explicar a revogação do zoneamento da cana e o plano de acabar com a moratória da soja. Além disso, nem se pede dinheiro assim na COP", avaliou a pesquisadora aposentada do Inpe, Thelma Krug, que por anos participou como negociadora brasileira.

Salles cita o compromisso assumido pelos países ricos de levantarem US$ 100 bilhões ao ano a partir de 2020, para ajudar os países mais pobres a descarbonizarem suas economias. O ministro quer uma parte dos recursos, e sugeriu que uns US$ 10 bilhões caberiam ao Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.