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Quarentena em Anápolis de brasileiros retirados da China tem clima de hotel

Quarto na ALA 2 da Base Aérea de Anápolis, em Goiás, que vai acomodar os brasileiros provenientes de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus na China - Dida Sampaio/Agência Estado
Quarto na ALA 2 da Base Aérea de Anápolis, em Goiás, que vai acomodar os brasileiros provenientes de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus na China Imagem: Dida Sampaio/Agência Estado

André Borges, enviado especial. Colaboraram Gilberto Amendola, Pedro Caramuru e Julia Lindner

Anápolis

08/02/2020 12h05

O cheiro ainda é de tinta fresca nos corredores brancos da Ala 2 da Base Aérea de Anápolis, em Goiás. Nos quartos foi colocada uma mesa com chocolates e cesta de frutas. Sobre as roupas de cama novas, um roupão dobrado. Cada quarto já tem seu usuário definido, um dos brasileiros retirados da China por causa do coronavírus.

Naqueles quartos que receberão famílias com crianças, foram colocados berços, um azul, outro rosa, com um presente embrulhado para cada um. O clima é de um hotel. Uma brinquedoteca foi montada para entreter os pequenos. Na área de alimentação, os repatriados servirão a própria comida e cada um deverá comer em seu quarto. Não haverá garçons.

Uma área verde também ficará acessível para que os 31 brasileiros possam circular e tomar sol em uma área delimitada da base - sempre usando máscara cirúrgica. O grupo também terá internet, videogame e uma fanfarra da Força Aérea tocará música na frente do local uma vez ao dia. A tentativa é de transformar a quarentena no melhor ambiente possível.

Ontem, o governo fez uma apresentação da base que servirá para mantê-los na quarentena por 18 dias. O voo com os brasileiros saiu de Wuhan, na China, na tarde de ontem. Uma parada está prevista em Varsóvia, na Polônia, onde seis pessoas daquele país vão desembarcar. A previsão é de que a chegada dos 31 brasileiros em Anápolis ocorra na madrugada de domingo. Entre os repatriados estão crianças de 1, 2, 3, 7 e 12 anos. Em Brasília, após reunião para se inteirar da operação de resgate, o presidente Jair Bolsonaro destacou o trabalho do governo para buscar o grupo mesmo com poucos recursos. "Queremos passar a informação clara ao Brasil de que não existe risco", afirmou, após reunião no Ministério da Defesa.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a Operação Regresso está funcionando da forma planejada e "não há nenhum improviso". "Esse tipo de operação também deve servir como aprendizado para nós. Em vez de apontarmos o dedo para a China, temos de aprender com ela", disse, ao falar sobre as operações de saúde que já foram realizadas pelo governo chinês.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que participou da vistoria técnica, disse que "Goiás mostra como nós, brasileiros, devemos nos comportar em um momento como esse". Mais tarde, ele criticou o presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), o ex-deputado emedebista Sandro Mabel, por se opor à recepção. Pelo Twitter, o governador afirmou que Mabel é "mercenário, canalha e desumano". Mabel e a Fieg criticaram o uso da base. "A população goiana não suportaria outro trauma como o que ocorreu com o acidente com o Césio 137 (acidente com contaminação radiológica em 1987)."

Além dos 31 resgatados em Wuhan, outras 27 pessoas que compõem a tripulação, médicos e equipe de comunicação também deverão ficar em quarentena pelo prazo de 18 dias. Três vezes ao dia, cada pessoa terá de passar por exames médicos, a fim de verificar sinais vitais e demais sintomas que possam surgir. O protocolo determina que, caso uma pessoa apresente qualquer tipo de comportamento que indique a manifestação do vírus, ela será imediatamente levada para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília, a 140 km de Anápolis.

Embarque

A estudante Indira dos Santos, de 34 anos, relatou ao pai, José Rubens Campos, a emoção do embarque. "Foi emocionante de verdade. Quando a gente entrou no avião, disseram 'bem-vindo ao Brasil'", escreveu Indira, que faz doutorado em Economia e vive na China há cerca de um ano.

Já o servidor público aposentado José Neves de Siqueira Junior, pai do estudante Vitor de Siqueira, de 28 anos, foi para Anápolis mesmo sabendo que não poderá ter contato com o filho pelas próximas semanas e fez até uma carta de agradecimento às autoridades. "Nós estamos extremamente ansiosos. Formamos um núcleo pequeno de pais que estão aqui para que eles saibam que, mesmo sem poder abraçá-los agora, se sintam fortalecidos ao saber da nossa presença", disse ele, de Belo Horizonte. O jovem faz especialização em mandarim.

(As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.)