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Após fala de Bolsonaro, Anvisa nega 'acesso fácil' à cloroquina e ivermectina

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou ontem que vai facilitar o acesso a hidroxicloroquina e ivermectina - MATEUS BONOMI/ ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou ontem que vai facilitar o acesso a hidroxicloroquina e ivermectina Imagem: MATEUS BONOMI/ ESTADÃO CONTEÚDO

Felipe Resk

14/08/2020 17h17

Um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciar que vai facilitar o acesso a hidroxicloroquina e ivermectina, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reiterou hoje (14) que não houve alteração na regra de compra dos medicamentos e que ainda é preciso apresentar receita dupla nas farmácias e drogarias. Mesmo sem eficácia comprovada para o novo coronavírus, os remédios são defendidos pelo presidente no tratamento da doença.

Ontem (13), Bolsonaro afirmou que, a partir de agora, seria preciso apresentar apenas receita médica simples para fazer a compra, não sendo mais necessária a retenção da via no local. "O presidente da Anvisa acabou de confirmar a informação sobre a hidroxicloroquina e a ivermectina. Você já pode comprar com uma receita simples, caso o seu médico recomende para você, obviamente", disse durante transmissão semanal que faz em suas redes sociais.

Questionada, no entanto, a Anvisa afirma não ter havido alteração na regra até o momento. De acordo com a agência, o regulamento válido é a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) 405/2020, publicada no dia 23 de julho, no Diário Oficial da União.

Pela resolução em vigor, o paciente é obrigado a apresentar as duas vias da receita médica, devendo a primeira ficar retida na farmácia. Cada receita é válida por 30 dias, a partir da data de emissão, em todo território nacional, e poderá ser utilizada apenas uma vez.

Ainda segundo o texto da resolução, a medida só será revogada quando a situação de emergência em saúde pública for considerada ultrapassada pelo Ministério da Saúde.

"O regulamento unificou as regras de controle específicas para a prescrição da cloroquina, hidroxicloroquina, nitazoxanida e ivermectina", afirma a Anvisa, em nota. "A norma tem por objetivo coibir a compra indiscriminada desses medicamentos, que têm sido amplamente divulgados."

A cloroquina e a hidroxicloroquina são usadas para doenças autoimunes, como lúpus ou malária. Já ivermectina e nitazoxanida servem para tratamentos de doenças parasitárias em seres humanos.

Para tentar garantir o estoque a pacientes que necessitam dos fármacos por outras doenças, a Anvisa já havia publicado a resolução 351/2020, em março, que passou a exigir a prescrição médica, em receita especial, para medicamentos à base de cloroquina ou hidroxicloroquina.

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Por enquanto, não há nenhum estudo conclusivo sobre a eficácia da cloroquina ou da ivermectina para curar ou prevenir contra o coronavírus. Mesmo sem comprovação científica, o medicamento passou a ser disputado nas farmácias do País e foi propagandeado por Bolsonaro e por outros integrantes do governo.

A pressão para liberar cloroquina também esteve no centro da demissão do ex-ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, que entregou o cargo em maio após se recusar a cumprir ordem do presidente. Desde então, o general Eduardo Pazuello está interinamente à frente da pasta durante a pandemia.

Na última live, Bolsonaro afirmou ter usado cloroquina após contrair covid-19 e relatou que "12 horas depois estava com sintomas curados". Na mesma transmissão, entretanto, ele admitiu que pode ter sido apenas uma "coincidência", já que pesquisas indicam que a maior parte das pessoas que contraem o vírus não apresenta sintomas da doença.

Ainda assim, o presidente voltou a mostrar uma caixa de cloroquina e a defender o medicamento mais uma vez, ponderando que é preciso ter prescrição médica para o uso. "Para comprar isso aqui (medicamento) precisava da prescrição médica. Ainda precisa (de receita), porque é tarja vermelha", disse.

Na ocasião, Bolsonaro rebateu as críticas de que o Exército produziu cloroquina em excesso durante a pandemia. "Alguns estavam criticando que o presidente mandou o Exército fabricar comprimidos e estão com uma reserva de 4 milhões. É mais ou menos isso que tem, mas o nosso consumo anual da hidroxicloroquina para malária, lúpus, artrite reumatoide, dá 3 milhões de comprimidos por ano. Nada vai ser jogado fora. Tudo vai ser aproveitado de uma forma ou de outra."

Procurado para falar sobre o assunto, o Palácio do Planalto ainda não se manifestou.