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Farmácia de manipulação perde ação para usar cannabis sem restrição da Anvisa

"Derivados da planta podem ser desviados para fins ilícitos", advertiu a AGU em nota - Kimsy Nanney/Unsplash
"Derivados da planta podem ser desviados para fins ilícitos", advertiu a AGU em nota Imagem: Kimsy Nanney/Unsplash

Rayssa Motta

São Paulo

20/08/2020 16h41

Uma farmácia de manipulação de alimentos naturais e cosméticos, que tentava obter na Justiça autorização para fabricar produtos com ativos derivados de cannabis sem restrição de autorização sanitária, teve o pedido negado pela Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília.

Por unanimidade, os desembargadores rejeitaram o recurso apresentado pelo estabelecimento e confirmaram sentença da 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal.

A farmácia entrou com a ação pedindo a derrubada de dois artigos da resolução nº 327/2019 da Diretoria Colegiada da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que regula o uso da planta pela qual se produz a maconha. A empresa argumenta que as restrições impostas pelo governo criam uma reserva de mercado favorável à indústria farmacêutica convencional e que viola a livre iniciativa e a liberdade econômica.

Em abril, a Anvisa aprovou o registro do primeiro produto à base de maconha no País. Trata-se de um fitofármaco que possui canabidiol em concentração inferior a 0,2% de THC, substância com efeitos psicotrópicos, fabricado pela empresa Prati-Donaduzzi e vendido mediante prescrição médica nas farmácias.

"O propósito do agente regulador ao estabelecer a restrição quanto à utilização da cannabis visa a propiciar segurança e eficácia, já que o nível de complexidade do produto resulta em incompatibilidade de sua utilização por farmácia magistral, além de ter por foco evitar desvios ou uso inadequado da substância, com o propósito de resguardar a saúde da população", escreveu a desembargadora Daniele Maranhão, relatora da ação.

Em defesa da União, a Advocacia-Geral da União sustenta que a resolução foi editada no âmbito do poder conferido à Anvisa de "regular, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública". No caso da cannabis, segundo a AGU, o risco está na possibilidade de extração de substâncias entorpecentes que causam efeitos nocivos à saúde, como alucinações, paranoia e confusão mental.

"É preciso estabelecer requisitos técnicos complexos para fabricação, importação, comercialização, prescrição, monitoramento e fiscalização de produtos à base de cannabis para fins medicinais, uma vez que os derivados da planta podem ser desviados para fins ilícitos", afirmou, em nota, a Advocacia-Geral da União.