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Celso de Mello: Grandes magistrados, como Ruth Bader Ginsburg, jamais se vão

O ministro Celso de Mello, do STF - Reprodução
O ministro Celso de Mello, do STF Imagem: Reprodução

Rafael Moraes Moura

Brasília

19/09/2020 10h43

O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, disse ao Broadcast/Estadão que os "grandes magistrados, como a Justice Ruth Bader Ginsburg, nunca morrem".

Ícone dos direitos das mulheres nos Estados Unidos, Ruth morreu ontem (18), aos 87 anos. Desde o início da carreira, a trajetória de Ginsburg, ou RBG (como ficou conhecida no país), esteve ligada ao fim da discriminação contra mulheres. Segundo a Suprema Corte americana, a magistrada morreu em Washington, cercada por parentes, em decorrência de complicações de um câncer no pâncreas.

"Os grandes magistrados, como a Justice Ruth Bader Ginsburg, nunca morrem, nunca partem e jamais se vão, pois permanecem na consciência e no coração dos cidadãos a quem serviram com o exemplo de sua integridade pessoal e de sua atuação independente, construindo caminhos, afastando intolerâncias, reconhecendo direitos, protegendo minorias e iluminando, desse modo, para sempre, a vida das presentes e futuras gerações com a grandeza do seu legado que moldou destinos, que transformou práticas sociais injustas, que repeliu discriminações e que definiu os rumos de uma sociedade aberta, plural e democrática" afirmou Celso de Mello à reportagem.

A morte da juíza da Suprema Corte americana, ícone dos direitos das mulheres nos Estados Unidos, repercutiu entre autoridades do meio político e jurídico do Brasil.

"A trajetória de Ruth Ginsburg na Suprema Corte será símbolo do empoderamento feminino na Justiça. Sua luta não foi só pela igualdade de gênero, foi pela afirmação de uma agenda de direito das mulheres. Morreu resistindo à crise da democracia", afirmou o ministro do STF Gilmar Mendes.

Em nota, o presidente do STF, Luiz Fux, disse que recebe com "pesar" a notícia da morte da juíza. "Sua atuação na defesa da igualdade de gênero, das minorias e do meio ambiente está entre as marcas de sua trajetória seja na advocacia, seja na magistratura da mais alta Corte do Estados Unidos da América. O STF teve o privilégio e a honra de homenagear Ruth Ginsburg, em maio do ano passado, ao exibir em sessão especial no edifício-sede do Supremo o documentário A Juíza, que retrata a atuação desta notável jurista. Meus sentimentos aos familiares, amigos e a todo povo americano", afirmou Fux.

O documentário sobre a trajetória de RBG, indicado a 2 Oscars no ano passado, teve sessão lotada e ingressos disputados no STF antes de entrar em cartaz nos cinemas brasileiros.

"Hoje os EUA perderam a juíza Ruth Ginsburg, decana da Suprema Corte, uma das vozes mais relevantes na luta pelos direitos das mulheres, meio ambiente e minorias. Que a luta e os ensinamentos dela permaneçam acesos na sociedade. Hoje, mais do que nunca, a agenda que ela sempre defendeu é urgente em todo o mundo", escreveu o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em sua conta no Twitter.

Caminho

Única mulher a integrar o Superior Tribunal Militar (STM) desde a sua criação, em 1808, a ministra Maria Elizabeth Rocha afirmou ao Broadcast/Estadão que Ruth "foi uma predestinada, uma magistrada que ao julgar tinha em conta não a temperatura do dia, mas o clima de uma era, segundo suas próprias palavras".

"Ruth Bader Ginsburg, a decana da Suprema Corte dos Estados Unidos, morreu ao anoitecer do dia 18 de setembro de 2020, quando se celebra o Rosh Hashaná ou o ano novo judaico, quando Deus determina o destino de cada um para o ano que se inicia. Não foi casual", destacou Maria Elizabeth Rocha.

"Ninguém melhor do ela simbolizou os avanços e as mudanças da modernidade, seja em suas decisões na Corte, seja em sua biografia. Uma mulher que jamais se intimidou diante da discriminação e abriu caminho para tantas de nós! Avenu Malkeinu à Juíza da liberdade, the Notorious RGB!", afirmou a ministra.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, destacou que Ruth "marcou época como advogada e como juíza". "A história é um processo social coletivo. Mas há pessoas que fazem toda a diferença", disse Barroso.