Topo

Esse conteúdo é antigo

'A vacina será o principal ativo do PSDB para 2022', diz vice-governador de SP

Vice-governador de São Paulo Rodrigo Garcia (DEM) durante entrevista coletiva sobre a pandemia no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Vice-governador de São Paulo Rodrigo Garcia (DEM) durante entrevista coletiva sobre a pandemia no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Bruno Ribeiro e Pedro Venceslau

São Paulo

14/05/2021 13h00Atualizada em 14/05/2021 14h00

Depois de 27 anos no DEM, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, assina nesta sexta-feira, 14, sua filiação ao PSDB, ao lado do governador João Doria. O gesto representa o primeiro passo na estratégia de unificar a legenda em torno de uma eventual candidatura de Garcia ao Palácio dos Bandeirantes, ano que vem, caso Doria deixe o cargo, em abril, para disputar a Presidência. "A vacina será o principal ativo do PSDB em 2022", diz o neotucano.

Esse ativo valeria tanto para a campanha estadual quanto para a federal, embora Doria apareça entre os últimos colocados nas pesquisas à sucessão presidencial e sua gestão enfrente desgastes por causa das medidas mais duras de isolamento social no enfrentamento à pandemia.

Nesse cenário, mesmo diante do risco de Doria desistir da corrida ao Planalto e tentar a reeleição — hipótese que já admitiu ao Estadão —, Garcia avisa que nada muda sua decisão de migrar para o ninho tucano. "O meu projeto será o projeto do PSDB."

O vice-governador era um dos quadros de destaque do DEM, mas tem histórico de proximidade com os tucanos. Foi secretário adjunto na gestão Mário Covas, secretário no governo Geraldo Alckmin e presidente da Assembleia Legislativa com apoio do PSDB.

Nesta entrevista exclusiva ao Estadão, Garcia se mostrou não apenas afinado com a estratégia de Doria para se viabilizar presidenciável, mas comprometido a manter o DEM integrado a esse projeto. Tanto que, ao contrário da debandada esperada no DEM fluminense, com a saída do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, o vice-governador não tem tentado levar outros prefeitos e deputados do partido para o PSDB. A seguir, leia os principais tópicos da entrevista.

Saída Pacífica

"Não me sinto mudando de lado, mas fazendo uma transferência para um partido do mesmo território e preservando a força do DEM em São Paulo para que ele possa continuar ajudando o PSDB a governar o Estado. A ideia é que eu faça essa filiação e os parlamentares e prefeitos do DEM continuem no partido." Para Garcia, a legenda não vive uma crise de identidade e o presidente ACM Neto "vai saber reorganizar o DEM". Além disso, ele acredita que o partido "vai fazer parte do centro democrático, que é o lugar onde sempre esteve nos últimos anos".

Centro Democrático

Garcia insiste que é possível manter DEM e PSDB como aliados nas campanhas estadual e federal em 2022. "Vou trabalhar para isso. Compreendo o momento difícil que o DEM vive por me perder e a outros quadros (como Eduardo Paes e Rodrigo Maia), mas acredito que o partido estará no centro democrático no ano que vem." Segundo ele, a identidade entre as siglas evoluiu nas últimas décadas. "A social democracia vai prevalecer nos próximos anos no Brasil pelo momento que estamos vivendo. A convivência dos dois partidos (PSDB e DEM, ex-PFL), desde o governador Mário Covas e o presidente Fernando Henrique com Marco Maciel, fez os tucanos ficarem mais liberais na economia e os democratas mais social democratas."

Prévias

"Acredito que a eleição em São Paulo a gente trata em ano par. Na hora certa o partido vai tomar sua decisão sobre 2022 e criar as regras. Não tratei ainda e não vou tratar agora deste assunto. Já em relação às prévias nacionais, eu penso diferente. Uma candidatura nacional precisa de tempo para ser consolidada. Defendo que as prévias (presidenciais) do PSDB ocorram no dia 17 de outubro deste ano. Temos já dois candidatos em campanha. Se o PSDB quiser ter protagonismo, precisa escolher seu candidato no dia 17 de outubro."

Garcia evita se manifestar sobre a tensão interna do PSDB em torno da definição dos nomes do partido para a sucessão paulista.

São citados nessa disputa, além do ex-governador Geraldo Alckmin, o deputado estadual Cauê Macris, o secretário Marco Vinholi e os prefeitos Orlando Morando (São Bernardo do Campo) e Duarte Nogueira (Ribeirão Preto).

"Vou me submeter às regras que o partido criar. Defendo que a discussão sobre o candidato em São Paulo seja depois da escolha do candidato à Presidência. A prioridade deve ser a candidatura nacional."

O vice-governador defende o modelo de prévias com eleição direta dos filiados, o que favorece Doria na disputa interna, pois São Paulo tem o maior número de filiados cadastrados no País.

Candidato próprio

Ele descarta a hipótese de o PSDB abrir mão de uma candidatura própria à sucessão de Bolsonaro, apesar do fraco desempenho de Doria nas pesquisas de intenção de voto até aqui. No último levantamento do instituto Datafolha, o tucano aparece com 3% das intenções de voto, em sexto lugar, atrás de Luciano Huck (4%); do ex-ministro Ciro Gomes (6%); do ex-juiz Sergio Moro (7%); do presidente Jair Bolsonaro (23%) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem ampla vantagem, com 41%.

"O PSDB sempre foi um partido programático, não pragmático. Disputou todas as eleições e deve continuar oferecendo nomes e projetos para o Brasil. Entro no PSDB com essa expectativa: que a gente tenha um candidato à Presidência da República. Meu candidato é João Doria."

Segundo ele, o fato de o atual governador vir a se afastar do cargo para tentar a Presidência (a exemplo do que fez ao abrir mão da Prefeitura para tentar o governo, fato que lhe causou desgaste à época), não deve prejudicar as pretensões de Doria. "Não será o primeiro nem o último a fazer isso. Ele é contra a reeleição. É legítimo buscar uma nova eleição em 2022."

Garcia também relativiza o desempenho fraco de Doria nas pesquisas de intenção de voto. "Hoje não tem intenção de voto, mas nível de conhecimento. As pessoas não vão parar no meio de uma pandemia para dizer em quem votar. Doria tem ativos para apresentar."

Vacina

"Tenho certeza que a vacina será o principal ativo (nas eleições), na medida que as pessoas creditem ela a São Paulo e ao esforço do governador João Doria. Ela se soma a outros ativos de boa gestão. Terá peso quando for 'linkada' com a volta da normalidade. A pandemia mudou o mundo e a expectativa da volta da normalidade, que vai acontecer com a vacina, terá um peso muito forte no consciente das pessoas."

Isolamento

"O gestor público é criticado por qualquer decisão que tome. Quando a decisão é pela restrição, a crítica é de quem não quer restringir. E vice-versa. Existe uma divisão de opinião no Brasil. A única forma de combater a pandemia durante muito tempo foi a restrição, e agora a vacina. São os dois instrumentos para enfrentar a pandemia. A compreensão da sociedade sobre isso é cada vez maior."

Promessas a cumprir

"Teremos todas as grandes obras em andamento em 2022. Algumas não serão entregues por conta da pandemia, que nos obrigou a olhar para dentro. Saímos na frente criando a Bolsa do Povo, que é um programa de proteção social. Essa não era uma agenda que estava colocada em 2018, mas pela pandemia foi colocada em 2021."

Geraldo Alckmin

Interessado em disputar mais uma vez o cargo, Alckmin já dialoga com outros partidos para se manter na disputa caso o PSDB atenda aos interesses de Doria e confirme Garcia como candidato à sucessão estadual. Mas o vice-governador quer paz com o antigo chefe. "Tenho um grande respeito pelo Geraldo e fui secretário dele por 8 anos. Espero que a gente esteja junto em 2022."

Ele insiste ainda que não é hora de pensar na eleição. "Recebi um convite unânime das bancadas. Dialoguei com os 200 prefeitos do partido e senti acolhimento. Não foi um convite, foi uma convocação. Não estamos discutindo eleição, mas filiação. Como filiado vou buscar conquistar o partido."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.