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Na contramão do mundo, emissões do Brasil crescem 9,5% na pandemia

Enquanto em países desenvolvidos a redução na poluição esteve ligada a menores atividade industrial e demanda de geração de energia, no Brasil houve alta no desmatamento da Amazônia e do Cerrado - Victor Moriyama/Amazônia em Chamas
Enquanto em países desenvolvidos a redução na poluição esteve ligada a menores atividade industrial e demanda de geração de energia, no Brasil houve alta no desmatamento da Amazônia e do Cerrado Imagem: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

Emílio Sant’Anna

29/10/2021 08h02Atualizada em 29/10/2021 09h02

Apesar de a pandemia ter derrubado a economia brasileira, o País teve em 2020 um aumento de 9,5% nas emissões de gases do efeito estufa em relação a 2019, o que mostra o Brasil na contramão da tendência mundial, de queda de quase 7% no ano passado.

Enquanto em países desenvolvidos a redução na poluição esteve ligada a menores atividade industrial e demanda de geração de energia, no Brasil houve alta no desmatamento da Amazônia e do Cerrado. A fragilização no combate aos crimes ambientais na gestão Jair Bolsonaro é alvo de críticas de grupos econômicos, sociais e científicos no País e no exterior.

Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, que reúne 70 organizações ligadas à área ambiental.

Conferência do clima

Na próxima semana, começa a 26.ª edição da Conferência do Clima (COP-26), em Glasgow, onde o Brasil pretende cobrar dos países desenvolvidos verbas para manter a floresta em pé. Segundo o relatório do Observatório do Clima, as emissões brutas no País atingiram 2,16 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) ante 1,97 bilhão de toneladas em 2019. Desde 2006, esse é o maior volume de emissões do Brasil.

Em 2020, a devastação na Amazônia chegou a 10.851 km², segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O SEEG utiliza dados do consórcio MapBiomas, que apresentam tendências semelhantes de alta no desmatamento, em meio ao avanço da grilagem de terras, do garimpo ilegal e da extração irregular de madeira.

As 782 milhões de toneladas de CO2e emitidas em 2020 na Amazônia pelas mudanças no uso do solo fazem com que a floresta, sozinha, seja uma das maiores fontes de emissão do planeta. Se ela fosse um país, seria o 9º maior emissor do mundo, à frente, por exemplo, da Alemanha. Se somadas às 113 milhões de toneladas de CO2e lançadas na atmosfera a partir do Cerrado, os dois biomas juntos poderiam ser o 8º país em maior emissão.

Menos renda

Em um ano marcado por queda de 4,1% no Produto Interno Bruto (PIB), as emissões de gases do efeito estufa do País cresceram, e a maior parte delas foi decorrente de atividade ilegal, que não cria nenhum tipo de riqueza. As emissões que de fato criam renda (como a agropecuária e a indústria) estão gerando menos, afetadas pela pandemia. Em 2019 o País gerava US$ 1.199 por tonelada de CO2e emitida; esse valor caiu para US$ 1.050 em 2020.

5º maior poluidor

Em relação às emissões globais, o Brasil é o 5º entre os maiores poluidores, com cerca de 3,2% do total mundial, atrás apenas de China, Estados Unidos, Rússia e Índia. O impacto do desmatamento nessa conta é tão grande que distorce até mesmo a média de emissão per capita. Em 2020, cada brasileiro emitiu a média de 10,2 toneladas brutas de CO2. A mundial é de 6,7 toneladas.

Dos cinco setores da economia responsáveis pela quase totalidade das emissões do Brasil, três tiveram alta (mudanças no uso da terra, agricultura, setor de resíduos), um teve queda (energia) e um seguiu estável (processos industriais). A aceleração da crise econômica fez com que as emissões do setor de energia regressassem aos níveis de 2011. As mudanças do uso da terra, porém, lançaram na atmosfera 23,6% a mais de gases, em relação a 2019.