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Relatório de Sínodo provoca 'tempestade' no Vaticano

Em Roma e na Cidade do Vaticano

14/10/2014 11h30Atualizada em 27/04/2015 19h18

 O Vaticano tentou minimizar nesta terça-feira (14) as "reações" ao relatório divulgado ontem sobre o Sínodo Extraordinário dos Bispos para a Família.

O documento, intitulado "Relatio Post Disceptationem", demonstrou uma possível abertura da Igreja Católica a gays e divorciados. À ANSA sacerdotes disseram que o texto provocou uma "verdadeira tempestade".

Para conter o alvoroço, a Secretaria-Geral do Sínodo afirmou que o relatório é apenas "um documento de trabalho", o qual "resume as intervenções feitas pelos bispos na primeira semana de reunião".

"Agora, o texto é levado para discussão em círculos menores", informou o Vaticano.

"O documento apresentado ontem poderia fazer qualquer pessoa acreditar que ele reflete a opinião do Sínodo como um todo, mas é só um resumo", disse, por sua vez, o cardeal sul-africano Wilfrid Fox Napier, moderador de um dos círculos menores.

"Tenho certeza que virá à tona a visão do Sínodo, como um todo, e não a visão de um grupo particular", completou. Já o cardeal austríaco Christoph Schoenborn relatou disse à imprensa italiana que a Igreja precisa se inclinar "diante de comportamentos humanos exemplares".

"Em Viena, conheci dois homens de tendência homossexual e que convivem há tempos, em um pacto civil. Vi como eles se ajudaram, principalmente quando um caiu e se machucou. Foi maravilhoso, humanamente. São coisas que precisamos reconhecer. Muitas vezes, mesmo se não aprovamos certas formas de sexualidade, devemos nos inclinar diante de comportamentos humanos exemplares", disse Schoenborn.

"É uma questão de humanismo. Não se pode pedir à Igreja para aprovar moralmente a união sexual, mas trata-se de reconhecer os valores humanos e verdadeiramente cristãos das pessoas", defendeu.

De acordo com um boletim da Santa Sé, alguns padres, durante os debates ocorridos após a divulgação do relatório, apoiaram a necessidade da Igreja "acolher" os gays, mas com "certa prudência".

O documento, porém, recebeu algumas críticas por quase não conter a palavra "pecado". Ontem, o cardeal Peter Erdo, relator-geral do Sínodo, leu a "relatio post disceptationem", com 58 pontos propostos ao longo da semana passada por cerca de 200 bispos reunidos no Vaticano.   

No texto, foi possível notar uma inovação em relação ao tratamento atual dado pela Igreja Católica a divorciados e homossexuais. O relatório ressalta o "sofrimento" de quem "passou por separações ou divórcios", sem negar também a "problemática moral relacionada às uniões homossexuais".

O texto ainda pede atenção aos filhos de casais do mesmo sexo ou divorciados. De acordo com o documento, a solução para os diversos problemas pastorais deve ser encontrada através da "inclusão" e da "conciliação", já que a Igreja precisa estar disposta a acolher "o lado positivo da vida das pessoas, acompanhando-a com respeito e atenção".   

O texto do sínodo reflete uma postura adotada pelo papa Francisco de oposição mais branda aos divorciados e homossexuais. Desde que foi eleito, em março de 2013, o Pontífice tem demonstrado abertura aos temas. Ele já chegou a dizer que não se pode julgar as pessoas pelas suas preferências sexuais, além de ser eleito "personalidade do ano" pela revista norte-americana gay "The Advocate".