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"Somos irmãos", diz papa Francisco a líder ortodoxo russo

Adalberto Roque/AFP
Imagem: Adalberto Roque/AFP

Em Havana

12/02/2016 18h08Atualizada em 12/02/2016 20h42

"Finalmente!", foi a exclamação do papa Francisco ao se encontrar com o patriarca de Moscou, Kirill, na primeira reunião em mil anos entre os líderes das igrejas Católica e Ortodoxa Russa.

"Somos irmãos", disse o pontífice logo em seguida, em espanhol.

A certo ponto, Kirill afirmou: "Agora as coisas serão mais fáceis". Como resposta, Jorge Bergoglio declarou: "Está claro que essa é a vontade de Deus". Os dois líderes estão acompanhados por tradutores.

O inédito encontro começou logo após o desembarque do papa no Aeroporto Internacional José Martí, em Havana, capital de Cuba.

Ao descer do avião da Alitalia que o levou, Francisco foi recebido pelo presidente Raúl Castro, que o acompanhou até o local do cara a cara com o líder ortodoxo.

Os dois religiosos se cumprimentaram com um afetuoso abraço e beijos na bochecha. A reunião durou cerca de duas horas, ao fim das quais eles trocaram presentes, fizeram um breve discurso para a imprensa e assinaram uma declaração conjunta, acertada previamente pelos assessores diplomáticos de ambos os lados.

Jorge Bergoglio deu ao colega um relicário com uma relíquia de São Cirilo e um cálice. Já o chefe ortodoxo entregou ao argentino uma cópia da "Mãe de Deus de Kazan", um dos principais ícones do Patriarcado de Moscou e venerada em toda a Rússia.

"Foram tantas as dificuldades, mas nos últimos 10 anos tentamos superá-las. Ainda que muitas dessas dificuldades não tenham desaparecido, hoje temos a possibilidade de preencher nossos corações", afirmou Kirill. Já com a imprensa presente, Francisco agradeceu ao povo cubano e a Raúl Castro e disse que, se Cuba continuar nesse caminho, será uma espécie de "capital da união".

União cristã

A declaração conjunta assinada pelos líderes expressa a vontade de ambos de que o encontro contribua para o "restabelecimento dessa unidade desejada por Deus e pela qual Cristo rezou".

"Pedimos à comunidade internacional que aja urgentemente para evitar novas expulsões de cristãos do Oriente Médio", diz o texto, que também cobra ajuda humanitária às áreas de Síria e Iraque afetadas pela violência e pelo terrorismo, bem como aos refugiados que vivem nos países limítrofes.

O documento ainda aborda temas como a luta contra a pobreza e pela preservação do meio ambiente, duas das principais bandeiras de Bergoglio. Além disso, defende que a família se baseia no matrimônio, um "ato livre e fiel de amor entre um homem e uma mulher".

"Lamentamos que outras formas de convivência sejam hoje colocadas no mesmo nível dessa união, enquanto o conceito de paternidade e maternidade como vocação particular do homem e da mulher no matrimônio, santificado pela tradição bíblica, é deposto pela consciência pública", ressalta a declaração conjunta.

"Nós conversamos como irmãos, temos o mesmo batismo, somos bispos. Falamos das nossas igrejas e entramos em acordo sobre o fato de que a união se constrói caminhando. Falamos claramente, sem meias palavras", afirmou o papa.

"Esperança"

Segundo o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, a reunião é um "grande sinal de esperança" e um "momento que dá coragem e ânimo para continuar tentando construir mais relações de ponte, encontro e diálogo".

Apenas neste ano de Jubileu da Misericórdia, o papa já visitou a Sinagoga de Roma, recebeu convite para ir à Grande Mesquita da capital italiana, anunciou que viajará, em outubro, à Suécia para as celebrações pelos 500 anos da Reforma Luterana e se reuniu com Kirill. E estamos somente em fevereiro.

O encontro acontece em um momento no qual Jorge Bergoglio tem insistido na questão da união entre os cristãos, principalmente por conta das perseguições no Oriente Médio e na África pelo jihadismo islâmico. Após a histórica aparição ao lado do patriarca, Francisco segue para o México, onde ficará até o dia 18 de fevereiro.