Topo

Os 3 anos do papa Francisco e da "cultura do encontro" como política

O patriarca da Igreja Ortodoxa Russa encontra-se com o papa Francisco em Cuba - Adalberto Roque/AFP
O patriarca da Igreja Ortodoxa Russa encontra-se com o papa Francisco em Cuba Imagem: Adalberto Roque/AFP

Fausto Gasparroni

Na Cidade do Vaticano

12/03/2016 16h31

O Pontificado da "cultura do encontro", implantado desde que Jorge Mario Bergoglio tornou-se o papa Francisco, completa três anos neste domingo (13).

O seu método foi novamente explicado no último dia 12 de fevereiro, durante o voo que o levava de Havana (Cuba) para Cidade do México, logo após o encontro histórico com o patriarca Cirilo --o primeiro abraço da história entre um chefe da Igreja de Roma e um da Igreja Ortodoxa Russa.

"A unidade se faz caminhando. Uma vez eu disse que se a unidade se faz no estudo, estudando teologia e o resto, talvez o Senhor verá e ainda estaremos sendo unidos. A unidade se faz caminhando, caminhando que, ao menos, o Senhor quando nos ver, nos encontrará caminhando", destacou.

Para o Pontífice, em seus três anos de Papado, essa sempre foi a prioridade e a modalidade que permitiu que ele "levasse para casa" resultados que seus antecessores sonharam, como a histórica reaproximação com o Patriarcado de Moscou e todos os russos.

Antes de tudo, o sucessor de Bento 16 busca o encontro pessoal, a manifestação concreta de proximidade e vizinhança com o gesto do abraço e do aperto de mãos, a conversa franca e amigável "cara a cara" com o interlocutor. Esses são os sinais de uma ponte que é construída, de uma distância que é diminuída e todo o resto --as realizações postas no papel e a atuação-- são feitas depois. Um pouco como o general Charles De Gaulle, e antes como Napoleão, que diziam que assim que as decisões são tomadas, a "administração nos seguirá".

"Eu me senti como se sente quando estamos na frente de um irmão e também ele me disse isso. Dois bispos que falam das situações de suas Igrejas, em primeiro lugar, e depois, sobre a situação do mundo, das guerras, das guerras que estão em tantos pedaços e envolvem todos. Também da situação da Ortodoxia e do próximo Sínodo Pan-Ortodoxo", disse ainda sobre o encontro com Cirilo.

Para Francisco, menos decisivo do que o encontro e a conversa pessoal e fraterna, era a declaração conjunta firmada naquela ocasião, sobre a qual já previa críticas e ressalvas dizendo que "haverá tantas e tantas interpretações". Para ele, aquilo pouco contava. O importante é que, mais uma vez, havia o sucesso da "cultura do encontro". O seu verdadeiro cavalo de batalha havia vencido e tem percursos ainda difíceis de imaginar. Porém, as comissões teológicas, os escritórios diplomáticos, as relações interconfessionais deverão adaptar-se a nova situação. "A administração nos seguirá".

Para Bergoglio, o campo ecumênico funciona assim: primeiro papa a visitar um templo valdês, primeiro em uma comunidade pentecostal --e nas duas situações ele pediu "perdão" pelas perseguições do passado--, e, em novembro, ele irá para a Suécia para celebrar os 500 anos da Reforma de Lutero.

Já no campo inter-religioso, ele costurou a fenda dolorosa com a universidade de Al-Azhar após o discurso de Joseph Ratzinger em Ratisbona e em breve será o primeiro Pontífice da história na Grande Mesquita de Roma, a maior do mundo Ocidental.

Papa político

No campo político, além do desgelo das relações diplomáticas promovido entre Estados Unidos e Cuba e a pacificação entre governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Bergoglio fez grandes discursos no Congresso dos EUA e na sede das Nações Unidas em Nova York.

Na questão social, suas pregações atingem sempre um papel profético, como a "Terceira Guerra Mundial em partes", a aceleração dos cuidados na questão dos imigrantes e contra a "cultura do descarte", os alarmes sobre as mudanças climáticas com o lançamento de sua encíclica ("Laudato Sì") e a transformação do documento papal em texto-guia para líderes da política de todo o mundo.

Não é exagerado dizer que exista, no momento, algum outro líder mundial com tamanha moral e com tanta credibilidade.

Um papa que em seu Ano Santo Extraordinário quis colocar a marca de uma Igreja que não tem mais a ética exclusiva da misericórdia. Uma Igreja em que a missão primária é a proximidade aos necessitados, aos excluídos, aos marginalizados.

Nesse quesito, é longo o elenco de manifestações de proximidade do sucessor de Bento 16: dos sem-teto aos encarcerados, dos refugiados acolhidos no Vaticano e nas paróquias aos doentes, das crianças aos idosos, das pessoas com deficiência aos viciados em drogas.

Essa postura é vista em todos os outros tipos de relação, com compreensão, acolhimento e diálogo. Seja sobre a atualidade global, os relacionamentos entre povos, a necessidade de por fim aos conflitos, a ajuda aqueles que sofrem, o alívio para quem foge das guerras, da fome, das privações, da desertificação.

Assim como na mensagem deixada por aquele santo que este papa leva no nome: Francisco, o santo dos pobres, da paz e da proteção da criação de Deus.