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2016, O ano em que o mundo perdeu Fidel Castro

27/12/2016 18h20

SÃO PAULO, 27 DEZ (ANSA) - Por Lucas Rizzi - De todas as mortes que marcaram um 2016 repleto de acontecimentos históricos, talvez a mais representativa de todas seja a de Fidel Castro.   

Personagem que simbolizou como ninguém as tensões ideológicas da segunda metade do século 20, o líder da Revolução Cubana faleceu no último dia 25 de novembro, poucos meses depois de ter completado 90 anos de vida.   

É verdade que o "Comandante" já não ditava os rumos da ilha havia uma década, mas é inegável o peso que sua figura ainda exercia em Cuba e fora dela. Em suas visitas ao país caribenho, líderes internacionais, incluindo o papa Francisco, não perdiam a oportunidade de se encontrar com um Fidel recluso e debilitado, que passou de presidente a guia intelectual, comentando em seus esporádicos artigos no jornal "Granma" temas como meio ambiente, política externa e, claro, a reaproximação com os Estados Unidos.   

Fidel Castro governou Cuba com mão de ferro por quase 50 anos, tornando-se o homem que mais desafiou a maior potência do planeta. Nesse período, levou o mundo à beira de uma guerra nuclear, sofreu diversas tentativas de assassinato e foi alvo de um embargo econômico que perdura até hoje.   

No âmbito interno, promoveu a reforma agrária e universalizou os serviços de saúde e educação, mas esmagou dissidentes e provocou fugas em massa para a Flórida, onde cubanos e descendentes celebraram sua morte. O aparato repressivo era comandado por seu irmão, Raúl Castro, a quem delegou o poder em 2006, de maneira interina, e em 2008, já de forma definitiva.   

É Raúl quem controla o processo de reaproximação com os Estados Unidos, que em 2016 incluiu a retomada dos voos comerciais entre os dois países após mais de meio século de interrupção, o desembarque das primeiras empresas norte-americanas no país latino, apesar do bloqueio ainda vigente, e uma histórica visita de Barack Obama.   

No entanto, o "degelo" em Washington e Havana está rodeado de incertezas desde a inesperada vitória de Donald Trump na disputa pela Casa Branca. Dois dias após a eleição, o presidente de Cuba parabenizou o magnata pelo resultado, mas a cortesia ficou por aí. Trump já ameaçou rever a reaproximação entre os dois países assim que desalojar Obama, embora durante a campanha tenha adotado uma postura mais aberta.   

"Do ponto de vista interno, a morte de Fidel não altera o que já está planejado. Ele já tinha saído da administração direta, não tinha mais influência no processo político, era mais um líder intelectual. Mas dependendo do que o novo governo dos EUA quiser, pode haver alterações", explica o coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp, Luis Fernando Ayerbe.   

Segundo ele, com a morte de Fidel, Trump pode seguir dois caminhos: acreditar em um enfraquecimento do regime cubano e endurecer sua política contra o castrismo ou enxergar no falecimento do ex-presidente o fim do antagonismo nas relações entre Washington e Havana, mantendo o caminho aberto para as negociações.   

"A morte de Fidel produziu esse fator de incerteza nas escolhas de alguém que é considerado imprevisível", acrescenta Ayerbe. De toda forma, o fim do líder da revolução parece destinado apenas aos livros de história, sem ter poder de mudar os rumos do país, ainda que tenha chegado fundo no coração dos cubanos. Seja daqueles que participaram das cerimônias nos nove dias de luto por Fidel, seja daqueles que saíram às ruas de Miami para festejar o falecimento de seu repressor. Com emoção, mas sem traumas. (ANSA)
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