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Líder mapuche acusada de duplo homicídio é barrada em encontro com papa Francisco

Francisca Linconao, líder mapuche acusada de duplo homicídio por crime ocorrido em 2013 - Luis Hidalgo/AP
Francisca Linconao, líder mapuche acusada de duplo homicídio por crime ocorrido em 2013 Imagem: Luis Hidalgo/AP

17/01/2018 16h52

Uma líder indígena mapuche foi impedida pela polícia do Chile de participar de um encontro do papa Francisco com representantes das comunidades locais nesta quarta-feira (17), em Temuco, quase 700 quilômetros ao sul de Santiago.   

Francisca Linconao, "machi" (líder espiritual) dos mapuches chilenos, disse que queria encontrar Jorge Bergoglio "cara a cara" ou ao menos lhe entregar uma carta para que ele interviesse em seu favor. No entanto, acabou bloqueada por policiais no convento onde acontecia a reunião com líderes indígenas, devido a uma acusação de duplo homicídio referente a um crime ocorrido em 2013.   

"Ao senhor, como máxima autoridade da Igreja Católica e líder internacional da paz, peço que convide o Estado chileno a rever minha situação e que intervenha neste novo processo, no qual tentam me condenar a 40 anos de prisão, sem nenhuma prova", diz a carta, que foi distribuída à imprensa.   

Linconao é acusada de envolvimento nos homicídios do empresário Werner  Luchsinger e de sua esposa, Vivianne Mackay, em janeiro de 2013. O único condenado pelo crime até o momento é outro "machi" mapuche, Celestino Cordova.   

A reunião - um almoço - em Temuco contou com as presenças de 11 habitantes da região de Araucanía, incluindo oito índios mapuche, e do bispo local, Hector Eduardo Vargas Bastidas. O cardápio teve pratos italianos, de pão toscano a risoto de açafrão e panna cotta.   

Na época da colonização, os mapuches ocupavam uma vasta área nos territórios que correspondem hoje ao sul da Argentina e do Chile e resistiram durante muitos séculos aos invasores espanhóis.   

Apenas em 1883, o Estado do Chile conseguiu ocupar aquela que é atualmente a região de Araucanía, cuja capital é Temuco, mas a "questão mapuche" continua em aberto. Sete meses atrás, a presidente Michelle Bachelet pediu perdão ao povo indígena, "de modo humilde e solene", "pelos erros e horrores cometidos ou tolerados pelo Estado".   

Os mapuches reivindicam o reconhecimento do "genocídio" contra seu povo e que o governo conceda indenizações pelos danos causados pelas autoridades. No entanto, algumas facções defendem a luta armada como método legítimo para exigir seus direitos.   

"Uma cultura de mútuo reconhecimento não pode ser construída na base da violência e da destruição, que, ao fim, cobram o preço da vida humana", alertou o papa nesta quarta-feira (17).