Líder mapuche acusada de duplo homicídio é barrada em encontro com papa Francisco
Uma líder indígena mapuche foi impedida pela polícia do Chile de participar de um encontro do papa Francisco com representantes das comunidades locais nesta quarta-feira (17), em Temuco, quase 700 quilômetros ao sul de Santiago.
Francisca Linconao, "machi" (líder espiritual) dos mapuches chilenos, disse que queria encontrar Jorge Bergoglio "cara a cara" ou ao menos lhe entregar uma carta para que ele interviesse em seu favor. No entanto, acabou bloqueada por policiais no convento onde acontecia a reunião com líderes indígenas, devido a uma acusação de duplo homicídio referente a um crime ocorrido em 2013.
"Ao senhor, como máxima autoridade da Igreja Católica e líder internacional da paz, peço que convide o Estado chileno a rever minha situação e que intervenha neste novo processo, no qual tentam me condenar a 40 anos de prisão, sem nenhuma prova", diz a carta, que foi distribuída à imprensa.
Linconao é acusada de envolvimento nos homicídios do empresário Werner Luchsinger e de sua esposa, Vivianne Mackay, em janeiro de 2013. O único condenado pelo crime até o momento é outro "machi" mapuche, Celestino Cordova.
A reunião - um almoço - em Temuco contou com as presenças de 11 habitantes da região de Araucanía, incluindo oito índios mapuche, e do bispo local, Hector Eduardo Vargas Bastidas. O cardápio teve pratos italianos, de pão toscano a risoto de açafrão e panna cotta.
Na época da colonização, os mapuches ocupavam uma vasta área nos territórios que correspondem hoje ao sul da Argentina e do Chile e resistiram durante muitos séculos aos invasores espanhóis.
Apenas em 1883, o Estado do Chile conseguiu ocupar aquela que é atualmente a região de Araucanía, cuja capital é Temuco, mas a "questão mapuche" continua em aberto. Sete meses atrás, a presidente Michelle Bachelet pediu perdão ao povo indígena, "de modo humilde e solene", "pelos erros e horrores cometidos ou tolerados pelo Estado".
Os mapuches reivindicam o reconhecimento do "genocídio" contra seu povo e que o governo conceda indenizações pelos danos causados pelas autoridades. No entanto, algumas facções defendem a luta armada como método legítimo para exigir seus direitos.
"Uma cultura de mútuo reconhecimento não pode ser construída na base da violência e da destruição, que, ao fim, cobram o preço da vida humana", alertou o papa nesta quarta-feira (17).
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