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Entenda a crise política que coloca em xeque o governo da Itália

24.set.2018 - Primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, e o Ministro do Interior, Matteo Salvini - Alessandro Bianchi/Reuters
24.set.2018 - Primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, e o Ministro do Interior, Matteo Salvini Imagem: Alessandro Bianchi/Reuters

Em São Paulo e Roma

09/08/2019 10h08

Após 14 meses no poder, os partidos Liga Norte e Movimento 5 Estrelas (M5S) enfrentam uma grave crise política que coloca em xeque a continuidade do governo da Itália. Há rumores de que o país poderia convocar novas eleições para outubro.

A Liga Norte, de Matteo Salvini, forma desde junho de 2018 um governo com o partido Movimento 5 Estrelas (M5S), do ex-comediante Beppe Grillo e do vice-premier e ministro do Desenvolvimento Econômico Luigi Di Maio.

Apesar de terem posições políticas contrárias, as duas legendas, que foram as mais votadas nas eleições gerais do ano passado, uniram-se em torno de um "contrato" para formar um governo.

No entanto, nos últimos meses, foram cada vez mais constantes os momentos de instabilidade e choque entre a Liga e o M5S devido a divergências em projetos de lei e problemas dentro do próprio governo.

O estopim para a crise ocorreu na última quarta-feira (7), quando uma moção apresentada pelo M5S foi bloqueada no Senado. O partido queria frear o projeto de lei de trem de alta velocidade (TAV) entre Turim e Lyon, na França, que é fortemente defendido pela Liga. O placar da votação evidenciou as divergências e fez Salvini anunciar que o governo não tinha mais capacidade de garantir a maioria.

Embalado pelo fato da Liga Norte ter sido o partido italiano mais votado nas eleições ao Parlamento Europeu em 2019, Salvini passou, então, a pressionar para a convocação de novas eleições na Itália. A Liga apresentou até uma moção de desconfiança contra o atual primeiro-ministro, Giuseppe Conte, no Senado.

Com a retirada do apoio da Liga ao governo, Conte tem duas opções: apresentar imediatamente a própria renúncia ao presidente Sergio Mattarella ou comparecer ao Parlamento para verificar seu apoio.

O Parlamento, no entanto, está de férias e é provável que a moção contra o premiê seja votada a partir do dia 20, depois do feriado de "Ferragosto". Se Conte não obtiver o apoio do Parlamento durante a votação da moção, deverá também apresentar sua renúncia.

A partir daí, o presidente pode dissolver o Parlamento e convocar eleições em um prazo mínimo de 45 dias e máximo de 70. Outra possibilidade do chefe de Estado seria manter a composição atual do Parlamento e designar um novo primeiro-ministro para formar governo - opção rejeitada pela Liga Norte e pelo M5S.

"Espero que Conte não pense em formar um outro governo como premiê, diferente desse. Sempre dissemos que, depois deste governo, a única alternativa seria convocar eleições", afirmou Salvini à ANSA.

"Se eu me candidataria ao cargo de premiê? Obviamente", completou Salvini, em um comício em Pescara. "Peço aos italianos para me darem plenos poderes para fazer aquilo que tínhamos prometido", exaltou.

Novas eleições na Itália

No cenário de novas eleições, o partido de Salvini seria o melhor beneficiado, de acordo com uma pesquisa de 31 de julho do jornal "Corriere della Sera".

Caso as eleições ocorressem hoje, a sondagem indica que a Liga Norte teria 36% das intenções de voto e bastaria uma aproximação com a coalizão de centro-direita composta pelo Irmãos da Itália (7,5%) e com o Força Itália (7,1%) para obter a maioria. O M5S aparece na pesquisa com 17,8% das intenções de voto, enquanto o Partido Democrático (PD), de esquerda, detém 20,5%.

Cenários possíveis

Centro-direita unida: Os partidos Liga Norte, Força Itália (do ex-premier Silvio Berlusconi), e Irmãos da Itália (Fratelli d'Italia - FDI, de Georgia Meloni) poderiam formar uma coalizão e obter dois terços do Parlamento. Nesse cenário, a oposição seria feita pelo PD.

Liga Norte sozinha: Mesmo que Salvini se candidate sem alianças, não deve obter mais de 37% dos votos. A Liga seria o primeiro grupo parlamentar, com 283 cadeiras na Câmara e 143 no Senado, mas não teria maioria.

Liga aliada somente ao FDI: A terceira opção seria a Liga se juntar apenas ao partido Irmãos da Itália, deixando o Força Itália de fora. Mas apesar de ter a maioria no Parlamento, ainda não chegaria aos dois terços propostos na primeira opção.