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Partidos apresentam moções por dissolução de grupo neofascista na Itália

O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi,  é recebido pelo secretário-geral da Confederação Geral Italiana do Trabalho, principal sindicato do país - Filippo Monteforte/AFP
O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, é recebido pelo secretário-geral da Confederação Geral Italiana do Trabalho, principal sindicato do país Imagem: Filippo Monteforte/AFP

Em Roma

11/10/2021 08h58

Partidos de centro e esquerda da Itália apresentaram hoje moções para obrigar o governo a dissolver o movimento neofascista Força Nova, que invadiu a sede do principal sindicato do país durante um protesto contra um certificado sanitário anticovid no último fim de semana.

O primeiro texto é de autoria do PD (Partido Democrático), maior legenda de centro-esquerda na Itália, enquanto o segundo é assinado por parlamentares da sigla de centro IV (Itália Viva) e do PSI (Partido Socialista Italiano). Ambos foram protocolados no Senado.

"Nossa moção pede que o governo, através de instrumentos previstos pelas leis vigentes, dissolva a organização neofascista Força Nova e todos os outros grupos que remetem ao fascismo. Esperamos que todas as forças políticas autenticamente democráticas a apoiem", disseram as líderes do PD no Senado, Simona Malpezzi, e na Câmara, Debora Serracchiani.

Na prática, as duas moções pedem a ativação de um artigo da Constituição Italiana que "proíbe, sob qualquer forma, a reorganização do partido fascista". "Não há dúvidas de que o Força Nova seja uma organização política de extrema-direita inspirada no fascismo", diz o texto apresentado pelo PD.

Fundado em 1997, o FN recusa o rótulo de "neofascista", mas suas manifestações são sempre repletas de referências nostálgicas ao ditador Benito Mussolini e a símbolos da era fascista, como a saudação romana.

No último sábado (9), o grupo participou de um protesto em Roma contra a exigência de certificado sanitário anticovid em todos os locais de trabalho na Itália, regra que entra em vigor em 15 de outubro.

Durante o ato, militantes do Força Nova instaram a multidão a atacar sedes das instituições, como o Palácio Chigi, que abriga o gabinete do premiê Mario Draghi, e lideraram uma invasão à Cgil (Confederação Geral Italiana do Trabalho), principal sindicato do país.

A ação fez renascer o fantasma do "squadrismo", tática paramilitar de intimidação contra oponentes incorporada pelo fascismo logo em seus primórdios. "O episódio, sem sombra de dúvidas, entra no cânone do squadrismo armado do qual o fascismo se valeu entre 1920 e os anos sucessivos para a eliminação de adversários políticos", diz a moção do PSI e do IV contra o Força Nova.

O FN é historicamente próximo do partido de extrema-direita FdI (Irmãos da Itália), que hoje lidera praticamente todas as pesquisas de intenção de voto em âmbito nacional. A própria líder do FdI, a popular deputada Giorgia Meloni, admitiu que a ação do Força Nova foi "squadrista", mas não quis defini-la como "fascista".

"Com certeza é violência e squadrismo, porém não conheço a origem. Se é fascista ou não é fascista, não é esse o ponto. O ponto é que é violência, é squadrismo, e essa coisa deve ser sempre combatida", declarou Meloni no último domingo (10).

Seis pessoas foram presas após a invasão da Cgil, incluindo Roberto Fiore, fundador e líder do Força Nova. O sindicato também recebeu a visita de Draghi hoje.