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Manifestantes antivacina retomam ruas da Itália e elegem premiê como 'inimigo número 1'

15.jan.2022 - Pessoa usa uma máscara com um código QR durante uma manifestação contra o passaporte de vacina e imposições de novas restrições diante de um forte aumento das infecções por covid-19 na Piazza San Giovanni, em Roma, Itália - AFP
15.jan.2022 - Pessoa usa uma máscara com um código QR durante uma manifestação contra o passaporte de vacina e imposições de novas restrições diante de um forte aumento das infecções por covid-19 na Piazza San Giovanni, em Roma, Itália Imagem: AFP

15/01/2022 15h52

Movimentos antivacina voltaram às ruas de Roma neste sábado (15) para protestar contra as restrições a não vacinados impostas pelo governo do premiê da Itália, Mario Draghi, definido pelos negacionistas como "inimigo número 1".

O protesto ocorreu na Piazza San Giovanni e exibiu inclusive um vídeo do arcebispo Carlo Maria Viganò, um dos principais desafetos do papa Francisco na Igreja Católica.

"Aquilo que está acontecendo é de matriz anticristã. Seu protesto é corajoso e parte de princípios fundamentais, como o direito às liberdades naturais", afirmou o religioso, que já deu entrevistas declarando que os governos "enganaram" os cidadãos por quase dois anos.

"Jesus Cristo vai lhes salvar, e não uma vacina experimental produzida com fetos abortados", acrescentou Viganò, ignorando que os imunizantes em uso no mundo não estão em fase de testes.

Muitas vacinas em circulação hoje em dia, contra as mais diversas doenças, foram desenvolvidas com culturas celulares provenientes de tecidos de fetos abortados espontaneamente nos anos 1960 e 1970.

Como praticamente todos os imunizantes utilizam vírus inativos ou atenuados para gerar resposta imune, pesquisadores precisam replicá-los em culturas celulares para poder desenvolver e produzir vacinas.

Contudo, não se trata de células originais dos fetos, muito menos de bebês "abortados", como disse Viganò, e esses componentes também não entram na fórmula dos imunizantes. O próprio Vaticano já afirmou que o uso de vacinas desenvolvidas com a ajuda dessas culturas celulares é "moralmente aceitável".

Ex-núncio apostólico nos EUA, Viganò é inimigo declarado de Jorge Bergoglio e, em 2018, chegou a acusá-lo de ter se calado sobre denúncias de abusos sexuais cometidos pelo ex-cardeal americano Theodore McCarrick, que seria expulso do clero.

Além disso, é um dos pivôs do escândalo "Vatileaks", que vazou documentos sigilosos e culminaria na renúncia de Bento XVI. Em 2016, o arcebispo foi removido por Francisco da Nunciatura em Washington e forçado a se aposentar.

"Inimigo número 1"

A manifestação em Roma reuniu algumas milhares de pessoas, a maioria delas sem máscaras - cujo uso ao ar livre é obrigatório na Itália -, e escolheu Draghi como principal alvo.

O premiê bancou recentemente a obrigatoriedade de vacinação anti-Covid para maiores de 50 anos e impediu o acesso de pessoas não imunizadas ou que não estejam recém-curadas em locais como cinemas, academias, restaurantes, eventos esportivos e transportes públicos.

"Estamos vivendo um regime anticonstitucional. Draghi é o inimigo público número 1, e precisamos derrubar esse governo.

Estão preparando uma guerra", disse um manifestante. "Gente como nós não desiste nunca", reforçou o ator Enrico Montesano.

A Itália registrou nos últimos meses diversas ameaças de antivax contra defensores da vacinação e membros do governo e até uma invasão à sede da Confederação-Geral Italiana do Trabalho (Cgil), principal sindicato do país e acusada pelos negacionistas de não defender a liberdade da classe trabalhadora.

Recentemente, a imunologista Antonella Viola foi colocada sob escolta policial após receber uma carta com balas de arma de fogo em seu escritório, apenas por ter defendido publicamente a vacinação de crianças contra a Covid.