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Aumentam casos de roubo de cabelo humano nos Estados Unidos

07/06/2011 04h50

Uma onda de assaltos a salões de cabeleireiros nos Estados Unidos está colocando em foco o cada vez mais lucrativo comércio de cabelos humanos.

Em todo o país, salões de beleza estão em estado de alerta após uma série de roubos em que cabelo humano avaliado em milhares de dólares foi levado dos estabelecimentos.

No incidente mais recente, em Atlanta, na Georgia, ladrões dirigiram um veículo contra a porta de uma loja que vende cabelos para salões da cidade e escaparam com material avaliado em US$ 10 mil.

Em Houston, um assalto contra o salão My Trendy Place rendeu aos ladrões US$ 120 mil em cabelo indiano "virgem", ou seja, sem tratamentos químicos.

Na moda

Cantoras como Beyoncé, Gwen Stefani e Christina Aguilera reforçam e popularizam no mundo um certo ideal de beleza - representado pela mulher de cabelos volumosos e longos - que existe há décadas na comunidade afro-americana.

Mas a proprietária do My Trendy Place, Lisa Amosu, lembra que nem todas as usuárias de apliques de cabelos estão seguindo a moda.

"Nossos apliques tinham sido feitos especialmente para sobreviventes de câncer e para mulheres que normalmente não têm como pagar por esses acessórios", dise Amosu.

Em março, o proprietário de um salão em Michigan foi morto quando tentou impedir que cabelo avaliado em torno de US$ 10 mil fosse roubado.

Entre outros roubos ocorridos recentemente estão um assalto no Texas e dois na Califórnia, em que bandidos levaram cabelo avaliado em torno de US$ 85 mil, US$ 60 mil e US$ 10 mil, respectivamente.

O sargento Frank Quinn, da polícia de Houston, disse que o material roubado é vendido pela internet em sites como eBay e Craiglist, ou informalmente.

'Vício'

Segundo Ceron, proprietário de um salão exclusivo em Houston, as mulheres adoram o comprimento e volume que os apliques dão aos seus cabelos.

Ele contou que o número de apliques que o salão faz por semana subiu de cinco ou seis para 15 a 20.

"Cabelo de qualidade é muito caro por conta da demanda, mas (colocar apliques) está se tornando quase uma droga. As pessoas precisam daquilo", disse.

"Muitas das minhas clientes retiram o aplique (para manutenção) e o querem de volta no mesmo dia, estão tão viciadas!"

"Em um salão médio, você paga entre US$ 4 mil e US$ 5 mil por um feixe (de cabelos) e as pessoas costumam comprar três ou quatro feixes, para estilos e cores diferentes", explicou.

Ceron disse que uma cabeça de tamanho médio pode requerer três ou quatro feixes. Para entrelaçar cada feixe, são necessários cerca de 90 minutos. Os feixes têm de ser trocados de três em três meses para que as cores sejam retocadas.

Comércio internacional

Salões ocidentais compram o cabelo humano de empresas que importam o produto da Índia.

Em 2008, um documentário da BBC revelou que algumas mulheres indianas estavam tendo suas cabeças raspadas voluntariamente em rituais religiosos.

Como parte do programa, a cantora britânica Jamelia retraçou a rota do cabelo humano, de volta para a Índia e Rússia.

Ela jurou nunca mais usar apliques.

Alguns especialistas estão pedindo para que a cola usada nos apliques seja proibida. Eles alegam que a substância prejudica o couro cabeludo e os cabelos.

O professor Neal Lester, da Arizona State University, no Arizona, Estados Unidos, vem estudando a cultura associada ao cabelo há 20 anos.

Segundo ele, o uso de apliques é uma tradição estabelecida há muito tempo na comunidade afro-americana do país.

Lester disse que um dos primeiros exemplos que viu foi o da cantora Janet Jackson, atuando no filme Sem Medo no Coração, em 1993.

Auto-imagem

Segundo o acadêmico, um documentário recente sobre o assunto, Good Hair, apresentado pelo comediante Chris Rock e lançado em 2009, talvez possa ajudar a explicar a onda de assaltos.

O filme teria chamado a atenção do público para os altos valores envolvidos no comércio de cabelo humano.

Os extremos a que ladrões e consumidores recorrem para satisfazer a demanda por cabelo longo e liso revelam muito sobre a preocupação da sociedade com a questão da imagem, disse Lester.

"Isso tem a ver com a forma como nos sentimos a respeito de nós mesmos e como absorvemos essas imagens do que significa ser bonito".