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Formação no MIT e Harvard 'me deu asas', diz empresário e pesquisador brasileiro

Fábio Thiers mora em Nova York - Arquivo pessoal
Fábio Thiers mora em Nova York Imagem: Arquivo pessoal

Caio Quero

De Nova York para a BBC Brasil

10/04/2012 07h50

Uma ferramenta online para facilitar e baratear a criação e o desenvolvimento de remédios e fazer com que novos medicamentos acabem chegando mais rapidamente ao consumidor.

É o que promete o pesquisador brasileiro Fábio Thiers que, após um mestrado, um PhD e dois pós-doutorados em duas das mais respeitadas instituições de ensino dos EUA, dirige, a partir de Nova York, uma empresa que pode se tornar uma espécie de "LinkedIn" da indústria farmacêutica.

O pernambucano Thiers faz parte daquilo que se convencionou chamar de "fuga de cérebros", a migração de profissionais e cientistas altamente qualificados de países pobres ou emergentes para mercados mais desenvolvidos.

Dedicando-se à pesquisa desde os tempos em que cursava Medicina na Universidade Federal de Pernambuco, Thiers foi convidado, pouco após se formar, a se juntar à equipe de pesquisadores da Harvard Medical School, nos Estados Unidos, onde desembarcou em 1998.

Alguns anos depois, enquanto participava de um programa que une a Universidade de Harvard e o MIT (Massachusetts Institute of Technology) - um dos mais importantes centros de excelência em ciência e tecnologia dos Estados Unidos -, Thiers começou a se interessar pelo modo como são feitos os testes clínicos para o desenvolvimento de novos remédios.

"Essa atividade de pesquisa clínica é executada por meio de projetos individuais, e cada projeto envolve até centenas de centros no mundo todo. Esse foi um processo que se tornou globalizado na última década, principalmente. E há uma ineficiência muito grande na seleção desses centros", explica Thiers, acrescentando que bilhões de dólares são desperdiçados anualmente pela indústria farmacêutica com a escolha de centros de testes inadequados.

As conclusões fizeram com que ele passasse a realizar um mapeamento dos centros de pesquisas em todo mundo e lhe renderam um PhD, um mestrado, além de uma posição como diretor de um programa de pesquisas no MIT.

Mercado

O pesquisador, no entanto, também percebeu um grande potencial de mercado no problema. Viu que utilizando tecnologia de informação e a internet seria possível fazer um enorme mapa global dos centros de pesquisa.

Assim, antes da realização de testes, empresas e laboratórios poderiam receber informações precisas sobre cada centro, evitando escolhas inadequadas e poupando recursos.

Tendo isso em vista, ele criou, em 2010, o ViS Research Institute, que já mapeou mais de 400 mil centros de pesquisa em todo mundo.

Com representantes em 13 cidades de países como Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Índia e Coreia do Sul, a empresa desenvolveu uma plataforma que mistura a interação de uma rede social como o LinkedIn com as informações técnicas do setor.

O sistema ainda está em fase de testes e deve ser lançado oficialmente em julho, mas a empresa já conta com uma equipe de 30 pessoas e com uma rede de especialistas espalhados pelo mundo.

'Asas'

Para Thiers, a experiência que ele adquiriu no MIT e em Harvard - as duas instituições que a presidente Dilma Rousseff visita nesta terça-feira - foi importante para que ele pudesse desenvolver sua linha de pesquisa e posteriormente fundar a empresa.

"Eu tive um ambiente no MIT onde eles me deram asas para criar um projeto que se iniciou totalmente da minha cabeça", diz.

Embora ressalte que o Brasil teria toda a tecnologia para desenvolver projetos como os dele, o pesquisador afirma que a principal diferença entre estas instituições e universidades brasileiras é a integração entre diversas disciplinas e o fato de elas abrigarem pessoas de todo o mundo.

"Harvard e MIT têm um ambiente internacional. Lá eu pude aprender a interagir com pessoas de outras nacionalidades e das mais diversas áreas."

Atualmente morando em Nova York, Thiers afirma sentir que parte dos profissionais brasileiros em áreas como ciência e tecnologia acaba tendo uma visão pouco global, o que muitas vezes impede que iniciativas do país acabem ganhando outros países.

"Às vezes, parte do problema é não ter a noção do que está lá fora, do tamanho do mercado, do tamanho do Brasil em relação ao mundo. (...) Saber o quanto o mundo é grande pode dar um gás para aqueles indivíduos darem um salto maior", diz.

Para Thiers, programas como o Ciência Sem Fronteiras, um dos focos da viagem de Dilma aos EUA e que prevê a concessão de 100 mil bolsas de estudo para pesquisadores e estudantes brasileiros em diversas universidades do mundo, podem contribuir para este salto.

"Esse foco internacional vai trazer uma escala de desenvolvimento para a tecnologia brasileira muito grande. A gente tem que aprender o caminho das pedras de como desenvolver essa tecnologia, como patentear, como proteger e como criar uma presença internacional. Isso é tudo know-how que ainda é escasso no Brasil."