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Escola suíça ensina a meninas ricas como cortar laranja de garfo e faca

07/07/2012 18h36

Uma escola de boas maneiras na Suíça conseguiu contornar o destino cruel que acometeu suas principais concorrentes mantendo-se fiel à antiga prática de ensinar a meninas ricas dicas de boas maneiras e etiqueta.

Enquanto muitas não resistiram à passagem do tempo, a Villa Pierrefeu, uma elegante casa na parte alta do Lago de Genebra, na capital do país, permanece como um dos últimos institutos onde jovens mulheres aprendem, entre outras lições, a cortar laranjas com garfo e faca.

A tarefa, entretanto, é menos simples do que parece. O segredo é cortar a fruta cuidadosamente, de modo a remover a casca como o "desabrochar de uma flor", diz a professora Rosemary McCallum.

Também não se pode emitir nenhum barulho durante o processo, nem de talheres nem de pratos. Enquanto isso, afirma McCallum, as alunas "precisam continuar a conversa com os comensais".

Atual diretora do espaço, Viviane Neri, herdou o instituto de sua mãe e, durante décadas, viu a escola prosperar, enquanto as concorrentes, outrora muito comuns no país, desapareciam.

"O segredo de nosso sucesso é que nunca seremos aquele tipo de escola onde as meninas descem as escadas equilibrando os livros sobre suas cabeças", explica Neri.

Segundo a diretora, o currículo é baseado principalmente "na etiqueta e nas boas maneiras internacionais".

"Nós ensinamos nossas alunas a verdadeira etiqueta, ou, simplesmente, a arte de receber: como ser uma boa anfitriã, ter boa educação à mesa, decorar a casa, prover serviços domésticos básicos, cozinhar, etc...", enumerou.

Dicas

A julgar pelo tamanho da lista de alunas de Neri, a escola possui prestígio internacional.

A inglesa Jessica, de 22 anos, veio de Londres porque sempre quis "cursar uma escola de boas maneiras na Suíça".

As alunas na Villa Pierrefeu têm entre 18 e 50 anos de idade, e vêm de vários países diferentes, como Índia, Estados Unidos, Árabia Saudita, China e Líbano.

A indiana Sonom descreve si mesma como uma "empresária" e afirma que será "muito bem-sucedida".

Ela acredita que as lições que aprende na escola lhe permitirão alcançar o sucesso que almeja.

Já Najate, de 30 anos, é uma professora de uma universidade no Líbano. Ela queria incluir nos seus estudos de negócios elementos de boas maneiras e etiqueta e acredita que as aulas na Villa Pierrefeu lhe trará boas dicas.

Rotina

O dia das meninas começa com uma aula de Neri sobre boas maneiras. Logo nos primeiro minutos, percebe-se que, para algumas pessoas, a escolha dos lugares na mesa do jantar pode ser uma tarefa árdua.

Onde colocar o segundo filho de um duque, por exemplo? Ele é mais importante do que a filha dele? Qual é a ordem de precedência dos embaixadores?

(A resposta para essa última pergunta não é a do país com o qual o anfitrião possui maior relacionamento, mas o representante diplomático mais velho no posto).

Um pouco depois, as meninas têm uma aula de como se portar à mesa na hora da refeição. Mais uma vez, nada é tão óbvio quanto parece.

"Se você for comer um queijo de textura mais sólida, use garfo e faca", ensina Rosemary McCallum.

"Nunca use um pedaço de queijo numa fatia de pão de forma a fazer um sanduíche. Isso só é permitido com um queijo macio. E, mesmo assim, somente numa pequena fatia de pão, com garfo e faca, evidentemente", acrescenta.

Bate-papo

Uma vez que conhecem a fundo as etiquetas de como comer um queijo, assim como fazer um arranjo de flores e vestir-se formalmente para um jantar, as meninas têm de encenar uma conversa durante um jantar imaginário.

Nele, metade delas faz o papel dos homens e a outra metade, o das mulheres. Cada uma tem um perfil a teatralizar, e aquelas que representam as mulheres têm o dever de começar uma conversa.

"Fuja de temas controversos", adverte McCallum.

Mas quais são eles? "Religião, política, sexo - e dinheiro, também", enumera.

A conversa gira em torno de clichês: os homens são banqueiros e gostam de jogar golfe, enquanto as mulheres são suas esposas cujo hobby é colecionar obras de arte e enviar os filhos para internatos.

Ainda assim, as alunas acreditam que o aprendizado será útil.

"Nós fomos ensinadas a como se vestir apropriadamente para cada ocasião", diz Jessica. "E como comer corretamente, manter um diálogo educado. Trata-se de um aprendizado, especialmente de como se comportar melhor", define.

Preço

Entretanto, adquirir hábitos mais refinados é um luxo para poucos. Para muitas meninas, oriundas das famílias mais ricas do mundo, pagar US$ 20 mil (R$ 40 mil) para passar seis semanas em uma das regiões mais belas da Suíça, e ainda por cima, aprender boas maneiras é uma "pechincha".

"Todo conhecimento extra é útil", diz Sonom.

Meninas como Sonom e Jessica não só ajudam a movimentar os corredores da Villa Pierrefeu, como também sustentam os planos de expansão orquestrados por Neri.

Para ela, no século 21, as boas maneiras não são uma exclusividade das mulheres.

"Provavelmente, abriremos uma franquia para homens logo, logo", prevê Neri.