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WikiLeaks volta aos 'holofotes' com apoio a Snowden

27/06/2013 17h37

O WikiLeaks, organização que obteve notoriedade internacional ao expor milhares de documentos sigilosos do governo americano em 2010, voltou aos holofotes da mídia devido a seu envolvimento no caso de Edward Snowden, o ex-funcionário da CIA (agência de inteligência americana) que vazou importantes informações sobre atividades do governo americano e que está foragido depois de ser acusado de espionagem.

Snowden, que estaria numa área de pré-imigração no aeroporto de Moscou tentando obter asilo político em algum país sem acordo de extradição com os EUA, tem recebido mensagens abertas de apoio de Julian Assange, fundador do WikiLeaks que, por sua vez, está há mais de um ano vivendo na Embaixada do Equador em Londres.

O WikiLeaks teve sua reputação manchada depois que Assange foi acusado de crimes sexuais cometidos na Suécia. Ele buscou asilo na embaixada para evitar sua extradição à Suécia.

Ele alega que as acusações contra ele fazem parte de um plano de "caça às bruxas" do governo norte-americano, que mantém uma investigação formal sobre ele e suas atividades no WikiLeaks.

Apoio

A assistência que o WikiLeaks tem dado a Edward Snowden forçou o retorno da organização às primeiras páginas dos jornais e aos estúdios de TV.

Para Elias Groll, da Foreign Policy (revista especializada em política internacional e diplomacia), a imagem do WikiLeaks e de Snowden não estavam ligadas no início do caso Snowden. Um exemplo disso, foi que o ex-funcionário da CIA preferiu fazer suas denúncias diretamente ao jornal britânico The Guardian, em vez de se dirigir primeiro ao WikiLeaks, que seria um "território natural" para esse tipo de informação.

Então, como começou o apoio de WikiLeaks a Snowden? Como os interesses das duas partes passaram a coincidir?

Ex-funcionário da CIA - onde trabalhou como técnico em segurança digital - Snowden delatou um sistema secreto de monitoramento de informações pessoais nos quais membros da Agência Nacional de Segurança americana (NSA, na sigla em inglês) teriam acesso direto a servidores de nove grandes empresas de internet, incluindo Google, Microsoft, Facebook, Yahoo, Skype e Apple.

Para escapar de um processo, no início de maio Snowden fugiu do Havaí, onde morava, para Hong Kong - de onde teria denunciado o esquema de espionagem para o jornal britânico The Guardian e o americano Washington Post.

Há alguns dias, o ex-funcionário da CIA permitiu que o Guardian revelasse sua identidade, o que permitiu que uma investigação criminal fosse aberta contra ele na Justiça americana.

Os Estados Unidos oficializaram, então, um pedido de extradição contra Snowden, mas ele conseguiu viajar para Moscou no início desta semana.

O envolvimento do WikiLeaks no caso veio à tona com a revelação de que a organização tinha tentado, sem sucesso, garantir asilo político a Snowden na Islândia.

A porta-voz do WikiLeaks Kristinn Hrafnsson confirmou em entrevista à BBC, no dia 24 de junho, que a organização estava tentando ajudar o ex-funcionário da CIA.

"Nós temos tentado ajudá-lo em duas frentes: primeiramente, nosso time de advogados tem mantido contato com o time de advogados dele. Por razões óbvias, nosso time tem um vasto conhecimento em assuntos de extradição, e poderíamos ajudá-lo de diversas formas".

"Em segundo lugar, nós temos sido uma espécie de canal de contato, levando mensagens de Snowden e seu time de advogados para representantes oficiais e de governos."

Julian Assange ainda ajudou Edward Snowden a obter um documento de viagem emitido pelo governo do Equador para substituir seu passaporte, que foi revogado pelo governo norte-americano. Isso permitiu que o ex-funcionário da CIA embarcasse para a Moscou. O próprio fundador do WikiLeaks confirmou que sua organização pagou pela passagem aérea, acomodação e despesas legais de Snowden.

Representantes do WikiLeaks ainda confirmaram que Sarah Harrison, que faz parte do grupo de advogados da organização, "ajudou Snowden com os aspectos legais de sua saída de Hong Kong" e que ela está "o acompanhando o tempo todo", enquanto ele permanece na Rússia.

A advogada Sarah Harrison, que ainda estaria com Snowden neste momento em Moscou, seria - de acordo como jornal britânico Evening Standard - "o poderoso 'braço direito'" de Julian Assange e "sua principal ligação com o mundo do lado de fora de seu quarto na embaixada do Equador em Knightsbridge (bairro de Londres)".

Baltasar Garzon, o ex-juiz espanhol que agora é o diretor legal do WikiLeaks, está liderando o time de advogados que aconselha Snowden com estratégias de mantê-lo fora das "garras" do governo dos EUA. Numa postagem recente no Twitter, o WikiLeaks confirmou ter contratado um outro advogado para representar Snowden a longo prazo.

Desde que Snowden partiu de Hong Kong e desapareceu do alcance do público, representantes-chave do WikiLeaks têm se esforçado em tentar explicar à imprensa que Snowden deveria ser parabenizado e não crucificado por suas denúncias.

Resgate da imagem

Mas qual seria o motivo por trás do empenho de Assange em defender Snowden?

Perguntado se ele tem "qualquer sentimento de satisfação ou vingança" ao ajudar o ex-funcionário da CIA a se defender do governo norte-americano, Assange respondeu: "Eu tenho uma simpatia para com Snowden, já que eu vivi uma situação parecida, mas a organização WikiLeaks, de forma mais ampla, existe para defender os direitos dos denunciadores para trazer suas informações ao conhecimento do público".

Certamente, podem haver outros benefícios ao WikiLeaks nessa associação com Snowden, especialmente num momento em que existe um boicote financeiro e uma queda da simpatia para com Assange depois das acusações feitas contra ele.

O WikiLeaks tem feitos vários apelos por doações desde que Snowden viajou para Moscou. No entanto, a BBC não conseguiu confirmar se a organização está recebendo algum dinheiro depois dos pedidos.

Para Groll, a associação com Snowden deve trazer apenas benefícios ao fundador do WikiLeaks. "Assange não tem sido um personagem de muito sucesso ultimamente - pelo menos não como como o bravo lutador pela transparência, agora que está preso numa embaixada... Mas agora, ele está buscando resgatar sua imagem".

De outro lado, essa associação traz mais riscos a Snowden, afirma Groll.

"Os perigos para Edward Snowden são os de que isso possa levá-lo ao descrédito, já que Assange é uma figura odiada nos Estados Unidos. Então, em associação com ele (Assange), Snowden está colocando em risco sua reputação".

"Mas é claro que ele (Snowden) não tem muita escolha. Nós temos visto uma imensa campanha contra Snowden e Assange e isto poderia ser outra forma de eles mancharem sua credibilidade", explica Groll.

O WikiLeaks confirmou que "existem mais revelações a serem aguardadas" de Snowden. Mas ainda está para ser confirmado, depois da ajuda do WikiLeaks, se Edward Snowden mudará sua tática para divulgar novas informações com ajuda de seus novos aliados.