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Egito vive tensão com novos protestos e temor de repressão com munição real

16/08/2013 05h25

A cidade do Cairo, capital do Egito, é palco de novos protestos de simpatizantes do presidente deposto Mohammed Morsi, que convocaram a "Sexta-feira da Ira".

O país está sob estado de emergência, decretado após a repressão violenta aos acampamentos de manifestantes ligados ao grupo político de Morsi, a Irmandade Muçulmana, e que deixou ao menos 638 pessoas mortas na quarta-feira.

Os manifestantes pediam a volta do presidente Mohammed Morsi, deposto pelo Exército em julho.

Imagens ao vivo de emissoras egípcias mostram multidões protestando nas ruas do Cairo e disparos de gás lacrimogêneo; repórteres da BBC na praça Ramsés, centro da cidade, relatam que o clima é tenso.

E as manifestações ocorrem também em outras partes do país, sendo que já foram registradas quatro mortes na cidade de Ismailia, no canal de Suez.

O governo interino do país autorizou a polícia a usar balas de verdade para atuar em autodefesa contra manifestantes, aumentando o clima de tensão.

A repressão promovida pelas autoridades egípcias foi alvo de duras críticas por parte de líderes mundiais.

'Moderação máxima'

Após uma reunião de emergência, convocada a pedido de Grã-Bretanha, França, Austrália e Turquia, o Conselho de Segurança da ONU pediu na noite de quinta-feira para que todos os partidos no Egito atuem com "moderação máxima".

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, advertiu que o Egito seguiu por um "caminho mais perigoso".

"Nós lamentamos a violência contra civis", disse.

Já a Presidência interina do Egito afirmou que a reprimenda de Obama "não está baseada em fatos".

Obama cancelou exercícios militares conjuntos com o Egito, previstos para o mês que vem, numa primeira reação em termos práticos à violência de quarta-feira - mas não suspendeu nem reduziu a ajuda financeira que Washington destina anualmente ao Cairo.

"Ante os desdobramentos sangrentos no Egito, ficou claro aos governos ao redor do mundo que exército do Egito ignorou a pressão feita nas últimas semanas para evitar mortes em massa no país", disse o analista de assuntos internacionais da BBC James Robbins.

"O cancelamento de exercícios militares conjuntos é um gesto simbólico, mas não causará muitos danos ao generais no Cairo. Obama não cancelou a ajuda anual de US$ 1,3 bilhão que os EUA oferecem ao Egito, a maior parte da qual, para as Forças Armadas. A avaliação é de que isso poderia comprometer a já relutante parceria do Egito com Israel e o frágil processo de paz discutido no Oriente Médio", explica.

Navi Pillay, alta comissária de direitos humanos da ONU, pediu uma investigação independente para apurar os fatos no Egito.

"O número de mortos ou feridos, mesmo de acordo com as contas do governo, apontam para o uso excessivo - ou mesmo extremo - da força contra os manifestantes", disse Pillay.

Protestos

A quarta-feira foi o dia mais sangrento no país desde a revolução pró-democracia, que culminou com a queda de Hosni Mubarak, dois anos atrás.

Segundo a Irmandade Mulçumana, grupo político que apoia Morsi, o número de mortos já passa de 2 mil.

Dezenas de vítimas não foram contabilizadas, e algumas estão completamente carbonizadas, segundo apurou a BBC.

A reportagem esteve na mesquita de Eman, próxima a um dos principais pontos de protesto no Cairo, e viu ali 202 corpos - muitos dos quais não oficialmente contados.

O governo do Egito justificou a ação das forças de segurança alegando que elas estavam autorizadas a disparar em defesa própria - argumento que nesta quinta-feira foi repetido por diplomatas egípcios ao redor do mundo para explicar os desdobramentos no país.

Em anúncio transmitido pela TV, o premiê interino Hazem Beblawi defendeu a operação, dizendo que ela foi necessária para restaurar a segurança no país.