E se Kennedy tivesse sobrevivido?
Na sala de estar do historiador Robert Dallek, um busto de bronze de John F. Kennedy (JFK) ocupa espaço de destaque, como uma figura de aparência jovial e bonita.
No entanto, se Kennedy tivesse sobrevivido ao atentado que tirou sua vida, em Dallas, há 50 anos, a estátua talvez fosse diferente, de aparência enrugada e cansada.
É impossível adivinhar o que teria sido do presidente, então com 46 anos e em seu primeiro mandato, assim como é impossível não tentar imaginar o que teria acontecido com os EUA se ele não tivesse morrido.
O título do primeiro livro de Dallek sobre Kennedy, Uma Vida Inacabada, levanta a pergunta sobre o que o presidente poderia ter sido e o que ele significa hoje.
'Página em branco'
Dallek explica por que Kennedy é visto como um ícone entre os presidentes americanos."É pelo fato de as pessoas terem ficado tão decepcionadas com os presidentes seguintes", diz o historiador. "Lyndon Johnson, o fracasso (da guerra) do Vietnã. Richard Nixon tendo que renunciar após o escândalo de Watergate. A Presidência truncada de Gerald Ford. Jimmy Carter é visto como um presidente que fracassou."
E prossegue: "Os dois Bush - um perdeu após o primeiro mandato, e o segundo (terminou seu governo) sob desconfiança porque nunca foram encontradas armas de destruição em massa no Iraque, por causa (do desastre causado pelo furacão) Katrina, em Nova Orleans, por causa da crise econômica. As pessoas querem uma vida melhor, querem acreditar que seus filhos vão se sair melhor do que elas. E elas associam isso a Kennedy e à juventude, promessa e possibilidades que ele representava".
"Ele morreu aos 46 anos - é uma página em branco."
O mais recente livro de Dallek, Camelot's Court (A Corte de Camelot, em tradução livre), foca nos assessores de JFK, particularmente sua influência na política externa.
Uma das questões mais preponderantes na linha "e se Kennedy tivesse sobrevivido" gira em torno da Guerra do Vietnã.
"Muitos historiadores dizem que a guerra (que escalonou no mandato do presidente seguinte) Lyndon Johnson, tão desastrosa, teve seu prelúdio no governo Kennedy", diz Dallek.
"Johnson não teve escolha, era uma continuidade. O outro lado disso, porém, é que Kennedy estava sob enorme pressão de assessores para aumentar a presença na guerra durante seus mil dias (no governo). As pessoas o pressionavam a mandar tropas, e ele não queria. Nunca saberemos o que Kennedy teria feito no Vietnã. Acho que nem ele sabia."
'Destino da nação'
Mas Dallek duvida que Kennedy teria escalonado a guerra da mesma forma como seu sucessor.
"Não acredito que ele chegaria a colocar 545 mil soldados no Vietnã", opina. "Aliás, após o episódio da Baía dos Porcos (tentativa de invasão de exilados para reconquistar Cuba) e a Crise dos Mísseis de Cuba (quando o mundo esteve perto de um confronto nuclear), havia pressão dos militares sobre Kennedy para considerar a invasão de Cuba. Eles lhe diziam que Nikita Khruschov (então líder soviético) poderia estar escondendo mísseis em cavernas."
Surgiram, então, planos contingenciais, diz Dallek. "Robert McNamara, secretário de Defesa, propõe um plano de invasão. (Kennedy) lhe respondeu: 'Bob, temos que lembrar o que aconteceu com os russos na guerra com a Finlândia, o que aconteceu conosco na (guerra da) Coreia. Podemos afundar'. Isso é ele falando de uma invasão a Cuba. Imagine então o que ele pensava sobre o Vietnã."
Dallek acha que teorias de conspiração ainda circulam porque as pessoas se recusam a admitir que a sorte - a má sorte - possa ter tido um impacto tão profundo no destino de um país.
"Não acho que os EUA tenham superado seu assassinato, em parte porque foi um terrível golpe na autoestima do país", afirma.
'Fortuito'
"Até hoje, 59% dos americanos acham que houve uma conspiração porque eles têm de acreditar que havia algo maior envolvido. Alguém tão inconsequente como Oswald (Lee Harvey Oswald, apontado como o atirador responsável pela morte de Kennedy) não poderia ter matado alguém tão importante como o presidente. Acho que é assim que muitas pessoas se sentem. Mas pode ser sido algo fortuito."
Dallek conta que o primeiro tiro que atingiu Kennedy atravessou seu pescoço. "Ele usava um colete ortopédico por causa de suas terríveis dores nas costas. Se ele não tivesse o colete, a bala o teria derrubado para o lado, e a bala que foi encontrada em sua cabeça - e que o matou - não teria atingido seu alvo."
O assassinato teve um enorme impacto em quase todos os americanos com idade suficiente para entender o ocorrido.
À medida que o tempo passa, será que ele se manterá intacto no imaginário americano?
"Ele é ainda o presidente mais popular da história americana, em pesquisa feita alguns anos atrás envolvendo nove presidentes, de Kennedy a Bush", diz o historiador.
"Então ele se mantém como ícone. A questão que me interessa, daqui a 50 anos, no centésimo aniversário de sua morte, será que ainda estaremos falando sobre ele? Se tivermos mais um presidente com esse tipo de brilho e mais poder sobre a aprovação popular do que outros presidentes recentes, ele então vai eclipsar Kennedy", opina Dallek.
"Se o futuro continuar envolvendo brigas e enrolações (político-partidárias), é possível que Kennedy mantenha esse poder fenomenal sobre os sonhos, as esperanças e a imaginação do público."
No entanto, se Kennedy tivesse sobrevivido ao atentado que tirou sua vida, em Dallas, há 50 anos, a estátua talvez fosse diferente, de aparência enrugada e cansada.
É impossível adivinhar o que teria sido do presidente, então com 46 anos e em seu primeiro mandato, assim como é impossível não tentar imaginar o que teria acontecido com os EUA se ele não tivesse morrido.
O título do primeiro livro de Dallek sobre Kennedy, Uma Vida Inacabada, levanta a pergunta sobre o que o presidente poderia ter sido e o que ele significa hoje.
'Página em branco'
Dallek explica por que Kennedy é visto como um ícone entre os presidentes americanos."É pelo fato de as pessoas terem ficado tão decepcionadas com os presidentes seguintes", diz o historiador. "Lyndon Johnson, o fracasso (da guerra) do Vietnã. Richard Nixon tendo que renunciar após o escândalo de Watergate. A Presidência truncada de Gerald Ford. Jimmy Carter é visto como um presidente que fracassou."
E prossegue: "Os dois Bush - um perdeu após o primeiro mandato, e o segundo (terminou seu governo) sob desconfiança porque nunca foram encontradas armas de destruição em massa no Iraque, por causa (do desastre causado pelo furacão) Katrina, em Nova Orleans, por causa da crise econômica. As pessoas querem uma vida melhor, querem acreditar que seus filhos vão se sair melhor do que elas. E elas associam isso a Kennedy e à juventude, promessa e possibilidades que ele representava".
"Ele morreu aos 46 anos - é uma página em branco."
O mais recente livro de Dallek, Camelot's Court (A Corte de Camelot, em tradução livre), foca nos assessores de JFK, particularmente sua influência na política externa.
Uma das questões mais preponderantes na linha "e se Kennedy tivesse sobrevivido" gira em torno da Guerra do Vietnã.
"Muitos historiadores dizem que a guerra (que escalonou no mandato do presidente seguinte) Lyndon Johnson, tão desastrosa, teve seu prelúdio no governo Kennedy", diz Dallek.
"Johnson não teve escolha, era uma continuidade. O outro lado disso, porém, é que Kennedy estava sob enorme pressão de assessores para aumentar a presença na guerra durante seus mil dias (no governo). As pessoas o pressionavam a mandar tropas, e ele não queria. Nunca saberemos o que Kennedy teria feito no Vietnã. Acho que nem ele sabia."
'Destino da nação'
Mas Dallek duvida que Kennedy teria escalonado a guerra da mesma forma como seu sucessor.
"Não acredito que ele chegaria a colocar 545 mil soldados no Vietnã", opina. "Aliás, após o episódio da Baía dos Porcos (tentativa de invasão de exilados para reconquistar Cuba) e a Crise dos Mísseis de Cuba (quando o mundo esteve perto de um confronto nuclear), havia pressão dos militares sobre Kennedy para considerar a invasão de Cuba. Eles lhe diziam que Nikita Khruschov (então líder soviético) poderia estar escondendo mísseis em cavernas."
Surgiram, então, planos contingenciais, diz Dallek. "Robert McNamara, secretário de Defesa, propõe um plano de invasão. (Kennedy) lhe respondeu: 'Bob, temos que lembrar o que aconteceu com os russos na guerra com a Finlândia, o que aconteceu conosco na (guerra da) Coreia. Podemos afundar'. Isso é ele falando de uma invasão a Cuba. Imagine então o que ele pensava sobre o Vietnã."
Dallek acha que teorias de conspiração ainda circulam porque as pessoas se recusam a admitir que a sorte - a má sorte - possa ter tido um impacto tão profundo no destino de um país.
"Não acho que os EUA tenham superado seu assassinato, em parte porque foi um terrível golpe na autoestima do país", afirma.
'Fortuito'
"Até hoje, 59% dos americanos acham que houve uma conspiração porque eles têm de acreditar que havia algo maior envolvido. Alguém tão inconsequente como Oswald (Lee Harvey Oswald, apontado como o atirador responsável pela morte de Kennedy) não poderia ter matado alguém tão importante como o presidente. Acho que é assim que muitas pessoas se sentem. Mas pode ser sido algo fortuito."
Dallek conta que o primeiro tiro que atingiu Kennedy atravessou seu pescoço. "Ele usava um colete ortopédico por causa de suas terríveis dores nas costas. Se ele não tivesse o colete, a bala o teria derrubado para o lado, e a bala que foi encontrada em sua cabeça - e que o matou - não teria atingido seu alvo."
O assassinato teve um enorme impacto em quase todos os americanos com idade suficiente para entender o ocorrido.
À medida que o tempo passa, será que ele se manterá intacto no imaginário americano?
"Ele é ainda o presidente mais popular da história americana, em pesquisa feita alguns anos atrás envolvendo nove presidentes, de Kennedy a Bush", diz o historiador.
"Então ele se mantém como ícone. A questão que me interessa, daqui a 50 anos, no centésimo aniversário de sua morte, será que ainda estaremos falando sobre ele? Se tivermos mais um presidente com esse tipo de brilho e mais poder sobre a aprovação popular do que outros presidentes recentes, ele então vai eclipsar Kennedy", opina Dallek.
"Se o futuro continuar envolvendo brigas e enrolações (político-partidárias), é possível que Kennedy mantenha esse poder fenomenal sobre os sonhos, as esperanças e a imaginação do público."
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