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Sobreviventes do Haiyan tentam superar trauma psicológico

25/11/2013 05h48

Como lidar com o fato de ter perdido tudo - sua casa, seus pertences, seus parentes - em uma questão de horas?

Passadas duas semanas desde o tufão Haiyan, as Filipinas contabilizam mais de 4 mil mortos e 18 mil feridos.

Agora, para as agências humanitárias, um dos maiores desafios - que perdurará por anos - é ajudar os sobreviventes a lidar com as dores deixadas pela tragédia.

Lyn Zulieta, 26, chora copiosamente enquanto a chuva cai no teto improvisado sob o qual ela e sua família estão morando.

"Cada vez que chove ou venta eu sinto medo", diz ela. "Não sei como vamos nos recuperar, talvez acabemos morrendo aqui, como o meu pai."

Quando o Haiyan chegou, ela buscou abrigo com sua mãe e seus irmãos. Seu pai ficou para trás. Eles encontraram seu corpo na manhã seguinte, soterrado sob os escombros da casa de um vizinho.

"Perdi meu pai, perdi minha casa. Não sei o que fazer e como viver dia após dia", lamenta.

Adrenalina

A BBC conversou com Lyn durante uma visita da equipe da ONG Médicos Sem Fronteiras. Seus três psicólogos estão percorrendo abrigos comunitários e centros de saúde para ajudar os sobreviventes a lidar com seus traumas.

"No momento do tufão, as pessoas ficam cheias de adrenalina, porque seu objetivo é sobreviver", explica a psicóloga Caroline Calwaerts. "Mas, quando as coisas voltam ao normal, a adrenalina passa e os sintomas psicossomáticos começam a surgir. Você se sente como um corpo vazio, sem força."

Ao conversar com os sobreviventes, ela diz que é "como uma médica, mas que trata os problemas do coração e da cabeça".

Muitos deles a observam com olhares vazios. Uma mulher grávida então levanta e diz: "Estou com medo. Às vezes eu tenho pesadelos. Tenho medo porque cada vez que chove forte eu acho que vai vir mais um tufão."

Reconstrução

Em Guiuan, os filipinos começam a reconstruir suas vidas, removendo os escombros de suas casas.

A cidade de 30 mil habitantes já voltou a ter suprimento de água e comida. Mas muitos ainda não têm onde dormir. E a chuva não passa.

As Filipinas estão acostumadas com tufões, que atingem o país cerca de 20 vezes ao ano. O Haiyan, no entanto, parece ter mudado tudo: como o governo não conseguiu prever a força da tempestade, muitos agora sentem pavor a cada tempestade ou ventania.

De volta ao abrigo de Lyn, a jovem e sua família tentam resgatar suas esperanças.

"Acho que Guiuan ainda vai se recuperar", diz ela. "Se todos trabalharmos duro. Vou trabalhar duro para cuidar da minha família."