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Marina avança; Dilma e Aécio apostam em 'experiência' para freá-la

João Fellet

Da BBC Brasil, em Brasília

29/08/2014 20h31

Alarmados com o rápido crescimento da ex-senadora Marina Silva (PSB) nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, as campanhas de seus principais competidores – Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) – testam estratégias para tentar frear a alta da candidata.


Um levantamento do Datafolha divulgado nesta sexta-feira (29), o primeiro realizado após o primeiro debate entre os candidatos (terça, na TV Bandeirantes), mostrou um empate técnico entre Marina e Dilma já no primeiro turno.

Segundo a pesquisa, a candidata do PSB e a petista receberiam 34% dos votos cada uma. Aécio aparece em terceiro lugar, com 15%. No segundo turno, a acriana derrotaria Dilma por 50% a 40%. O nível de confiança é de 95%.

O último levantamento do Ibope, divulgado antes do debate, já havia mostrado o avanço de Marina. Segundo a pesquisa do instituto, a candidata do PSB aparece 29% das intenções de voto, cinco pontos porcentuais a menos do que a petista, que lidera a disputa com 34%. O tucano Aécio Neves marca 19%.

No segundo turno, Dilma seria derrotada por Marina por 45% a 36%. Contra Aécio, Dilma ganharia por 41% a 35%.

Algumas das táticas dos concorrentes de Marina foram expostas na terça-feira durante o primeiro debate entre os presidenciáveis e devem ser repetidas nos próximos dias. Tanto Dilma como Aécio levantaram dúvidas sobre a capacidade da ambientalista de presidir o país e buscaram se apresentar como mais preparados e experientes para exercer o cargo.

Referindo-se a Marina, Dilma disse que um presidente não lidera "só com discursos". "Ele terá de tomar posições, terá de fazer gestão, tem de resolver os graves problemas do país na saúde, educação, segurança, os problemas nas estradas, portos, ferrovias e aeroportos."

A fala foi uma resposta a uma declaração dada por Marina nesta semana. A acriana havia dito que o Brasil não precisa de um presidente com funções de gerente – característica atribuída a Dilma -, mas sim de um líder com "visão estratégica".

Os esforços para conter o avanço da ex-senadora também se notam na agenda da petista e em ações realizadas nos bastidores das campanhas.

Na quarta, líderes dos partidos que compõem a coalizão de Dilma (PT, PMDB, PDT, PCdoB, PSD, PRB, PP, PROS e PR) e dezenas de funcionários de estatais e ministérios foram convocados para uma reunião no Palácio da Alvorada para discutir os rumos da campanha.

Segundo relatos, os assessores ficaram incumbidos de se reunir com movimentos sociais e fortalecer a campanha de Dilma nas redes sociais, ambiente em que Marina tem tido forte respaldo.

A própria presidente tem se engajado no esforço de aproximação com as bases tradicionais do PT. Nesta quinta-feira ela se reuniu com representantes da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) e, na segunda, movimentos sociais da área cultural foram convidados para uma reunião no comitê de campanha da petista.

A presidente tem ainda intensificado seus contatos com a imprensa para ampliar suas aparições na mídia. Normalmente avessa a entrevistas coletivas, ela tem falado a jornalistas todos os dias.

Aécio, por sua vez, tem enfocado sua estratégia na crítica à "nova política" pregada por Marina.

No debate, ele lembrou que Marina se recusou a endossar a aliança entre PSB e PSDB pela reeleição de Geraldo Alckmin em São Paulo, mas disse que, se eleita, esperava contar com o apoio do tucano José Serra.

Marina tem dito que sua candidatura representa uma alternativa à polarização entre PT e PSDB.

O tucano busca ainda se mostrar como a opção mais segura para eleitores preocupados com a economia. Em crítica indireta a Marina – mas também a Dilma -, ele disse que a política econômica "não comporta novas aventuras ou improviso" e que seu governo seguiria o caminho da "segurança, responsabilidade, transparência fiscal e previsibilidade".

Aécio, que governou Minas Gerais duas vezes, tenta se apresentar como mais experiente que Marina em cargos executivos. Os postos mais altos que a acriana já ocupou foram o de senadora e o de ministra do Meio Ambiente.

O mineiro também tem questionado a capacidade de Marina de construir uma maioria no Congresso. A coligação que apoia a acriana é composta por dois partidos médios – PSB e PPS – e quatro nanicos (PSL, PHS, PRP e PPL).

Marina diz que contornará a fragilidade da coalizão governando com “os melhores” de cada partido, e buscando a união em vez do embate.

Enquanto ataca a acriana, Aécio busca ainda conquistar votos nos grupos de eleitores em que obtém pior desempenho nas pesquisas: jovens e habitantes do Nordeste.

Desde o início da campanha, ele tem viajado com frequência à região, e grande parte de sua campanha no rádio tem sido narrada por atores com sotaque nordestino.

Em sua propaganda eleitoral na última terça, Aécio tentou enfocar os dois públicos ao se encontrar com jovens da periferia de Salvador e propor um programa para reduzir a evasão escolar.