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Norte e Sul impulsionam Dilma; analistas veem riscos em estratégia agressiva

12/09/2014 18h01

João Fellet

Da BBC Brasil em Brasília

Pesquisas recentes mostram que as sucessivas críticas da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, à sua principal concorrente, Marina Silva, do PSB, surtiram efeito principalmente entre eleitores do Norte e Sul do país.

Dilma aparece numericamente à frente de Marina segundo a última pesquisa de intenções de voto do Datafolha (36% a 33%) e já teria se descolado na primeira colocação pela pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta sexta (39% a 31%). Nas simulações de segundo turno, os dois institutos apontam agora empate técnico - Marina chegou a ter dez pontos de vantagem no Datafolha e nove no Ibope no início do mês.

Analistas afirmam, porém, que a estratégia de atacar Marina é arriscada e pode aumentar a rejeição a Dilma, que já é bastante alta. Na pesquisa CNI/Ibope, 42% disseram que não votariam na candidata do PT de jeito nenhum, 11 pontos percentuais a mais do que o índice medido pelo Ibope no fim de agosto. Marina tem rejeição de 26%, segundo o mesmo instituto.

Foi na região Norte que Dilma mais avançou nos últimos dias. Segundo o Datafolha, a petista passou de 38% das intenções de voto, entre 1º e 3 de setembro, para 48% uma semana depois.

Como nesse intervalo Marina se manteve com 32%, é provável que a petista tenha roubado votos do candidato do PSDB, Aécio Neves – que passou de 14% para 10% -, e dos indecisos (de 10% a 4%).

Norte e Nordeste

As intenções de voto em Dilma no Norte ultrapassaram seu índice de apoio no Nordeste, tradicionalmente o principal reduto do PT em eleições para presidente. Segundo o Datafolha, no Nordeste a petista teria 47% dos votos.

Para Pedro Fassoni Arruda, professor do departamento de política da PUC-SP, o desempenho de Dilma nas duas regiões se deve principalmente aos programas sociais implantados nas gestões petistas – como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Prouni – e à política de valorização do salário mínimo.

Ele diz que o apoio relativamente fraco de Marina no Norte, sua região de origem – ela nasceu no Acre –, reflete o distanciamento entre a candidata e suas bases eleitorais.

"Ela deixou o Partido dos Trabalhadores e deu uma guinada mais à direita, se aproximando de setores como o agronegócio, banqueiros. Com isso, acabou se afastando de um eleitorado que é tradicionalmente do PT", afirma.

Sul

No outro extremo do país, na região Sul, Dilma também ampliou sua vantagem em relação a Marina. No fim de agosto, segundo o Datafolha, as candidatas do PT e do PSB estavam empatadas, com 32% das intenções de voto cada. Desde então, Dilma abriu sete pontos de vantagem em relação a Marina: ela subiu para 35%, enquanto a ambientalista caiu para 28%.

Para Susana Krause, professora do programa de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não se deve considerar que eleitores da região Sul se comportam de modo homogêneo, já que cada um dos três Estados sulistas segue lógicas eleitorais distintas.

Quanto ao Rio Grande do Sul, Estado mais populoso da região, ela afirma que a força de Dilma se assenta em três pilares. O primeiro, diz Krause, é a forte tradição do trabalhismo no Estado. Dilma militou nessa corrente política, que teve o gaúcho Leonel Brizola como um de seus principais expoentes.

O segundo pilar é a identificação de boa parte do eleitorado gaúcho, particularmente em Porto Alegre, com partidos de esquerda. Krause afirma que, embora nas últimas eleições parte desse eleitorado tenha se afastado do PT, a polarização política em vigor pode ter reaproximado o grupo do partido.

"Talvez alguns daqueles eleitores de esquerda mais aguerridos dos anos 80 e 90 tenham se sensibilizado com a onda de acusações contra o PT. Talvez o antipetismo tenha revigorado neles o desejo de votar no PT."

O terceiro motivo, segundo a professora, é a popularidade de Dilma e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, entre agricultores familiares gaúchos, grupo numeroso no interior do Estado.

Ataques a Marina

Analistas avaliam, porém, que a estratégia eleitoral que tem melhorado o desempenho de Dilma nas pesquisas pode produzir efeitos contrários, se não for conduzida com cuidado.

Dilma tem dito em seus discursos e propagandas eleitorais que Marina menospreza a importância do pré-sal e entregará o governo a banqueiros.

A ambientalista rebate as críticas. Ela afirma que investirá no pré-sal, mas que também dará importância a outras fontes de energia, e que nos governos do PT os bancos tiveram lucros recordes.

"Sem julgar o mérito das críticas, a estratégia alcançou seus objetivos, que era conter o crescimento da Marina e estancar tendência de queda da Dilma", diz Arruda, da PUC-SP.

Ele afirma, porém, que a tática funciona "até certo ponto" e que, se as críticas derem lugar a ataques, pode afastar eleitores. "Por enquanto a campanha da Dilma não cruzou a linha, mas sempre há o risco de errar o tom", diz o professor.