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Três vidas que se cruzaram no tiroteio no Canadá

23/10/2014 13h55

O Canadá acordou em choque um dia depois após um atirador ter matado um soldado em um memorial de guerra em Ottawa e disparado tiros dentro do Parlamento canadense, até ser morto.

O episódio colocou, frente a frente, o suspeito - identificado como Michael Zehaf-Bibeau, 32 -, o soldado morto e o funcionário do Parlamento que conseguiu contê-lo.

A BBC conta abaixo suas histórias até a fatídica quarta-feira em que se encontraram no tiroteio em Ottawa.

O SUPOSTO ATIRADOR

Zehaf-Bibeau cresceu em Laval, cidade ao norte de Montréal, na província de Québec. Segundo a imprensa canadense, seu pai, Bulgasem Zehaf, veio da Líbia e tinha um café em Montréal. Sua mãe, Susan Bibeau, trabalhava no Escritório de Imigração e Refugiados do Canadá.

Acredita-se que eles tenham se divorciado em 1999.

A imprensa americana reportou que Zehaf-Bibeau havia se convertido ao Islã, enquanto fontes canadenses disseram à imprensa local que ele era considerado um "viajante de alto risco". Seu passaporte inclusive foi confiscado pelas autoridades do país para impedi-lo de viajar ao exterior.

Vizinhos afirmaram à emissora canadense CBC que Michael era muito querido e se disseram chocados com a notícia do tiroteio.

O jornal Globe and Mail conversou com Dave Bathurst, que disse ter se tornado amigo do suspeito três anos atrás, quando se conheceram em uma mesquita.

Bathurst disse que seu amigo não parecia ter visões extremistas, mas havia apresentado "comportamento errático".

"Estávamos conversando em uma cozinha e não lembro como ele disse, (mas) disse que o diabo estava atrás dele", afirmou Bathurst. "Acho que ele devia estar mentalmente doente."

Ele disse que o último encontro de ambos ocorreu na mesquita, seis semanas atrás, quando Michael teria dito que queria "voltar para a Líbia para estudar" árabe e o Islã.

Sua mãe disse à imprensa nesta quinta-feira que havia conversado com o filho na semana passada, mas que não havia tido contato com ele antes disso por cinco anos. "Estou muito brava com ele", afirmou, agregando que ele parecia "perdido".

Documentos oficiais indicam que Zehaf-Bibeau havia sido condenado por diversos crimes de menor gravidade (fraude de cartões de crédito e posse de drogas, entre eles) no início dos anos 2000 e chegou a ser preso.

Em Vancouver, em 2011, ele também foi acusado de roubo, e uma avaliação psiquiátrica o considerou apto a ser julgado.

A VÍTIMA

Nathan Cirillo, 25, era o soldado que patrulhava o memoral de guerra de Ottawa e que foi morto a tiros.

Ele era pai de um menino de 6 anos e havia crescido na cidade de Hamilton, na província de Ontário.

Colegas de escola o descreveram como "o palhaço da turma" e alguém que "sempre quis servir a seu país".

Amigos dizem que ele falava de suas intenções de entrar ao Exército. Antes disso, foi instrutor de educação física.

Uma tia, que não quis se identificar, disse ao Globe and Mail que Cirillo "era um jovem maravilhoso (que não tinha) um inimigo sequer no mundo"; amigos o descreveram como extrovertido e divertido.

O FUNCIONÁRIO DO PARLAMENTO

Kevin Vickers, 58, que ocupa o posto de sargento-de-armas no Parlamento canadense, é apontado como o responsável por ter contido o atirador a tiros, dentro da sede do Legislativo, depois de vários disparos terem sido feitos no local.

O cargo não tem conotação militar e seu ocupante tem o trabalho de zelar pela segurança do Parlamento.

Vickers assumiu o papel após 29 anos servindo a Real Polícia Montada do Canadá.

Em sessão solene nesta quinta-feira, Vickers se emocionou ao ser aplaudido de pé pelos parlamentares.

O irmão de Vickers, John, disse à BBC que seu irmão é uma "pessoa exemplar e estamos muito orgulhosos dele".