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Divergências deixam vácuo de poder em Burkina Faso

01/11/2014 07h10

Divergências no exército de Burkina Faso criaram uma insólita situação, com duas autoridades afirmando ter assumido a presidência do país africano em lugar de Blaise Compaoré, que renunciou na sexta-feira após 27 anos no poder.

Tanto o general Honoré Traoré quanto o tenente-coronel Isaac Zida se declararam líderes provisórios do governo. Traoré, comandante do exército, fez seu pronunciamento na sexta-feira, quando também anunciou a partida de Compaoré.

Neste sábado, porém, a agência de notícias AFP informou que Zida, um dos comandantes da Guarda Presidencial, fez um anúncio em rede nacional de TV em que classificou como "obsoleta" a declaração de seu superior.

Paradeiro desconhecido

"Assumo aqui as responsabilidades de chefe de estado e do processo de transição", disse Zida.

Já a agência Reuters citou um pronunciamento de rádio em que o tenente-coronel teria feito um pedido à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas) e à comunidade internacional para reconhecê-lo como líder.

Na sexta-feira, Compaoré fizera um comunicado oficial declarando a presidência vaga e marcando eleições para daqui a 90 dias.

Há quase três décadas no poder, ele renunciou depois de violentos protestos nas ruas do país contra sua tentativa de permanecer no poder por mais um ano.

Na quinta-feira, o país entrou em estado de emergência e teve o Parlamento dissolvido para tentar controlar os manifestantes, que puseram fogo à sede do Legislativo e a edifícios governamentais.

O paradeiro do ex-presidente é desconhecido.

Segundo a constituição de Burkina Faso, o novo chefe de estado deve ser o presidente do Senado. O documento também estabelece prazo máximo de três meses para uma nova eleição.

Preocupação internacional

No entanto, o exército declarou estado de emergência e a dissolução do Parlamento. E Zida, num deu seus pronunciamentos, disse que a duração do período de transição "ainda não foi determinada".

A renúncia de Compaoré causou surpresa não apenas pela rapidez com que o agora ex-presidente deixou o cargo, menos de um dia depois de anunciar a intenção de permanência.

Nos últimos anos ele tinha se tornado um importante mediador regional.

Burkina Faso, por exemplo, é onde ficam estacionados regimentos de forças especiais do Exército Francês e o país é um importante aliado dos EUA na luta contra grupos radicais islâmicos na África Ocidental.

Tanto Paris quanto Washington, porém, não protestaram contra a saída de Compaore e preferiram se concentrar em pedidos para que os militares garantam o processo democrático.

"Condenamos qualquer tentativa dos militares ou de outras partes de tirar vantagem da situação. Pedimos respeito ao apoio do povo por um processo democrático", disse na sexta-feira Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

Analistas acreditam que a renúncia de Compaoré poderá ter desdobramentos significativos na África, onde diversos chefes de estado têm tentado ou conseguido prolongar seus mandatos.

Localizado no oeste da África, Burkina Faso se tornou independente da França em 1960. O país sofreu diversos golpes militares nos anos 1970 e 80 - um deles, em 1987, permitiu a ascensão ao poder de Compaoré.

Ele venceu as quatro eleições disputadas desde então, mas estava impedido de participar das próximas eleições de acordo com as leis do país.

Burkina Faso é um dos países mais pobres do mundo e ocupa a 181a posição no ranking de Desenvolvimento Humano da ONU.