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Últimos minutos de Michael Brown têm versões contraditórias

25/11/2014 13h20Atualizada em 25/11/2014 13h59

Um grande júri do Estado Americano de Missouri decidiu não indiciar o policial Darren Wilson no caso que culminou com a morte a tiros do jovem negro, de 18 anos, Michael Brown, em agosto.

O promotor do distrito de St Louis Bob McCulloch disse que o júri, composto por nove jurados brancos e três negros, participou de pelo menos 25 audiências nas quais foram ouvidas mais de 70 horas de depoimentos de testemunhas. A conclusão: Não foi encontrada uma "possível causa" para o indiciamento.

O promotor ressaltou que os membros do júri foram "as únicas pessoas a ouvirem o depoimento de todas as testemunhas…e tiveram acesso a todas as provas reunidas no caso.''


McCulloch acrescentou que os depoimentos prestados careciam de consistência e que não foram considerados válidos juridicamente, assim, a veracidade dos fatos foi melhor estabelecida pelas provas materiais reunidas.

A decisão do júri causou revolta no Estado e vários incidentes de vandalismo e confrontos com a polícia foram registrados durante a noite de segunda-feira.

Contradição

A declaração do promotor McCulloch contradiz alguns relatos feitos após o incidente, incluindo o de Dorian Johnson, que acompanhava Michael Brown no momento em que foram abordados pelo policial Wilson.

A verdade dos fatos, seja ela qual for, está contida nos três minutos decorridos entre 12:01, momento em que policial abordou os dois jovens na rua, e 12:04, quando chegaram os reforços pedidos por Wilson pelo rádio. Ao chegar, a equipe de apoio já encontrou morto o jovem Michael Brown.

De acordo com o promotor McCulloch, Wilson abordou Brown pela primeira vez quando o jovem andava ao lado de Dorian Johnson. O policial achou que Brown se parecia com a descrição do suspeito de um roubo ocorrido fazia poucos minutos em uma loja de conveniências e viu que jovem levava consigo umas cigarrilhas, que tinham sido roubadas.

O promotor afirma que o policial começou a "discutir com o jovem" ainda antes de sair da viatura. Segundo McCulloch, as testemunhas descreveram o desenrolar dos fatos de várias maneiras: "um confronto corporal, uma altercação, um enfrentamento, uma medição de forças ou simplesmente como uma movimentação física".

Dorian Johnson confirmou que o confronto começou com o policial ainda sentado na viatura. Ele acrescenta que Wilson disparou o primeiro tiro ainda do interior do veículo e foi nesse momento que ele e Brown começaram a correr.

Johnson afirma que Brown foi atingido pelas costas e em seguida teria se virado para o policial com os braços erguidos. Johnson acrescenta que o policial teria então disparado várias vezes derrubando Brown.

Na versão oficial, o promotor disse que o policial disparou dois tiros; um deles atingiu de raspão o polegar direito de Brown.

Briga e tiros

O promotor McCulloch disse ainda que após ser ferido, o jovem correu na direção leste, perseguido pelo policial. Quando Brown parou e se voltou, indo na direção do policial, Wilson disparou vários outros tiros, incluindo o que matou o adolescente.

No dia seguinte ao incidente, o chefe de polícia de St Louis, Jon Belmar, afirmou, numa coletiva de imprensa, que um dos rapazes teria empurrado o policial impedindo que ele saísse da viatura e em seguida passou a agredir Wilson. Houve uma disputa pela arma do policial e um tiro foi disparado. Em seguida, Wilson teria conseguido sair da viatura tendo disparado contra o adolescente.

Várias pessoas que teriam presenciado o incidente tiveram sua versão divulgada pela mídia americana. Numa rádio local, uma mulher que se identificou como Josie, disse que quando o policial tentou saltar do carro, teria sido empurrado e agredido pelo jovem com um soco no rosto. O policial tentou sacar a arma mas foi impedido por Brown. Em seguida, um tiro foi disparado de dentro da viatura.

Ela acrescentou que Brown desafiou o policial quando este mandou que parasse. Em seguida o jovem teria corrido na direção do policial que começou a atirar.

Uma reportagem do jornal Washington Post disse que várias testemunhas ouvidas pelo júri, incluindo negros, deram depoimentos confirmando a versão do policial Wilson.

O jornal acrescenta que o depoimento de sete ou oito testemunhas oculares de etnia afro-americana confirmaram a versão do policial, mas nenhuma delas quis falar abertamente em público por temerem represálias.

Mão ao alto?

O promotor não confirmou entretanto se o jovem estava com as mãos erguidas no momento dos disparos. McCulloch se limitou a apresentar o depoimento de várias testemunhas.

"Alguns disseram que Brown manteve suas mãos ao lado do corpo, outros disseram que as mãos do jovem estavam na frente do corpo, com as palmas das mãos viradas para cima, alguns outros disseram que ele manteve suas mãos erguidas, perto da cabeça, ou sobre os ombros, enquanto outros testemunhos dizem que as mãos dele estavam sobre o peito e outros sobre o abdômem."


"Outros disseram ainda que as mãos do adolescente estavam em posição de corrida e outros afirmaram que ele tinha os punhos cerrados."

O promotor acrescentou que várias testemunhas disseram que Brown nunca chegou a erguer as mãos, enquanto outras disseram o contrário.

Tiros e ferimentos, o que foi revelado pela autópsia?

O resultado da autópsia oficial cujos detalhes vazaram para a imprensa, difere do da autópsia privada contratada pela família de Michael Brown.

Segundo o laudo oficial, o corpo de Michael Brown ficou caído a cerca de 40 metros da viatura policial. O sangue do menino foi encontrado a cerca de 8 metros mais adiante.

No total, o policial disparou 12 tiros. Brown foi atingido sete ou oito vezes, incluindo o tiro de raspão no polegar. Um dos tiros pode ter entrado no corpo de Brown no lugar exato de uma perfuração feita por um tiro anterior.

Mas, de acordo com a autópsia encomendada pela família, o adolescente recebeu pelo menos seis tiros, sendo dois na cabeça e quatro no braço direito.

O exame, feito pela equipe do legista Michael Baden, diz ainda que dois dos tiros disparados podem ter entrado no corpo do jovem por perfurações já existentes.

Para Baden, Brown foi morto pela bala que atingiu a parte superior de sua cabeça.

Segundo Baden, os resíduos de pólvora encontrados no corpo de Brown indicam que o jovem foi atingido por disparos feitos a cerca de 6 metros de distância.


Mas o relatório oficial contradiz essa afirmação. O documento relata que os resíduos encontrados na mão do jovem indicam que Brown " teria sido ferido na mão por um disparo feito à queima roupa.”

Isto confirmaria o relato do policial de que o jovem tentou tirar a arma dele ainda no interior do veículo, antes de ter sido atingido e morto por Wilson

O documento oficial diz ainda que o último disparo feito pelo policial atingiu a cabeça de Brown. Alguns ferimentos indicam que o rapaz se curvou para a frente, dobrando o corpo à altura da cintura.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos continua investigando o caso para determinar se houve possível violação de direitos humanos.