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Chance de vitória da extrema esquerda na Grécia mantém Europa em alerta

Sacerdote ortodoxo grego deposita seu voto em colégio eleitoral em Atenas - Yannis Behrakis/Reuters
Sacerdote ortodoxo grego deposita seu voto em colégio eleitoral em Atenas Imagem: Yannis Behrakis/Reuters

24/01/2015 13h30

Quando os gregos votarem no domingo, eles não estarão escolhendo apenas um novo governo: estarão mandando uma mensagem à Europa e seus líderes. Se as pesquisas estiverem corretas, a Grécia está à beira de eleger o primeiro partido anti-austeridade na zona do euro. Se isso acontecer, o futuro da Grécia estará, mais uma vez, incerto.

Mas a eleição será também o dia de julgamento sobre como a Europa conseguiu lidar com a sua crise financeira e econômica. O país foi socorrido com 240 bilhões de euros da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional. Mas a economia encolheu 25%, um número sem precedentes na era moderna.

Muitos gregos acreditam que eles foram colocados num laboratório de austeridade.

O primeiro-ministro, Antonis Samaras, quando na oposição, era visto com desconfiança por Bruxelas e Berlim. Ele duvidava que cortar gastos no meio de uma recessão poderia funcionar e resistiu em aceitar estas condições. No poder, ele essencialmente seguiu o script da chamada troika: UE, BCE e FMI.

Em troca do socorro, a Grécia teve de aceitar um programa drástico de cortes de gastos públicos e aumento de impostos.

Há algumas notícias positivas. O país tem superávit orçamentário e já não está em recessão. As receitas de turismo estão em alta e a Grécia tem um impressionante número de empresas start-up em tecnologia.

'Humilhação nacional'

O apelo de Samaras ao povo grego é de "manter o rumo". Ele promete tirar a Grécia do programa de resgate. Ele é o candidato apoiado por Bruxelas e Berlim.

Seu principal adversário é Alexis Tsipras, do partido de esquerda radical Syriza. Ele é jovem, dinâmico e promete um fim ao que chama de humilhação nacional.

Acredita que o pacote de austeridade é um desastre não apenas para a Grécia mas para a Europa e promete renegociar os acordos de resgate e reestruturar a dívida, que atualmente corresponde a 175% do Produto Interno Bruto (PIB).

Diz ele que agirá desde o primeiro dia para aumentar o salário mínimo, restaurar a eletricidade onde ela foi cortada e oferecer cobertura de saúde para os desamparados. É um programa ambicioso, e críticos duvidam que ele poderá cumpri-lo.

Sociedade tem sofrido

A taxa de desemprego, depois de cinco anos, é de 26% (cerca de 50% para os jovens). A classe média se sente maltratada, com muitos desgastados pelos anos de cortes. Eles parecem dispostos a apostar no Syriza, apesar dos avisos de que Tsipras levará o país para um confronto com seus credores.

É fácil ver o quanto a sociedade grega sofreu: centros de acolhimento onde milhares são alimentados; farmácias improvisadas onde a população sem cobertura de saúde pode encontrar medicamentos que foram doados; a jovem que diz dever dinheiro a todos os amigos; um alfaiate que repara jeans por diversas vezes por apenas 4 euros; as 200 mil pessoas que deixaram a Grécia durante a crise.

A desesperança pode decidir essa eleição. Há, no entanto, pouco apetite para abandonar o euro ou a UE. A maioria dos gregos quer ficar no clube europeu. Eles temem estar do lado de fora.

Há uma tendência de se ignorar a corrupção, os auxílios generosos e a evasão fiscal. A Grécia nunca deveria ter aderido ao euro apoiada em estatísticas pouco confiáveis. Mas eles firmemente querem ficar na União Europeia.

Desestabilização

Se o Syriza vencer no domingo - e se ele ganhar com uma maioria absoluta - vai, mais uma vez, desestabilizar a Europa. O partido não carrega os riscos de 2012, quando os mercados temiam um calote grego com contágio na Espanha e Itália. O BCE retirou essa ameaça. Mas Bruxelas vai temer instabilidade.

Alexis Tsipras disse que vai negociar - mas o que acontecerá se houver um impasse?

Um primeiro-ministro europeu já disse que vai resistir a qualquer movimento para perdoar a dívida grega. Outros não estão preparados para renegociar os acordos de resgate e suavizar os termos. Os alemães até insinuaram que poderiam permitir uma saída da Grécia da zona do euro.

Mas as negociações serão difíceis. E a Grécia tem alguns grandes pagamentos a fazer no final do ano. Um movimento errado pode colocar o país em default.

E se os líderes europeus estiverem dispostos a fazer concessões, outros países poderão, então, solicitar o abrandamento em seus limites orçamentários também. A Alemanha poderá temer que a disciplina financeira que tem procurado introduzir na zona do euro esteja se desfazendo.

O eleitorado grego ainda pode escolher ficar com o status quo. Samaras tem alertado contra o Syriza. "Não nós transformaremos na União Soviética aqui - o comunismo não irá vencer", disse.

Em última análise, alguns podem se afastar de votar na esquerda radical, mas as pesquisas sugerem que a austeridade deixou muitas pessoas cansadas e ressentidas.

A eleição de domingo pode ser um dia importante para a Europa. E a vitória aqui poderá impulsionar outros partidos de extrema esquerda, como o Podemos, na Espanha. Tanto a Grécia como a Europa estarão de olho.