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Crise na Ucrânia: EUA e Inglaterra cogitam ampliar sanções à Rússia

Sergei Karpukhin/Reuters
Imagem: Sergei Karpukhin/Reuters

21/02/2015 16h41

Acordo de cessar-fogo foi assinado em 12 de fevereiro, mas conflitos continuam

Apesar do acordo de cessar-fogo selado entre Rússia e Ucrânia neste mês, os conflitos na região continuam. Neste cenário, os Estados Unidos e a Inglaterra estão cogitando ampliar ainda mais as sanções a Moscou.

Em visita a Londres neste sábado (21), o Secretário de Estado americano, John Kerry acusou o governo russo de ter um "comportamento covarde" ao apoiar os rebeldes, minando o acordo de cessar-fogo.

Segundo Kerry, "sanções adicionais" a Moscou estão nos planos.

"A Rússia se envolveu em um processo absolutamente óbvio e cínico nos últimos dias", disse ele. "Não vamos ficar assistindo e aceitando esse comportamento completamente covarde às custas da soberania e integridade de uma nação."

Um porta-voz do Kremlin, no entanto, disse que sanções não vão ajudar a resolver a crise na Ucrânia.

"A obsessão por fazer alguém 'pagar o preço', como eles gostam de dizer em Washington, não contribui em absolutamente nada para resolver a situação no sudeste da Ucrânia", disse o porta-voz do governo russo Dmitry Peskov à rádio russa Ekho Moskvy.

Cessar-fogo

O acordo de cessar-fogo, assinado em Minsk neste mês, tem chegado perto do colapso. Isso porque, nos últimos dias, um lado tem acusado o outro de "violar a trégua" e vice-versa.

Ainda assim, os rebeldes anunciaram a troca de prisioneiros como parte do cessar-fogo. Algo entre 35 e 39 soldados ucranianos e 37 pessoas detidas pelo governo ucraniano estavam para ser libertadas na região de Luhansk.

Enquanto isso, um assessor do presidente ucraniano Viktor Poroshenko, Yuri Biriukov, disse que o número de ucranianos mortos na batalha da semana passada em Debaltseve, uma das cidades-chave do conflito, foi possivelmente 179 –sendo que 81 ainda estão desaparecidos. O número é muito maior do que o que foi previamente anunciado.

Os rebeldes tomaram o centro estratégico de transporte, apesar do cessar-fogo, assinado no dia 12 de fevereiro, e argumentaram que o pacto não valia para a cidade central do conflito –o que forçou as tropas do governo a recuarem.

O governo ucraniano, junto com os líderes do Ocidente e a Otan disse que há claras evidências de que a Rússia está ajudando os rebeldes no leste da Ucrânia com armamento pesado e soldados. Especialistas independentes também ecoam essas acusações, mas Moscou alega que "se há russos lutando do lado dos rebeldes, eles estão lá voluntariamente."

Cerca de 5.700 pessoas morreram desde o início dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, em abril do ano passado, e cerca de 1,5 milhão de pessoas fugiram de suas casas, de acordo com a ONU.

Situação

O discurso mais duro de John Kerry veio depois que um grupo de senadores americanos escreveu para ele pedindo sanções mais rígidas à Rússia e o fornecimento de armas de defesa para o governo ucraniano.

O secretário americano descreveu a situação na cidade portuária de Mariupol, na região do conflito, como inaceitável –lá, os rebeldes são acusados de bombardear as forças do governo e de acumularem equipamentos e tropas.

O governo ucraniano teme que os rebeldes vão tentar dominar a cidade para construir um corredor em direção à Crimeia, território ucraniano anexado pela Rússia no ano passado.

Enquanto isso, os rebeldes dizem que o exército ucraniano bombardeou suas tropas em várias áreas na madrugada, incluindo partes da cidade de Donetsk.

Michael Bociurkiw, porta-voz de Kiev do OSCE, que está monitorando o conflito, disse que houve uma "longa e justa lista de violações do cessar-fogo", mas que também é preciso considerar a "paz em lugares onde por um bom tempo era impossível circular".

Protestos

Os conflitos seguem acontecendo quando já se completa um ano desde a saída do presidente ucraniano pró-Rússia, Viktor Yanukovych, depois de protestos massivos terem tomado conta do centro de Kiev.

Uma manifestação aconteceu em Moscou neste sábado em protesto contra a destituição do ex-presidente, que muitos russos consideram como um "golpe".

A polícia estima que cerca de 35 mil pessoas estiveram nas ruas para protestar.

A correspondente da BBC, Sarah Rainsford, esteve na marcha e disse que muitas pessoas ali culpavam os Estados Unidos e a Europa por "terem articulado" uma mudança de regime na Ucrânia.

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