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Análise: Mesmo aquém de meta do Ocidente, acordo nuclear com Irã 'ganha tempo'

 Iranianos celebraram nas ruas anúncio de acordo - Ebrahim Noroozi/AP
Iranianos celebraram nas ruas anúncio de acordo Imagem: Ebrahim Noroozi/AP

Jonathan Marcus

Correspondente de Diplomacia da BBC

03/04/2015 07h00

O acordo fechado entre potências ocidentais e o Irã parece conter novos dispositivos de verificação importantes para permitir a inspetores internacionais maior supervisão do programa nuclear de Teerã.

Mas o acordo, mesmo sendo elogiado por especialistas nucleares e de controle de armas, está muito aquém da meta inicial do Ocidente de reverter o programa nuclear iraniano.

Por isso, se ele não resolve a crise, pelo menos compra tempo - durante o qual muita coisa pode acontecer.

Semanas difíceis de discussões sobre detalhes estão por vir. Mas, se for implementado na íntegra, restringirá o programa nuclear do Irã por cerca de 10 a 15 anos.

O Departamento de Estado dos EUA foi rápido em publicar uma longa lista do que chamou de parâmetros do acordo, num claro esforço de vendê-lo a um Congresso cético.

Os detalhes revelam que o Irã fez algumas concessões significativas e podem tornar mais difícil a missão de diplomatas iranianos de convencer a comunidade doméstica diante do ceticismo de políticos linha-dura.

- O Irã poderá ter 6.104 centrífugas instaladas - atualmente são 19 mil - e apenas pouco mais de 5 mil delas irão realmente enriquecer urânio. Todos as centrífugas em funcionamento serão modelos menos avançados. O resto será armazenado sob a supervisão de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)

- O Irã irá reduzir seu estoque de urânio de baixo enriquecimento - a matéria-prima para a fabricação de uma bomba, se enriquecido ainda mais

- Não haverá enriquecimento na instalação subterrânea de Fordow por cerca de 15 anos

- Inspetores terão acesso não apenas às principais instalações nucleares mas para a rede de fornecimento do programa nuclear do Irã e a minas de urânio e usinas

- O Irã será obrigado a conceder acesso aos inspetores da AIEA para investigar locais suspeitos ou atividades clandestinas suspeitas em qualquer lugar do país

- O reator de água pesada em Arak, que muitos temiam poder fornecer ao Irã condições para converter urânio em plutônio - para uma potencial bomba -, será reconstruído para que não possa ser capaz de produzir plutônioAlgumas destas restrições ficarão em vigor por 10 anos e, algumas, por 15.

Em troca:

- Sanções dos EUA e da União Europeia relacionadas ao programa nuclear serão suspensas, apesar de um prazo não ter sido divulgado

- O Irã não terá que fechar completamente nenhuma de suas instalações nucleares

- Após o fim das sanções, o país sairá com a base de uma significativa indústria nuclear

No entanto, o nível de detalhes é impressionante e parece ter convencido especialistas nucleares de que, de fato, o acordo permite que seja possível saber com um ano de antecedência se as metas almejadas foram cumpridas ou não.

Esse prazo é visto como suficiente para que qualquer esforço iraniano de abandonar o acordo e caminhar para o enriquecimento de material suficiente para uma bomba seja rapidamente descoberto e medidas sejam tomadas.

As ações de verificação e de inteligência previstas devem ser suficientes para desencorajar Teerã a manter um programa nuclear paralelo clandestino.

Isto pode não convencer muitos dos críticos, como Israel. E grandes questões permanecem. Qual será a resposta a qualquer infração iraniana? Sanções que foram suspensas poderão ser reimplantadas?

Mas se tudo funcionar, o Irã também só tem a ganhar. O país manterá uma significativa infraestrutura nuclear que poderá ser expandida após o acordo expirar e terá um alívio vital das sanções que debilitaram sua economia.

Por enquanto, parece que todos ganham. Mas não é uma solução para as questões fundamentais colocadas pelo programa nuclear do Irã, que refletem suas ambições regionais e militares.