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O mercado de apostas pode prever resultados de eleições?

John Stillwell/EFE
Imagem: John Stillwell/EFE

Luis Kawaguti

Da BBC Brasil, em Londres

06/05/2015 17h00Atualizada em 06/05/2015 18h12

Aposta média em eleições britânicas varia entre 5 e 10 libras (até R$ 50)

As eleições britânicas desta quinta-feira (7) podem movimentar até 25 milhões de libras (cerca de R$ 120 milhões) no mercado de apostas. Segundo especialistas, esse lucrativo mercado pode ter uma precisão semelhante à das pesquisas de opinião quando se trata de prever os resultados das urnas.

Diferente do Brasil, na Grã-Bretanha é possível fazer apostas sobre praticamente tudo, legalmente. Casas de apostas operam em todo o país e pela internet.

Nesta eleição é possível apostar não só em quem será o novo primeiro ministro, mas também quantos assentos cada partido terá no Parlamento, como ocorrerá uma eventual coalizão, quantos eleitores comparecerão às urnas, entre outras possibilidades.

A maioria dos apostadores é homem, tem algum grau de envolvimento na política ou acompanha de perto o noticiário, e aposta em média entre 5 e 10 libras (cerca de R$ 50), segundo Graham Sharpe, porta-voz da casa de apostas William Hill, uma das maiores do país.

"Mas teve uma pessoa que apostou sozinha 200 mil libras", disse ele.

Recentemente, o mercado de apostas britânico demonstrou um considerável grau de precisão ao "prever" o sexo do bebê do príncipe William e Kate Middleton e até o seu primeiro nome: "Charlotte" (o que rendeu pagamentos a apostadores da ordem de 1 milhão de libras, quase R$ 5 milhões).

É por causa dessa precisão que alguns eleitores podem pensar em checar quanto pagam as apostas em cada partido na hora de pensar em fazer um "voto útil".

"Os eleitores analisam o mercado de apostas da mesma forma que as pesquisas eleitorais, para saber se o candidato em quem querem votar têm chances ou não", disse Sharpe.

Porém, segundo ele, atuando como apostadores no mercado, esses eleitores escolheriam não seus candidatos preferidos, mas sim aqueles que têm maiores chances de ganhar.

Mercados preditivos

O sistema de bancas de apostas britânico tem um princípio de funcionamento muito semelhante ao que pesquisadores internacionais chamam de 'mercados preditivos'.

Eles são uma espécie de 'bolsa de valores' onde 'investidores' compram as ações dos candidatos a uma determinada eleição.

Em ambos os casos, os participantes apostam dinheiro nos candidatos que acham ter mais chance de ganhar, independente de suas preferências políticas.

A primeira iniciativa de criar mercados preditivos para analisar sua precisão para indicar resultados eleitorais surgiu na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, em 1988.

Uma pesquisa dessa instituição analisou os resultados de 15 eleições ocorridas entre 1988 e 2000 nos Estados Unidos, Alemanha, Áustria, Dinamarca, França e Turquia.

Ela mostrou que, em nove desses pleitos, os mercados preditivos foram mais precisos que as pesquisas de opinião. Enquanto as pesquisas de opinião tradicionais obtiveram margens de erro de 1,9 ponto percentual, as dos mercado preditivo alcançaram margens de erro de 1,49 pp e 1,58 pp (que correspondem a dois diferentes critérios usados no mercado preditivo).

Brasil

O pesquisador Ivan Roberto Ferraz, da FEA (Faculdade de Economia e Administração) da USP (Universidade de São Paulo), vem realizando um estudo acadêmico para verificar se esse tipo de mercado preditivo poderia ser adotado no Brasil.

A diferença básica em relação às casas de aposta britânicas e aos mercados preditivos dos Estados Unidos é que no Brasil esse tipo de aposta é proibido.

Ferraz criou então um site que simulava uma bolsa de valores que operava com dinheiro virtual, sem valor, e que tinha como principais "produtos" os candidatos às eleições brasileiras de 2014.

Ele analisou o comportamento de cerca de 150 "investidores", que fizeram mais de 1.600 operações. Embora realizada em pequena escala, a chamada BPrev obteve índices de erro semelhantes aos das pesquisas de intenção de voto realizadas nas vésperas do pleito brasileiro.

No primeiro turno da eleição presidencial brasileira, a BPrev teve um índice de erro de 2,8 pontos percentuais, enquanto o das pesquisas em geral foi de 3,5. No segundo turno, as pesquisas eleitorais tiveram um desempenho um pouco mais preciso: 1,6 ponto percentual de erro contra cerca de 1,8 do mercado preditivo.

"Os resultados apontam que é viável aplicar essa técnica no mercado brasileiro", disse Ferraz. Porém, a aprovação das autoridades ao uso de dinheiro real, mesmo que em escala experimental em pesquisas acadêmicas, é pouco provável a curto e médio prazo.

Mesmo a eventual criação de mercados preditivos sem dinheiro real, mas em grande escala, avalia ele, poderia enfrentar resistência das autoridades eleitorais.

Na época em que a pesquisa de Ferraz foi realizada, a Justiça Eleitoral disse à BBC Brasil que não havia legislação que tratasse de mercados preditivos no país.

Resultados

Na Grã-Bretanha, uma grande parcela das apostas deve ser feita entre esta quarta-feira (6) e a tarde de quinta-feira, dia do pleito.

As tendências de apostas nesse período tendem a ser as mais próximas do resultado real da eleição. Na manhã desta quarta-feira, os dois principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro --David Cameron e Ed Miliband-- estavam praticamente empatados nas casas de apostas.

Na Grã-Bretanha, o eleitor não vota diretamente no primeiro-ministro, mas em parlamentares. As pesquisas de intenção de voto no mesmo período indicavam uma diferença muito pequena entre os Conservadores, de Cameron, (34%) e Trabalhistas, de Miliband (33%).

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