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Visita de Dilma aos EUA foi positiva, mas avanços são tímidos, diz analista

Roberto Stuckert Filho/Presidência
Imagem: Roberto Stuckert Filho/Presidência

Alessandra Corrêa

De Washington para a BBC Brasil

02/07/2015 05h16

A visita de Dilma Rousseff aos Estados Unidos, encerrada na quarta-feira (1º), foi saudada pelo anfitrião, o presidente Barack Obama, e por muitos analistas locais como o marco de um novo capítulo nas relações bilaterais, estremecidas desde 2013, quando a presidente brasileira cancelou uma viagem ao país ao descobrir ser alvo de espionagem pelo governo americano.

Mas a visão do lado americano é a de que os avanços nessa retomada das relações ainda são tímidos, e o sucesso da viagem vai depender de como a relação avançará daqui para frente.

"A questão não é o que aconteceu em Washington, Nova York ou Palo Alto (paradas no roteiro de quatro dias de Dilma pelo país), mas o que vai acontecer de agora em diante. Como aproveitar o que considero um genuíno aquecimento nas relações", disse à BBC Brasil Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, com sede na capital americana.

A disposição dos dois governos de superar as turbulências do passado, que era o principal objetivo da viagem, foi clara.

Durante entrevista coletiva concedida após reunião na Casa Branca, Obama chamou o Brasil de "parceiro natural". "Pode ter sido um pouco de exagero, mas sugere a direção que os Estados Unidos querem tomar", avalia Hakim.

No entanto, para o brasilianista, apesar de anúncios conjuntos importantes sobre compromissos para combater mudanças climáticas e acordos de defesa, as principais questões da relação bilateral não foram contempladas na viagem.

"Não vi grandes decisões sobre como aumentar a relação comercial e chegar a um patamar como o que México ou China têm com os Estados Unidos, por exemplo, ou declarações públicas sobre assuntos de política externa, como Venezuela, Síria ou Irã", observa, citando algumas questões internacionais sobre as quais ambos os países têm discordâncias.

Mas Hakim afirma que, se a visita realmente marcar o início de um diálogo, terá sido um sucesso.

Investidores

Se no campo político o principal objetivo da viagem era o reaquecimento das relações, na área econômica a missão foi reconquistar a confiança de investidores e empresários americanos no Brasil.

A viagem foi realizada em meio à crise econômica e ao agravamento da crise política, com novas denúncias dentro das investigações da Operação Lava Jato envolvendo o financiamento da campanha à reeleição de Dilma.

A presidente se reuniu com empresários americanos nas três cidades por onde passou, apresentando oportunidades de investimentos em infraestrutura e ressaltando as medidas que vêm sendo tomadas para colocar a economia brasileira de volta aos trilhos.

Segundo alguns analistas e empresários que participaram na terça-feira de uma cúpula bilateral de negócios na Câmara de Comércio Americana, em Washington, há por parte dos americanos a avaliação de que o governo brasileiro está dando passos na direção certa.

"Ninguém esperava grandes mudanças da noite para o dia", disse à BBC Brasil o analista João Castro Neves, diretor para América Latina da consultoria Eurasia Group em Washington e um dos palestrantes da cúpula.

"O resultado da visita foi positivo, dentro de um contexto onde não se esperava grandes avanços", afirma.

Segundo Kellie Meiman, sócia-gerente da consultoria internacional McLarty Associates, que também participou da cúpula, foi bem recebida a sinalização do governo brasileiro de mostrar disposição para maior abertura para investimentos no Brasil e para dialogar com o setor privado

"Há muito entusiasmo no setor privado (americano) para realizar todas essas aspirações e iniciativas que foram anunciadas na visita", disse Meiman à BBC Brasil.

Para Castro Neves, há boa vontade em relação às iniciativas do governo brasileiro de correção dos rumos da economia e na política fiscal. Mas a deterioração da economia e o agravamento da crise política provocados pelas revelações da Operação Lava Jato provocam dúvidas no curto prazo.

"Agora, o questionamento não é sobre o comprometimento do governo em melhorar a relação com o setor privado e atrair mais investidores. Essa era a dúvida no começo do ano, após a reeleição", destaca.

"Eles não colocam em dúvida a vontade do governo de melhorar a relação, mas sim a capacidade do governo de fazer isso", afirma.

Castro Neves ressalta, porém, que no longo prazo, em comparação com outros emergentes, o Brasil é considerado uma aposta de investimentos interessante.