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Quais são as chances de pedaço de asa encontrado ser do voo MH370?

Pedaços de uma asa encontrados na quarta-feira na costa da ilha francesa de La Réunion, no Índico - Yannick Pitou/AFP
Pedaços de uma asa encontrados na quarta-feira na costa da ilha francesa de La Réunion, no Índico Imagem: Yannick Pitou/AFP

30/07/2015 11h43

A descoberta da parte de uma asa de avião na ilha de Reunião, território ultramarino francês no Oceano Índico perto de Madagascar, levantou esperanças de que finalmente foi encontrado um vestígio do Boeing 777 da Malaysia Airlines, o voo MH370, desaparecido durante o trajeto entre Kuala Lumpur e Pequim em março de 2014, com 239 pessoas a bordo.

O objeto, encontrado por voluntários que faziam a limpeza de uma praia, agora está sendo enviado para a França para ser analisado.

Mas quais são as chances de esta peça ser mesmo a primeira pista para resolver um dos maiores mistérios da história da aviação?

O que sabemos a respeito do fragmento encontrado?

O pedaço de 2 metros de comprimento foi encontrado em uma praia de St Andre, no nordeste da ilha, na quarta-feira.

As primeiras fotos do destroço sugerem que se trata da parte da asa que ajuda o avião a subir chamada de flaperon.

Vários especialistas em aviação afirmaram que este pedaço pode ser de uma grande aeronave, como um Boeing 777, o mesmo modelo do avião do voo MH370.

Mas, todos pedem cautela e as autoridades da Malásia dizem querer "provas concretas e irrefutáveis" antes de falar com as famílias das vítimas.

Há quanto tempo este destroço está no mar?

O fato de ser uma parte considerada grande reforça a teoria de que ela não está no mar há muito tempo.

Ellis Taylor, especialista em análises do setor de avião para da empresa de mídia FlightGlobal, disse à BBC que é difícil determinar a idade do fragmento, pois parece ser feito de vários materiais como fibra de carbono e resina, que podem ser muito resistentes à erosão.

Robin Beaman, geólogo marinho da Universidade James Cook, da Austrália, afirmou que, pelas fotos, deu para notar que o destroço continha animais marinhos como cracas, um tipo de cultura comum em objetos flutuando na superfície do Oceano Índico.

Beaman afirmou que, pela formação das cracas, dá para concluir que a parte de asa está boiando "há algum tempo" - mas podem ser anos ou meses, e também não se sabe quanto tempo o destroço esteve na praia antes de ser encontrado.

A que distância o destroço está da área de buscas?

As buscas pelo avião se concentraram em uma área de 60 mil quilômetros quadrados a sudoeste de Perth, na Austrália. A Ilha Reunião está cerca de 6 mil quilômetros a oeste desta área.

Apesar de a distância ser grande, é possível que um pedaço dos destroços tenha percorrido esse trajeto em um ano, segundo especialistas.

"A posição da parte do avião é coerente com onde acreditamos que os destroços possam ter aparecido", disse o oceanógrafo David Griffin, da agência nacional de ciências australiana CSIRO.

"Magadascar tinha, talvez, uma probabilidade maior e Reunião não é tão longe."

Simulações em computadores do possível caminho dos destroços colocam os pedaços inicialmente na latitude da área de buscas, antes de projetá-los em direção noroeste, levando em conta a ação de ventos e das correntes marinhas conhecidas do Índico.

Beaman, por sua vez, lembrou que um barco perdido na costa oeste da Austrália no ano passado foi encontrado quase intacto oito meses depois a oeste de Madagascar.

Se não for um pedaço do MH370, o que pode ser?

Vários aviões caíram no Oceano Índico ou na região onde fica Reunião nas últimas duas décadas.

Duas quedas foram de grandes aeronaves que acabaram em águas perto das ilhas Comoros.

Um deles foi o Yemenia Airways IY626, que caiu em 2009 matando todos a bordo, exceto uma adolescente. A aeronave era um Airbus 310.

O outro foi o Ethiopian Airlines ET961, o Boeing 767 que foi sequestrado em 1996 e caiu depois que os motores foram desligados devido a falta de combustível.

Quanto tempo será necessário para confirmar a origem da parte do avião?

Ellis Taylor, da FlighGlobal, disse que o processo de identificação provavelmente vai levar "alguns dias".

Partes de aviões, incluindo este pedaço específico, o flaperon, geralmente vem com detalhes como número de série, fabricante e certificado de segurança.

Os investigadores vão precisar checar os detalhes de identificação do destroço e rastrear até o fabricante que, por sua vez, precisará checar em seu banco de dados para verificar em que avião a parte foi usada.

O pedaço encontrado pode realmente ajudar a descobrir o que aconteceu com o MH370?

O analista da BBC para o setor de transportes Richard Westcott diz que a peça pode confirmar que a aeronave caiu e se despedaçou, mas não deve revelar muito mais sobre o que realmente aconteceu a bordo.

Greg Waldron, da FlighGlobal, disse à BBC que um pedaço da aeronave não vai resolver o mistério, que só será elucidado com as caixas-pretas do avião.

David Griffin, da CSIRO, afirmou que isto não vai afetar as buscas já existentes. "Você não pode reconstruir o caminho do voo com a certeza necessária tendo apenas isto como base", afirmou.

"Tudo o que podemos dizer é que a localização da parte do avião é coerente com nossos cálculos de voo e não vai afetar a busca no fundo do mar pelo MH370."

David Mearns, especialista em resgates marinhos, concorda com esta avaliação. Ele disse à BBC que, mesmo se o pedaço for do MH370, a "incerteza é muito grande" para definir o local da queda, levando em conta que o avião desapareceu há 16 meses.

"Já rastreei destroços para localizar naufrágios mas apenas em um período de um a três dias", afirmou.

O que dizem as famílias?

"Uma parte de mim espera que seja (o MH370) para que eu possa encerrar isso e sepultar meu marido de forma apropriada", disse à BBC Jaquita Gonzales, cujo marido era membro da tripulação do voo MH370.

"Mas outra parte diz 'não, não, não', pois ainda há esperança. Então estou dividida."

KS Narendran, cuja esposa estava no voo, disse à CNN que ainda "é muito cedo".

"Acho prematuro achar que tudo vai acabar ou que estamos mais perto da verdade."