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O que deixou o céu verde no Rio Grande do Sul e na Argentina?

Lucía Blasco

BBC Mundo

31/07/2015 22h40

Um objeto luminoso cruzou o céu no Rio Grande do Sul, Uruguai e também da capital argentina, Buenos Aires, durante a noite de quinta-feira (30), causando espanto e levando muitos a se manifestar nas redes sociais.

Era possível ver uma luz verde em volta do estranho objeto enquanto ele passava. No Rio Grande do Sul, foi possível ver a luz distante em Porto Alegre e na praia do Cassino, em Rio Grande.

"Não se escutou nenhum som, mas as pessoas começaram a gravar e a perguntar o que era aquilo, o que estava acontecendo", disse à BBC Mundo o jornalista argentino Germán Pérez, autor das imagens feitas em Buenos Aires.

A BBC Mundo conversou com especialistas no assunto.

"Provavelmente é um fragmento de cometa de tamanho maior do que o normal, que se incendiou durante sua descida pela atmosfera da Terra", disse à BBC César Bertucci, pesquisador do Instituto de Astronomia e Física Espacial da Argentina (IAFE).

"É curioso que o fenômeno ocorreu a dias do apogeu da chuva de meteoros Delta Aquarídeas e a duas semanas de outra mais importante, chamada Perseidas. Isto nos faz pensar que se trate de fragmentos de cometas e não de lixo espacial", acrescentou.

O astrônomo Jorge Coghlan, membro do Centro de Observadores do Espaço (CODE) disse a uma rádio da Argentina que "o que se viu na Argentina foi matéria interplanetária, um bólido".

"A Terra recebe permanentemente estes fenômenos, são restos de formações dos planetas", acrescentou.

Fluorescente

Mas ainda restava a dúvida sobre qual a causa da cor verde que o objeto emitia ao cruzar o céu.

Emmet Fletcher, porta-voz da Agência Espacial Europeia (AEE) afirmou à BBC Mundo que a cor verde foi causada pelo magnésio do meteorito.

"Existem duas fontes geradoras de luz: uma é o próprio meteorito, cujos íons entram em contato com a atmosfera. A outra é o magnésio, que interage com o oxigênio que o converte em um plasma, como se fosse um tubo fluorescente."

Segundo Fletcher "a cada dia existem pelo menos dois meteoritos que entram na atmosfera, apesar de muitos deles serem pequenos demais e se desintegrarem muito rapidamente".

O porta-voz da AEE afirmou que é possível prever este tipo de ocorrência graças às investigações do Centro de Planetas Menores, uma organização internacional que calcula dados de asteroides e cometas em todo o mundo.

"As possibilidades de impacto são realmente pequenas e não há motivos para se preocupar", acrescentou o cientista.

Outro fato que chamou a atenção foi a quantidade de lugares onde pode ser visto.

Além dos locais no Rio Grande do Sul e a capital argentina, Buenos Aires, a luz também foi vista em outros pontos da Argentina como Córdoba, Tucumán, Entre Ríos e outros locais.

A luz também foi vista no Uruguai, em lugares como Rio Negro, Durazno, Paysandú, Colonia e Salto.

César Bertucci, pesquisador do IAFE, disse à BBC que estes fenômenos, apesar de raros, costumam acontecer com maior frequência em períodos onde há chuvas de meteoros.

"Em sua maioria, os meteoritos associados às chuvas de meteoros são objetos de não mais do que alguns centímetros de diâmetro, se desintegram antes de chegar ao solo. Mas alguns fragmentos poderiam chegar à superfície, se tivessem um tamanho maior", afirmou.

"É difícil saber se, neste caso, o objeto efetivamente chegou à superfície sem se desintegrar", acrescentou.