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Sete hinos nacionais suspeitos de plágio

Torcedora argentina ergue a bandeira do país enquanto é tocado o hino antes de jogo - AFP PHOTO / EITAN ABRAMOVICH
Torcedora argentina ergue a bandeira do país enquanto é tocado o hino antes de jogo Imagem: AFP PHOTO / EITAN ABRAMOVICH

27/08/2015 08h15

Hinos nacionais são a "cara musical" das nações, traduzindo em sons a personalidade única de cada país. Pelo menos na definição - na prática, em muitos casos a originalidade acaba ficando em segundo plano.

No livro "Republic or Death! Travels in Search of National Anthems" (República ou Morte! Viagens em Busca de Hinos Nacionais, em tradução literal), o escritor Alex Marshall revela uma série de semelhanças melódicas.

Alguns dos "plágios" têm raízes históricas - melodias tradicionais, compositores desconhecidos. Em outros casos, há quem suspeite de, digamos, excesso de inspiração por parte do compositor.

Em outros casos, melodias tradicionais foram usadas como hinos nacionais durante décadas. A melodia de Auld Lang Syne (que, no Brasil, virou A Valsa da Despedida), por exemplo, chegou a ser hino da Coreia do Sul e das ilhas Maldivas.

Alex Marshall conta que no caso do arquipélago, o poeta que criou a nova letra conheceu a melodia quando ela tocou no relógio de um tio.

Nem o hino brasileiro escapa das críticas. Composto em 1822 por Francisco Manuel da Silva, com letra de Osório Duque Estrada, ela já foi acusado de ser parecido demais com trechos da obra do padre José Maurício Nunes Garcia, um dos maiores compositores clássicos do Brasil.

Confira abaixo alguns dos exemplos de "plágio" encontrados por Marshall.

URUGUAI

O hino uruguaio foi escrito em 1846 por Francisco José Debali, um compositor húngaro que imigrou para o país sul-americano em 1838, aos 47 anos.

A melodia, considerada uma das mais bonitas e empolgantes entre os hinos nacionais, foi composta em 1846 e é usada até hoje.

O problema é que a melodia do hino e um tema da ópera Lucrezia Borgia, do compositor italiano Donizetti, têm uma frase com nada menos que nove notas em comum.

A ópera estreou em Milão, na Itália, em 1833. É possível que Debali tenha assistido a uma apresentação antes de deixar a Europa ou mesmo no Uruguai, já que trechos dela foram executados em Montevidéu em 1841.

Em seu livro, Alex Marshall diz, no entanto, que os defensores de Dibali dizem que, na ópera, o tema é ouvido pela primeira vez quase meia hora depois do início da obra.

A polêmica só veio à tona depois da morte do compositor do hino, de forma que ele jamais teve oportunidade de comentar o assunto.

ARGENTINA

A majestosa introdução do hino argentino, composto por López e Parera, também já foi acusada de ser um tanto parecida com a Sonatina número 4, opus 36, de Clementi, bem como a ária "Non ho culpa", da ópera Idomeneo, de Mozart. No entanto, o trecho é muito curto. Para Marshall, as acusações parecem "exageradas".

BÓSNIA

O hino bósnio foi o resultado de uma competição lançada em 1998 para escolher o tema do recém-criado país, depois da guerra que fracionou a Iugoslávia. Dusan Sestic, bósnio de origem sérvia, ganhou o concurso e enfrentou a ira de outros bósnios e de croatas por sua etnia. Mesmo sérvios - insatisfeitos com a criação do novo Estado - o acusaram de traição.

Para piorar as coisas, em 2009 Sestic foi acusado de ter plagiado a música-tema do filme Clube dos Cafajestes, de 1978.

O escritor Alex Marshall diz que Dusan Sestic se explicou dizendo que pode até ter ouvido a música na sua juventude e admite que ela poderia "ter grudado no meu cérebro".

"Isso é possível. Mas não posso dizer que foi plágio", disse, segundo Marshall.

ÁFRICA DO SUL

Outro exemplo considerado "exagerado" por Marshall é a delicada melodia de Nkosi Sikelel' iAfrika, incorporada ao hino.

Muitos dizem que o seu compositor, Enoch Sontonga, teria se inspirado na melodia de Aberystwyth do compositor galês Joseph Parry.

LIECHTENSTEIN

O hino do pequeno principado encravado entre a Suíça e a Áustria se chama Oben am Jungen Rhein. Apesar do nome e letra diferentes, a melodia é idêntica à do hino britânico, God Save the Queen. Neste caso, não se trata de mera coincidência.

O hino britânico é considerado o pioneiro desde que a sua melodia, tomada de uma música folclórica em 1745, foi usada para comemorar a restauração dos Stuart ao trono. A família não ficou muito tempo no poder, mas a música se transformou em sinônimo de hinos nacionais.

Tanto assim que vários Estados-Nações a adotaram como hino por vários anos. Desde a Dinamarca e boa parte da atual Alemanha à Rússia.

A moda pegou de tal forma que até o Reino do Havaí tinha a sua própria letra para a melodia tradicional.

ESTÔNIA E FINLÂNDIA

Os dois países separados pelo mar Báltico dividem a melodia do hino.

Curiosamente, o autor é um compositor alemão, Fredrik Pacius, que por sua vez teria tomado a melodia emprestada de uma canção de bar do seu país natal, segundo Alex Marshall.

ISRAEL

O compositor do hino israelense, Hatikvah, Samuel Cohen, disse que aproveitou uma melodia folclórica romena para compor o tema em 1888.

No entanto, segundo Marshall, há quem diga que a peça é um plágio de uma música do compositor tcheco Bedrich Smetana.

Em todo o caso, segundo Alex Marshall, existem registros mais antigos na Itália de uma melodia muito semelhante no século 17.