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Entenda escândalo que causou renúncia do presidente da Guatemala

Johan Ordonez/AFP
Imagem: Johan Ordonez/AFP

03/09/2015 11h57

O presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina, renunciou nesta quinta-feira em meio a um escândalo de corrupção após a revelação de um esquema conhecido como La Línea (A Linha).

A renúncia ocorre depois de o Congresso guatemalteco ter retirado a imunidade do presidente, para que Pérez Molina pudesse ser julgado como um cidadão comum. Na quarta-feira, a Justiça do país emitiu uma ordem de prisão contra o presidente. A vice-presidente, Roxana Baldetti, foi presa.

Pérez Molina justificou a renúncia como sendo necessária "para que pudesse enfrentar pessoalmente as acusações de corrupção". Ele disse ainda que a decisão levava em conta o interesse do Estado".

Molina e Baldetti, vinham sendo alvo de protestos pedindo a renúncia de ambos desde abril, quando foi divulgado um relatório com detalhes de um esquema de corrupção envolvendo vários membros do alto escalão do governo.

Os detalhes foram revelados após investigação da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), órgão ligado à ONU e à Justiça guatemalteca; eles se concentraram em 40 casos de pagamento de suborno às autoridades para garantir a entrada no país de mercadorias com isenção fraudulenta do correspondente imposto aduaneiros.

Segundo os investigadores, a "La Línea" cobrava suborno aos empresários em troca da isenção parcial ou total de impostos aduaneiros.

"O contrabando fraudava um país tão necessitado da receita de impostos", disse Iván Velásquez, chefe da comissão da ONU.

Apesar de não ter sido divulgado o total da fraude, as investigações revelaram que em apenas duas semanas o grupo teria recebido 2,5 milhões de quetzales (cerca de US$ 330.000).

A Justiça expediu mandado para a prisão de Juan Carlos Monzón, ex-secretário da vice-presidente e suposto líder da organização criminosa.

'Grupo mafioso'

Baldetti negou envolvimento com a rede de corrupção. "Gostaria de dizer a vocês que nenhuma outra alta autoridade do governo está envolvida nesta estrutura", disse ela numa entrevista coletiva.

Porém, suas declarações não foram suficientes para acalmar a população e, ao final de abril, cerca de 15 mil pessoas ocuparam uma praça no centro da capital para pedir a renúncia de Baldetti e do presidente Pérez Molina.

Em entrevista à BBC Mundo, Arturo Matute, analista da organização International Crisis Group, disse que não esperava a prisão das autoridades.

"Aqui na Guatemala todos sabem que existe um nível altíssimo de corrupção. O povo tem sentido as consequências da ação deste grupo mafioso e achávamos que seria muito difícil fazer algo", disse Matute.

Otto Pérez Molina é acusado de associação ilícita, fraude aduaneira e corrupção passiva.

Pérez Molina se declara inocente e nega que tenha tido qualquer ligação com a rede criminosa.