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"Dilma dá exemplo à Europa ao abrir portas a refugiados", diz Acnur

João Fellet - @joaofellet

Enviado especial da BBC Brasil a Nova York

28/09/2015 17h19

Ao defender que pessoas circulem livremente pelo globo, a presidente Dilma Rousseff deu um exemplo a países europeus que têm fechado a fronteiras a refugiados do Oriente Médio e norte da África, diz à BBC Brasil o representante do Acnur (agência da ONU para refugiados) no Brasil, Andrés Ramirez.

Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta segunda-feira (28), Dilma disse que "em um mundo onde circulam, livremente, mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas".

"Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos. Estamos abertos, de braços abertos para receber refugiados", afirmou a presidente.

Para Ramirez, Dilma fez clara alusão a nações europeias que têm restringido a circulação de refugiados.

"Ela dá um recado a países europeus e, ao mesmo tempo, lidera pelo exemplo ao dizer que o Brasil vai manter suas portas abertas", ele afirma.

No entanto, diz Ramirez, apesar da forte mensagem política de Dilma sobre os refugiados, não é possível saber se a fala será acompanhada por mais recursos para receber e integrar essa população.

Nos últimos anos, milhares de imigrantes e refugiados que ingressaram no Brasil pela Amazônia passaram por abrigos sujos e lotados.

Em São Paulo, onde essa população se concentra, o principal abrigo para estrangeiros é mantido pela Igreja Católica.

Mas o representante do Acnur diz que as declarações da presidente tranquilizam refugiados que foram ou querem chegar ao Brasil, ao sinalizar que o país manterá sua política de abertura.

O discurso também fará com que mais refugiados saibam que o Brasil aceita recebê-los, diz Ramirez.

Segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça, o fluxo de refugiados ao Brasil tem aumentado desde 2011.

Hoje o país abriga 7.289 refugiados de 81 nacionalidades distintas. Os principais grupos provêm da Síria, Colômbia, Angola e República Democrática do Congo.

Segundo o Conare, entre 2011 e agosto deste ano, 2.077 sírios receberam o status de refugiado no Brasil.

O número é superior ao dos Estados Unidos (1.243) e de países no sul da Europa que estão na rota de refugiados e migrantes que buscam as nações mais desenvolvidas do continente.

Recursos para integração

Ramirez, do Acnur, também comentou a proposta do professor da FGV-SP Oliver Stuenkel, que em entrevista à BBC Brasil sugeriu que o país acolha 50 mil refugiados sírios.

Segundo Stuenkel, o governo poderia propor a países que não querem receber refugiados um esquema para financiar o acolhimento deles no Brasil.

O representante do Acnur diz que há precedentes para uma negociação desse tipo, já que o Brasil já recebeu refugiados colombianos que viviam no Equador.

"Foi um gesto de solidariedade com o Equador, um país com 3 milhões de habitantes e 60 mil refugiados reconhecidos."

"Com certeza isso no futuro poderia ser ampliado para outras nacionalidades extracontinentais", diz Ramirez.