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Onda de estupros de crianças provoca revolta na Índia

Indianos protestam após o estupro de duas meninas (2 e 5 anos de idade) em Nova Déli - Sahhad Hussain/AFP
Indianos protestam após o estupro de duas meninas (2 e 5 anos de idade) em Nova Déli Imagem: Sahhad Hussain/AFP

19/10/2015 07h59

Estupros de crianças são epidemia real na Índia

Ela foi encontrada na última sexta-feira (16), em um parque perto de sua casa, na região oeste de Nova Déli, capital da Índia, sangrando muito. A menina tem apenas dois anos e meio de idade. Havia sido sequestrada horas antes por dois homens e, segundo a polícia indiana, estuprada pelo menos uma vez.

No mesmo dia, em outro incidente, uma menina de cinco anos foi estuprada por três homens no leste da cidade, após ser atraída até a casa de um vizinho.

As duas meninas estão em tratamento médico e acredita-se que estejam fora de perigo, de acordo com a polícia.

Na investigação do primeiro ataque, a polícia interrogou moradores da região e prendeu dois rapazes de 17 anos. Outros três homens, suspeitos de participação no segundo ataque, também foram detidos.

Os ataques ocorreram uma semana após uma criança de quatro anos ser encontrada perto de uma linha de trem no norte da cidade. A menina tinha sido estuprada e ferida gravemente com um objeto pontiagudo.

Os estupros motivaram protestos nas ruas e em redes sociais e expuseram a ira e a impotência de uma sociedade em que, segundo organizações de direitos humanos, os estupros de mulheres são uma epidemia. Em 2014, foram mais de 2.000 registros só em Nova Déli. Estima-se que este número seja apenas uma pequena parte dos casos que ocorrem na cidade de mais de 13 milhões de habitantes.

O ministro-chefe de Nova Déli, Arvind Kejriwal, acusou o governo e a polícia de não fazerem o suficiente para proteger as crianças na cidade. Kejriwal criticou o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o governador Najeeb Jung por não proporcionarem segurança adequada.

"Os seguidos estupros de menores são vergonhosos e preocupantes. A polícia de Déli fracassou por completo em prover segurança", comentou Kejriwal em sua conta no Twitter.

A polícia da capital indiana é subordinada ao governo nacional, mas o político considera que o primeiro-ministro deve tomar medidas para conter a impunidade ou transferir o controle da polícia ao Estado.

A chefe da Comissão de Mulheres de Déli, Swati Maliwal, visitou as três vítimas recentes e também criticou duramente as autoridades.

De 11 mil crimes contra mulheres registrados pela polícia de Nova Déli em 2014, apenas nove resultaram em processos.

"Há uma falta total de medo [dos agressores], porque se não há condenações e se as pessoas não pagam o preço pelo que fizeram, como as coisas vão mudar?", afirmou Maliwal à BBC.

Foi na capital onde há três anos, em 16 de dezembro de 2012, um desses ataques mobilizou a opinião pública. Depois de ter ido ao cinema, uma mulher pegou um ônibus com um amigo por volta das 20h30. Seis homens estavam no veículo: cinco adultos e um adolescente. O grupo atacou o homem, e todos se revezaram para estuprar a mulher, antes de atacá-la com um objeto de ferro.

O motorista do ônibus, Mukesh Singh, que garante não ter participado do ataque, embora ainda seja investigado, afirmou sobre o caso: "Uma mulher decente não circula por aí às 21h. Uma jovem é muito mais responsável por um estupro do que um jovem."

A diretora britânica Leslee Udwin entrevistou o motorista para um documentário que a BBC 4 veiculou neste ano. E também conversou com Gaurav, um homem que tinha estuprado uma menina de cinco anos. Questionado sobre como poderia ter atacado alguém de altura menor do que seus joelhos, ele respondeu: "Era uma mendiga. Sua vida não tinha valor."