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Conheça os britânicos que se preparam para o fim do mundo

O terapeuta motivacional Peter Stanford enche seu bote inflável em uma área rural do condado britânico de Bedfordshire, na Inglaterra - BBC
O terapeuta motivacional Peter Stanford enche seu bote inflável em uma área rural do condado britânico de Bedfordshire, na Inglaterra Imagem: BBC

Benjamin Zand

Do programa Victoria Derbyshire

27/10/2015 11h25

Próximo a um canal em uma área rural do condado britânico de Bedfordshire, Peter Stanford - que diz trabalhar como terapeuta motivacional - está enchendo sua canoa inflável.

Ela é o meio de transporte escolhido por Sanford para escapar do que chama de "situação apocalíptica". De uma crise financeira a uma repetição dos violentos distúrbios nas ruas de Londres em 2011.

"Não viverei tenso à espera desse tragédia", explica.

Stanford espera pelo pôr do sol para treinar uma rotina de fuga. À noite, segundo ele, seria mais fácil escapar, em especial para não ser visto por outras pessoas que possam querer roubar suas coisas. Já comprou até uma segunda canoa para que o filho e a ex-mulher também escapem.

"Temos estratégias e mesmo um lugar para nos encontrarmos", diz Stanford.

Sua decisão de se tornar um prepper (indivíduo que se prepara para um grande catástrofe) foi tomada há 20 anos, depois de conversas com amigos militares que tinham servido em partes do mundo destruídas pela guerra.

O militarismo é tema recorrente no discurso prepper. Também, em Bedfordshire, Lincoln Miles tem em sua fazenda o que diz ser a primeira loja especializada para a "tribo" na Europa. Vende tudo, de balestras a roupas que supostamente protegem o usuário dos efeitos de um ataque nuclear.

"Abri a loja para atender à demanda (por esse tipo de produto)", explica Miles.

É difícil saber quantos preppers há no Reino Unido. A maioria mantém suas atividades em segredo. Mas a internet está repleta de grupos de discussão sobre o assunto e que inclui guias detalhados sobre preparativos e providências.

Canais - BBC - BBC
A rede de canais britânica é vista por Sanford como ideal para se locomover
Imagem: BBC


A loja de Miles oferece vários tipos de facas - mas a posse de facas ou lâminas é controlada no Reino Unido, o que poderia colocar muitos preppers em maus lençóis com a polícia. Mas o item particularmente controverso da loja é a bandeira confederada usada pelas tropas do sul na Guerra Civil Americana.

É um símbolo associado a racismo e ao passado escravocrata americano, mas que para o fazendeiro é apropriado para simbolizar a causa dos que se preparam para o apocalipse.

"É um símbolo de liberdade e de distanciamento do governo. De como você só pode confiar em sim mesmo, ninguém mais", justifica Miles, que também tem a bandeira confederada tatuada no braço.

O movimento prepper é mais forte nos Estados Unidos, e baseado em ideias de autossustentabilidade e liberdade. Algo com que Miles se identifica.

"Temos aparelhos que impedem o governo de rastreá-los. É um fato que o governo está rastreando nossas comunicações".

A ideia de "cada um por si" é recorrente no mundo dos preppers, que parecem muito mais preocupados com a sobrevivência individual que a da comunidade como um todo.

Nas florestas de Hertfordshire, Michael Sanderson, conhecido como Roach, mostra seu carro adaptado, que inclui uma tenda no teto, grande o suficiente para abrigar uma família, além de uma cozinha acoplada em que ele está fritando linguiças.

"É uma questão de viver com simplicidade. Não quero que o mundo acabe e que coisas ruins aconteçam com boas pessoas. Mas não tenho como controlar o mundo", diz Roach.

Balestra - BBC - BBC
A loja do fazendeiro Lincoln Miles vende balestras
Imagem: BBC


Ele é um ex-militar que passou a maior parte de sua carreira trabalhando como paramédico. Diz ter visto coisas que muitos não gostariam de testemunhar. As experiências o "empurraram" para o mundo prepper.

"Não sou paranoico. Estamos nos preparando para tudo: o que aconteceria se você perdesse seu emprego amanhã? Você teria comida e dinheiro o suficiente para cuidar de sua família?"

O apelido Roach vem de seu canal no YouTube, em que compartilha exemplos de seus preparativos com outros preppers ao redor do mundo. Ele acredita que quem não se prepara para catástrofes é ingênuo.

"Quando as pessoas dizem não acreditarem que eu seja um prepper, respondo: 'Não acredito que você não seja'. Subestimamos o quão rápido as coisas podem se deteriorar".

Roach admite que algumas de suas práticas podem ser exageradas aos olhos de muitos, mas argumenta que muita gente é prepper sem saber.

"Se você junta dinheiro no banco para uma emergência, você é prepper. Se você decide que se prepara para o futuro, isso é prepping".