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Egito descarta ação terrorista em tragédia no Sinai

01/11/2015 07h52

Uma investigação está em curso após a queda de um avião de passageiros russo no Egito neste sábado (31), que causou a morte das 224 pessoas a bordo.

O primeiro-ministro do Egito, Sharif Ismail, afirmou que uma falha técnica foi a causa mais provável do acidente e descartou a reivindicação de autoria feita por militantes do grupo extremista autodenominado Estado Islâmico.

No entanto, três companhias aéreas - Emirates, Air France e Lufthansa - decidiram suspender seus voos sobre a Península do Sinai até obterem mais informações sobre as causas.

A Rússia passa por um dia de luto nacional neste domingo após o pior desastre aéreo da história do país.

As duas caixas-pretas do avião já foram localizadas e enviadas para análise. Mais de 160 corpos já haviam sido recuperados na manhã de domingo e enviados para o Cairo para identificação.

Segundo a repórter da BBC no Cairo Sally Nabil, o acidente representa um revés significativo para a indústria do turismo no Egito, que já lutava para se recuperar após a instabilidade política recente no país.

O Airbus A321, operado pela companhia russa Kogalymavia sob a bandeira Metrojet, caiu na manhã de sábado, pouco após decolar do resort egípcio de Sharm el-Sheikh para a cidade russa de São Petersburgo.

O ministro da Aviação do Egito, Hossam Kamal, disse que não houve problemas no avião durante o voo, o que contradiz relatos anteriores que indicavam que o piloto havia solicitado permissão para um pouso de emergência.

Uma autoridade egípcia havia afirmado mais cedo no sábado que o piloto havia relatado problemas técnicos antes de a aeronave perder contato com o controle aéreo.

Mulher do copiloto

Na Rússia, a mulher do copiloto do avião, Sergei Trukhachev, afirmou que o marido havia reclamado das condições da aeronave.

Natalya Trukhacheva disse à rede estatal NTV que a filha do casal havia conversado com o pai antes de o avião deixar a cidade de Sharm el-Sheikh.

"Ele reclamou antes do voo que a condição técnica da aeronave deixava muito a desejar", afirmou.

Investigadores russos e franceses se juntaram à equipe egípcia que apura o acidente, que também conta com especialistas da Airbus, empresa que tem sede na França.

Outra equipe russa também atua no local do acidente para ajudar na remoção de corpos, segundo relatos da imprensa russa.

Uma investigação criminal foi aberta na Rússia contra a Kogalymavia por "violação de normas de voo e de preparação", informou a agência russa de notícias Ria. Houve buscas em sedes da empresa.

A porta-voz da Kogalymavia Oksana Golovina reiterou que a aeronave, de 18 anos de funcionamento, estava "100% segura para voar", e informou que o piloto tinha 12 mil horas de voo.

Reivindicação de atentado

Na região egípcia do Sinai, onde há ação de grupos radicais islâmicos, militantes aliados ao Estado Islâmico reivindicaram a derrubada do voo KGL 9268 por meio de comunicados em redes sociais.

Mas o primeiro-ministro do Egito, Sharif Ismail, descartou essa possibilidade. Ele afirmou que especialistas confirmaram que um avião não poderia ser abatido na altitude em que voava o Airbus A321.

O ministro dos Transportes da Rússia, Maksim Sokolov, afirmou à agência de notícias Interfax que "tais relatos não podem ser considerados verdadeiros". Não há provas de que o avião tenha sido abatido, disse.

A autoridade de avião civil do Egito informou que a aeronave estava a uma altitude de 9.450 metros quando desapareceu.

Especialistas em segurança afirmam que um avião nessa altitude estaria fora do alcance de lançadores portáteis de mísseis terra-ar, armamento que militantes islâmicos no Sinai possuem.

Contudo, a companhia aérea alemã Lufthansa informou que iria evitar voar sobre a Península do Sinai "enquanto a causa do acidente não for esclarecida". Na noite de sábado, a Air France-KLM e a Emirates tomaram a mesma medida.

Familiares de vítimas

Um hotel perto do aeroporto de São Petersburgo se tornou um ponto de encontro para familiares dos passageiros do voo 9268. Há equipes médicas no local, e um padre católico ortodoxo. Alguns parentes cederam amostras de DNA para ajudar na identificação dos corpos.

Equipes de investigação e policiais especializados em contenção de protestos também circulam pelo local.

Parentes deixam com olhos marejados o quarto onde recebem informações oficiais.

A aeronave levava 217 passageiros, incluindo 25 crianças, segundo autoridades russas de transporte. Havia ainda sete tripulantes.

Autoridades do Egito afirmaram que 213 passageiros eram russos e quatro, ucranianos, mas o governo da Rússia indicou que ao menos uma das vítimas era de Belarus.

Um oficial que não quis se identificar descreveu uma "cena trágica" no local do acidente, com vítimas ainda atadas aos assentos. O avião aparentemente se partiu no meio, afirmou o oficial à agência de notícias Reuters, e uma parte se incendiou, e outra atingiu uma pedra.