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Como a chuva salvou a vida de um condenado a morte no Paquistão

25/11/2015 09h26

M Ilyas Khan

Da BBC News, no Paquistão



Basit está paralisado desde 2010 e as regras da prisão obrigam que as pessoas fiquem de pé para serem enforcadas (Foto: Reprieve)

O paquistanês Abdul Basit, que é paraplégico, foi condenado à morte por homicídio no Paquistão e estava a poucos minutos de ser enforcado em setembro quando a execução da pena foi cancelada.

Basit já tinha se despedido da esposa e da mãe e entregue seu testamento ao carcereiro. Antes da madrugada do dia 22 de setembro, ele recebeu ajuda para vestir o macacão preto, obrigatório para condenados à morte, e levado em sua cadeira de rodas para o local de execução.

Mas no meio do caminho, um carcereiro chegou às pressas dizendo que os diretores da prisão queriam aguardar pelo fim da chuva antes da execução.

O detento e os guardas esperaram em um abrigo de metal. A chuva fazia barulho no telhado até que, depois de um tempo, ela diminuiu e parou. E voltou a cair.

Isto se repetiu várias vezes. Por duas horas ele esperou pela execução, sentado na cadeira de rodas, braços e pulsos presos para trás, no encosto da cadeira.

Finalmente veio a ordem de adiamento do enforcamento.



Ficar de pé

Se Basit, condenado por matar a tiros o tio de sua uma amante, em um complicado caso envolvendo adultério e os rigoroso códigos de honra familiar do Paquistão, conseguisse ficar em pé sozinho, ele já teria sido executado.

Ele só sobreviveu até agora por ter contraído meningite tuberculosa e, em seguida, ficado paralítico da cintura para baixo, em janeiro de 2010.

As regras do sistema prisional do Paquistão determinam que a corda e o nó usados em enforcamentos precisam ter um comprimento determinado para garantir a morte instantânea do prisioneiro, sem decapitação ou estrangulamento. Para isto, pressupõe-se que o condenado possa ficar de pé.

No dia 21 de setembro passado, dias depois de a ordem de execução ter sido expedida, advogados da organização Justice Project Pakistan (JPP) pediram um indulto, alegando que ele não poderia ser enforcado, mas a Suprema Corte rejeitou o pedido.



Abdul Basit, teria 'se aproximado de Alá' enquanto aguarda nova data da execução (Foto: BBC)

No entanto, a determinação da Suprema Corte afirmava que os carcereiros teriam de "obedecer às regras relevantes".

A JPP usou esse detalhe para tentar convencer as autoridades prisionais de que não poderiam enforcar um cadeirante. Eles acreditam que o argumento parece ter funcionado, pelo menos para adiar a execução marcada para o dia seguinte, 22 de setembro.

Segundo uma advogada da JPP, Basit relatou que os carcereiros não demonstraram nenhuma pressa para executá-lo.

"Ele estava acordado desde antes do nascer do sol, rezando, mas não tinha recebido as roupas para o enforcamento, até que, perto das 5h30 da manhã, ele pediu pelas roupas pois estava ficando tarde", disse a advogada.

Os funcionários tinham construído um banco alto de madeira onde ele ficaria apoiado durante o enforcamento. O banco cairia. Em seguida, eles decidiram que esta estratégia não funcionaria.

Basit contou que, nas duas horas de espera, ele perguntou algumas vezes a razão de não ser executado, já que a chuva tinha parado.

Uma semana depois, a esposa e a mãe dele o visitaram na prisão e ele mostrou as marcas da corda com qual tinha sido amarrado à cadeira de rodas.

A mulher afirma que a espera e o adiamento da execução mudaram Basit.



"Ele não era assim antes. Ele era uma pessoa mundana e materialista, mas agora ele está mais perto de Alá."

A execução foi adiada apenas "temporariamente" e depende de apenas dois fatores: uma mudança nas regras da prisão, que pode abrir caminho para a execução, ou um perdão presidencial.