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"Cheguei a ministrar a extrema-unção", diz padre que testemunhou "milagre" brasileiro de Madre Teresa

Elmiran Ferreira disse que presenteou mulher de paciente em estado terminal com relíquia de religiosa, que foi colocada embaixo de travesseiro do marido; sua recuperação foi tida como "cientificamente inexplicável" - Diocese de Santos
Elmiran Ferreira disse que presenteou mulher de paciente em estado terminal com relíquia de religiosa, que foi colocada embaixo de travesseiro do marido; sua recuperação foi tida como "cientificamente inexplicável" Imagem: Diocese de Santos

Luís Barrucho

Da BBC Brasil em Londres

18/12/2015 11h55

Em dezembro de 2008, o padre Elmiran Ferreira deixou sua pequena paróquia, em São Vicente, na Baixada Santista, para ministrar a extrema-unção a um paciente em estado terminal.

"Ele falava coisas sem nexo e já não reconhecia mais ninguém", lembra Ferreira à BBC Brasil.

À época com 35 anos, o paciente estava passando a lua de mel em Gramado (RS) quando teve de ser levado às pressas de volta a Santos. No hospital, ele foi diagnosticado com hidrocefalia (acúmulo de líquido dentro do crânio) e com oito abscessos espalhados pelo cérebro. Seu quadro era agravado pela saúde debilitada, uma vez que havia sido submetido a um transplante de rim anos antes.

"As esperanças eram mínimas. Cheguei a administrar-lhe a unção dos enfermos", acrescenta o padre.

Mas, inexplicavelmente, o homem, cuja identidade é mantida em segredo, sobreviveu, surpreendendo, inclusive, a equipe médica responsável por seu tratamento.

O caso foi oficializado nesta sexta-feira como o segundo milagre atribuído a Madre Teresa de Calcutá, abrindo espaço para a canonização da freira. A cerimônia será realizada em setembro de 2016, de acordo com a Igreja Católica.

Ferreira diz ter sido procurado pela mulher do paciente, que, muito abalada, pediu seu auxílio. Segundo ele, a família costumava frequentar as missas em sua igreja.

"Eu disse a ela que deveríamos orar e pedir a Deus por um milagre. Também lhe entreguei uma relíquia de Madre Teresa de Calcutá, que vinha com um santinho da madre, uma oração e um pedaço de seu hábito. Ela colocou o objeto embaixo do travesseiro do marido", lembra.

"Foi sem dúvida um milagre divino, por intermédio de Madre Teresa. Rezamos muito a ela", acrescenta.

O padre então relatou o caso às freiras que lhe haviam dado a relíquia. Foi a origem do processo, de cerca de 400 páginas, que resultaria na confirmação do milagre atribuído a Madre Teresa.

Meses depois, um Exame da Ordem Médica foi feito. Um colegiado formado por sete médicos decidiu, por unanimidade, que a cura da doença era "cientificamente inexplicável".

Além de Ferreira, outras 14 testemunhas foram ouvidas por representantes do Vaticano, que foram a Santos em junho deste ano para recolher documentação e provas da graça divina.

O padre diz que o milagre renovou a fé do paciente.

"Ele agradece até hoje pela graça divina. E ficou muito feliz por ter sobrevivido".

Madre Teresa

De origem albanesa, Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) nasceu na Macedônia com o nome de Anjezë Gonxhe Bojaxhiu. Em 1950, fundou sua própria congregação, as Missionárias da Caridade, e se dedicou aos pobres e doentes especialmente na cidade de Calcutá, no leste da Índia.

Em 1979, por causa de seus trabalhos humanitários, ela recebeu o prêmio Nobel da Paz.

Considerada por muitos a "missionária do século 20", Madre Teresa morreu em 5 de setembro de 1997. Seu enterro, em Calcutá, foi acompanhado por milhares de fiéis, além de chefes de Estado e governantes de todo o mundo.

Em 2003, a freira foi beatificada -- o último passo antes da canonização -- pelo então papa João Paulo 2º em Roma.