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O que o Irã tem a ganhar com fim de sanções internacionais

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, encontra-se com o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, em Viena - Kevin Lamarque/AP
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, encontra-se com o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, em Viena Imagem: Kevin Lamarque/AP

16/01/2016 20h59

As sanções internacionais contra o Irã foram revogadas após a confirmação de que o país cumpriu suas obrigações no acordo nuclear assinado com seis potências mundiais em julho.

Após uma reunião com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena, na Áustria, a chefe de política externa da União Europeia, Federica Mogherini anunciou o fim das sanções econômicas, que deverão liberar bilhões de dólares em bens do Irã em outros países e permitir que o petróleo iraniano seja vendido internacionalmente.

"Como o Irã cumpriu seus compromissos, hoje, sanções econômicas e multilaterais financeiras relacionadas ao programa nuclear serão retiradas, como prometido", afirmou.

Mogherini disse ainda que o acordo é uma prova de que esforços diplomáticos podem contribuir com a estabilidade da região e que o resultado é "uma mensagem forte e encorajadora que a comunidade internacional deve ter em mente para tornar o mundo um lugar mais seguro".

Horas antes, a AIEA afirmou que seus inspetores verificaram que o Irã deu os passos necessários para reduzir seu programa nuclear, de modo a dificultar a produção de armas nucleares a partir do enriquecimento de urânio, abrindo caminho para o fim das sanções.

Em pronunciamento, o secretário de Estado americano, John Kerry, confirmou a implementação do acordo, mas afirmou que o Irã continuará sendo observado nos próximos anos. Ele disse ainda que o fim das sanções irá expandir "o horizonte de oportunidades do povo iraniano".

"Hoje, como resultado das nossas ações desde julho os Estados Unidos, nossos amigos e aliados no Oriente Médio e em todo o mundo estão mais seguros porque a ameaça de uma arma nuclear foi reduzida", afirmou.

As sanções custaram ao Irã mais de US$ 160 bilhões (R$ 646 bilhões) em rendimentos de petróleo desde 2012. O país tem a quarta maior reserva de petróleo do mundo e a volta do produto ao mercado internacional deve reduzir ainda mais seus preços.

'Vitória gloriosa'

O diretor-geral da AIEA Yukiya Amano disse que é "um dia importante para a comunidade internacional".

Pelo Twitter, o presidente iraniano Hassan Rouhani parabenizou a nação e disse "agradecer a Deus por essa bênção". Escrevendo em farsi, ele disse que o anúncio se trata de uma "vitória gloriosa" para o país e que "humildemente" cumpriu o que prometeu ao assumir o cargo.

O governo iraniano sempre afirmou que seu programa nuclear era pacífico, mas opositores do acordo - como alguns republicanos americanos e o governo israelense - disseram que ele não fazia o suficiente para garantir que o país não conseguiria desenvolver uma bomba nuclear.

Críticos afirmam que o fim das sanções significará que o Irã terá mais dinheiro - e consequentemente armas - para fornecer aos grupos armados que financia na região, como as milícias xiitas no Iraque e o Hezbollah, grupo libanês que vem também dando apoio ao aliado iraniano na Síria, Bashar Al-Assad. 

jornalista irã - Vahid Salemi/AP Photo - Vahid Salemi/AP Photo
Jornalista Jacob Rezaian foi liberado neste sábado, foto de 2013
Imagem: Vahid Salemi/AP Photo


Horas antes do anúncio deste sábado, o governo do Irã libertou o jornalista do Washington Post Jason Rezaian e outros três prisioneiros americanos em uma troca com os Estados Unidos.

Rezaian, de 39 anos, havia sido preso por acusações como espionagem no último mês de novembro.

Os Estados Unidos afirmaram ter oferecido clemência a sete iranianos presos no país por violações da sanção. Um quinto americano, Matthew Trevithick, também foi libertado no sábado.

Termos do acordo

O acordo, assinado em julho com o chamado grupo P5+1 (formado por Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China e Rússia mais a Alemanha) estabelece que:

O Irã poderá ter 6.104 centrífugas instaladas - eram 20 mil - e apenas pouco mais de 5 mil delas irão realmente enriquecer urânio. Todos as centrífugas em funcionamento serão modelos menos avançados. O resto será armazenado sob a supervisão de inspetores da AIEA);O Irã teria que reduzir seu estoque de urânio de baixo enriquecimento em 98% e mantê-lo assim por 15 anos. Para cumprir o acordo, o país enviou toneladas do material para a Rússia;O urânio do país também terá que ser mantido em um nível de 3% a 4% de enriquecimento - enriquecido a 90% o material pode ser usado para produzir armas nucleares;Não haverá enriquecimento na instalação subterrânea de Fordow por cerca de 15 anos; Além disso, a instalação de Natanz se tornará um centro de pesquisa e desenvolvimento;Inspetores da AIEA continuarão tendo acesso não apenas às principais instalações nucleares, mas também à rede de fornecimento do programa nuclear do Irã, a minas e usinas de urânio e a locais suspeitos de atividades clandestinas de enriquecimento em qualquer lugar do país;O reator de água pesada em Arak, que muitos temiam poder fornecer ao Irã condições para converter urânio em plutônio - para uma potencial bomba -, será reconstruído para que não possa ser capaz de produzir plutônio. Nenhum reator do tipo poderá ser construído por 15 anos.O Irã não se envolverá em pesquisas que possam contribuir para o desenvolvimento de uma bomba.

Em troca:

Sanções dos EUA e da União Europeia relacionadas ao programa nuclear serão suspensas, apesar de um prazo não ter sido divulgado;O Irã não terá que fechar completamente nenhuma de suas instalações nucleares;Após o fim das sanções, o país sairá com a base de uma significativa indústria nuclear.No entanto, sanções não relacionadas ao programa nuclear - envolvendo denúncias de apoio a extremistas e abusos de direitos humanos no Irã, por exemplo - não serão afetadas e podem continuar em prática.