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Quem é o grupo responsável pelo ataque ao hotel em Burkina Fasso?

Veículos são incendiados durante ataque a hotel em Uagadugu, capital de Burkina Fasso - Reuters
Veículos são incendiados durante ataque a hotel em Uagadugu, capital de Burkina Fasso Imagem: Reuters

16/01/2016 11h14

Um grupo radical islâmico formado há apenas três anos está por trás de dois atentados a hotéis no oeste da África.

O grupo, que se autodenomina Al-Murabitoun, está baseado no norte do Mali (deserto de Saara) e possui combatentes leais ao militante veterano argelino, Mokhtar Belmokhtar.

Em novembro de 2015, o al-Murabitoun reivindicou a autoria do ataque ao hotel Radisson Blu na capital do Mali, Bamako.

Na ocasião, segundo um comunicado divulgado pela agência de notícias al-Akhbar, da Mauritânia, o atentado foi realizado pelo grupo em associação à al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM, na sigla em inglês).

Já na noite desta sexta-feira, um outro comunicado, também divulgado pela AQIM, informou que o mesmo grupo se responsabilizava pela tomada do Splendid Hotel na capital de Burkina Fasso, Uagadugu.

Segundo autoridades burquinenses, pelo menos 26 pessoas de 18 nacionalidades diferentes teriam morrido.

Belmokhtar, um comandante militar que lutou junto a forças soviéticas no Afeganistão na década de 80, foi no passado uma das lideranças da AQIM. Mas ele abandonou o grupo no final de 2012 após divergências internas.

Pouco tempo depois, em janeiro de 2013, Belmokhtar ganhou fama mundial ao ordenar um ataque à planta de gás In Amenas na Argélia.

Sob seu comando, atiradores invadiram o local e fizeram inúmeros funcionários reféns. Quando as forças do governo retomaram o controle da planta, três dias depois, 40 funcionários (e 29 extremistas) haviam sido mortos.

No fim daquele ano, Belmokhtar levou seus homens --um número desconhecido de tuaregues, árabes e outros combatentes, chamados na ocasião de 'Brigada de Homens Mascarados' ? a aderir um novo grupo, batizado de Al-Murabitoun ("Os Sentinelas", em tradução livre do árabe).

O Al-Murabitoun teria então se fundido à AQIM. A informação, no entanto, não pôde ser verificada pela reportagem da BBC.

Mas se tiver realmente ocorrido, a aliança reveleria uma reaproximação entre Belmokthar e líderes rivais no Saara, refúgio de uma série de grupos radicais armados.

Vácuo de liderança

Embora Belmokhtar tenha anunciado o estabelecimento do Al-Murabitoun, não ficou claro imediatamente se ele havia se tornado líder do grupo.

O Al-Murabitoun, por sua vez, foi resultado de outra fusão, com um grupo chamado Movimento para a Unidade e Jihad no Oeste da África (Mujao, na sigla em inglês).

O Mujao era liderado por Ahmed Ould Amer, um tuaregue de origem mauritânia, conhecido pelo nome de guerra de Ahmed Telmissi ou Tilemsi.

Nenhum nome foi divulgado no comunicado de fundação de Al-Mirabitoun. Posteriormente, a França afirmou que o líder do grupo era um terceiro homem, Abu Bakr al-Nasri, que seria egípcio.

Nasri teria sido morto por forças francesas no Mali em abril de 2014, assim como Tilemsi, no final daquele ano.

Um comunicado anunciando Belmokthar como líder do grupo, cuja veracidade a BBC não pôde verificar, estabeleceria uma conexão entre o Al-Murabitoun e a Al-Qaeda.

Belmokhtar foi declarado morto inúmeras vezes, a última vez por um ataque aéreo realizados pelos Estados Unidos na Líbia em junho do ano passado.

No entanto, sua morte nunca foi confirmada.

'Estado Islâmico'

A suposta aliança foi rapidamente colocada em xeque meses atrás quando um porta-voz do Mujao jurou lealdade ao líder do auto-denominado 'Estado Islâmico' (EI), acrescentando que falava em nome do Al-Murabitoun.

Mas um outro comunicado atribuído a Belmokhtar negou a aliança com o 'EI' e reafirmou lealdade ao líder da al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri. A BBC também não pôde confirmar a autencidadade desse outro comunicado.

Desde então, o Al-Mirabitoun reivindicou a autoria do ataque ao hotel na cidade de Sevare, no centro do Mali, em agosto do ano passado, no qual 19 pessoas foram mortas.

O grupo também informou que realizou um ataque em Bamako meses antes, em março, quando cinco pessoas foram mortas em um restaurante.